Museu recupera histórias não contadas do futebol feminino
Museu do Impedimento relata o período em que o futebol feminino foi proibido no Brasil e já descobriu time do Corinthians na década de 1970
Em dia de abertura da Copa do Mundo de futebol feminino, muita gente ainda não conhece a história da modalidade no Brasil. Por exemplo, pouco se sabe que a atuação de mulheres no futebol foi impedida por lei. Entre 1941 e 1979, um decreto impediu essa prática por não ser adequada aos corpos femininos.
"Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza", dizia o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941. No entanto, mesmo com a proibição, as mulheres ocuparam espaços na várzea e em eventos de caridade pelo direito de jogar.
Durante o período de proibição, no entanto, ainda houve a formação de times e a participação de mulheres no futebol. Uma parceria do Google Arts and Culture com o Museu do Futebol de São Paulo busca resgatar essas histórias com o projeto Museu do Impedimento
"Parte do material que já veio diz respeito a um fato que a gente não conhecia, que é um time do Corinthians em 1977, porque nesse ano teve um time feminino e uma das jogadoras trouxe para a gente essa história", conta Daniela Alfonsi, diretora técnica do Museu do Futebol. De acordo com Daniela, a jogadora revelou que a equipe chegou a ter patrocinadores, mas o projeto acabou quando foram lembrados de que a prática ainda era proibida no Brasil.
Impedimento
"Até bem pouco tempo atrás, a gente não conhecia a história desse decreto, que aconteceu não só no Brasil mas em países como Inglaterra (banido em 1921, decisão revertida em 1969), Alemanha (proibido pela federação em 1955 e retomado em 1970) e França (proibido em 1932 e liberado em 1975)", explica Lauren Pachaly, diretora de marketing do Google Brasil. "Nós queríamos retratar essa história das mulheres que mantiveram o esporte ativo", afirmou.
O Museu do Impedimento surgiu da necessidade de se ter uma plataforma para recolher e contar essas histórias. Quem tiver fotos, documentos, artigos, áudios ou depoimentos pode enviar o material através do site do projeto e, após passar por uma curadoria, esse material ficará disponível online na plataforma Google Arts & Culture. Segundo ela, o objetivo principal é que o público tenha acesso a essas informações.
"Durante a proibição, todos os relatos que a gente consegue encontrar na imprensa e das próprias jogadoras tem esse ciclo: alguém tem a iniciativa, o time começa a jogar, começa a atrair público e imprensa, mas alguém lembra que não pode e acaba tudo, então não tem continuidade alguma", aponta Daniela.
Curadoria
De acordo com Lauren, existe uma dificuldade em se ter acesso a esses materiais, e o Google Arts & Culture tem interesse em mudar essa questão. Após a coleta, que acontece até o dia 23 de junho, o Museu do Futebol fará a catalogação e curadoria do conteúdo.
Daniela Alfonsi, diretora técnica do Museu do Futebol, explica os obstáculos para a divulgação do futebol feminino no Brasil. "Quando a gente compara o que é a exposição midiática com o futebol masculino, o futebol feminino sempre esteve muito aquém, e isso prejudica a pesquisa."
Segundo ela, a falta de cobertura jornalística e de registros pessoais deixa ainda mais difícil o trabalho de reunir esse material em uma exposição. "Tem uma batalha muito grande para a gente conseguir aumentar o número de referências e informações sobre o futebol praticado por mulheres."
Resultado
Além de ficar disponível on-line, o acervo do Museu do Impedimento também será integrado ao Museu do Futebol. A divulgação será em forma de um acervo digital compartilhado para uma fácil reprodução. "Tudo que está entrando vai lançar exposições virtuais no Google Arts & Culture, e também poder ser pesquisado por todo mundo", afirmou Daniela.