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Nova geração do tênis nacional já viaja pelo mundo e ensaia 'vida de adulto' no profissional

Talentosos meninos e meninas de diferentes regiões do País brilham em torneios juvenis enquanto em meio a rotinas que misturam competições e treinos com aulas e provas na escola

29 set 2024 - 09h11
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A nova geração do tênis brasileiro já ensaia seus primeiros aces e winners no mundo dos profissionais. Mais precoce, meninos e meninas de talento de diferentes regiões do País estão brilhando nos torneios juvenis enquanto ensaiam uma "vida de adulto" entre os profissionais, em meio a rotinas que misturam treinos e viagens pelo mundo com aulas e provas na escola. Em comparação às gerações anteriores, a atual conta com um volume maior de adolescentes-tenistas, com apoio mais sólido e acompanhamentos técnico, físico e psicológico desde cedo.

A nova geração é encabeçada por duas meninas: a paulista Nauhany Silva e a potiguar Victoria Barros, ambas de 14 anos. O goiano Luís Augusto Miguel, de 15 anos, e o cuiabano Livas Damazio, de 14, são os principais representantes da ala masculina. O grupo feminino tem ainda a gaúcha Pietra Rivoli e paranaense Flávia Cherobim, a mais nova delas, com apenas 13 anos.

"Faz tempo que a gente não tem uma geração de jovens tão boa", diz Léo Azevedo, técnico brasileiro com larga experiência em trabalho de base no Reino Unido, Estados Unidos e Espanha. "No caso das meninas, nós temos hoje duas sub-15 que estão entre as melhores do mundo na idade delas, que é a Nauhany e a Victoria. Temos o Luís Augusto, que está entre os melhores do mundo na idade dele. A Pietra está entre as melhores da América do Sul na idade dela. Essa nossa geração é muito boa."

Os aplicativos das escolas ajudam os adolescentes-tenistas nos estudos. "Estou no primeiro ano do Ensino Médio. Eu concilio bem os estudos com o meu tempo livre. Uso um aplicativo para estudar. Num torneio na Colômbia, eu jogava pela manhã e estudava à tarde", conta Guto.

Fora das viagens, a rotina também é puxada. "Eu treino de manhã e de tarde, às vezes na quadra ou treino físico mesmo. Faço uma parada para almoçar ao meio-dia, volto às 14h. Chego em casa por volta de 17h30 e vou estudar. Às 20h30, já estou na cama. Eu gosto de dormir", diz Naná, com o sorriso ainda de criança.

A caçula deste grupo é Flávia Cherobim, de apenas 13 anos. Mais jovem sul-americana a pontuar no ranking juvenil, a tenista de Curitiba passou pela natação e pela ginástica após se encantar com o tênis aos seis anos. "Sempre tive facilidade com os esportes. Eu vi minha irmã jogando e gostei", conta Flávia ao Estadão.

Assim como os demais, Flávia já conta com aparato profissional ao seu redor, como técnico, acompanhamento psicológico, além do apoio da família. No ano passado, sua preparação passou a contar até com aulas de yoga. "O equilíbrio mental precisa ter a mesma atenção que damos para as questões técnicas e táticas. Por isso, a Flávia começou a fazer yoga no ano passado", explica o pai da atleta, Versione Cherobim.

Sem pular etapas

Os pais e as mães dos atletas dividem a mesma preocupação: não abreviar a infância e a adolescência em meio à vida de tenista. "Desde quando brincávamos de bexiga na sala de casa, já pensando nos movimentos do tênis, eu pensava na diversão dela. Ela só tinha dois aninhos. E se divertia. E é o que ela faz hoje: ela se diverte em quadra", diz Paulinho Silva, pai e ex-treinador de Naná.

Para Léo Azevedo, a diversão em quadra não pode ser perdida pelos tenistas juvenis. "O tênis precisa ser lúdico, principalmente nesta idade. Tem que ser prazeroso, divertido. Os grandes tenistas são assim: eles se divertem em quadra. Dá para ver isso no Carlos Alcaraz, por exemplo. Era assim com o Federer, o Nadal."

Léo acompanha de perto a evolução de Naná, Guto e Pietra, assim como já aconteceu com Victoria. Em comum, eles têm o Rede Tênis Brasil, entidade sem fins lucrativos que vem fazendo grande investimento na modalidade nos últimos anos. Léo é o head coach do projeto, que contou com Victoria numa versão anterior.

Alguém vai despontar no futuro?

Tanto Léo quanto Fernando Meligeni são cautelosos quanto ao futuro. Para Azevedo, marcar pontos no ranking, como já fez Naná, não a torna uma profissional neste momento. "Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional porque ser profissional é viver do tênis, ter dedicação exclusiva. A Naná ainda estuda, é adolescente, faz várias coisas. Precisa ser assim. Ser profissional é se dedicar 100% àquilo que você faz. Definir ela e os demais como profissionais tira aquela parte lúdica, tão importante nesta idade."

Meligeni se mostra otimista quanto ao futuro, sem abandonar a cautela com as previsões sobre jogadores de forma individual. "Nunca estive tão esperançoso. Hoje temos um cenário tenístico brasileiro muito melhor do que tínhamos 10 anos atrás. Se lá atrás, com muito menos estrutura e recursos, conseguimos trazer Thiago Monteiro, Thiago Wild, a Bia, a Laura para o Top 100 do ranking, por que não acreditar que algum destes meninos e meninas vão furar a bolha?", questiona. "Mas precisamos preservar nossos atletas promissores em termos de expectativa."

Na avaliação do ex-tenista, a receita do sucesso para o tênis brasileiro é o trabalho em grupo, como fizeram outros países. "Precisamos de atletas e dirigentes generosos, comprometidos e competentes. Não adianta o tenista achar que vai chegar sozinho, as grandes escolas de tênis chegaram em grupo, como fizeram a escola espanhola, argentina, americana. Os tenistas chegam em grupos, mesmo quando não se dão bem entre si."

Mais torneios

Para os especialistas, o novo cenário do tênis brasileiro tem ligação direta com uma maior estrutura no País. Nos últimos anos, o número de torneios em solo nacional aumentou consideravelmente. Entre 2021 e 2024, o Brasil sediou 70 competições de nível ITF e ATP Challenger, os primeiros de nível profissional.

Os torneios cederam cerca de 150 convites aos juvenis, até 18 anos, o que proporciona maior experiência aos brasileiros sem a necessidade de viajar para longe. "A Itália se tornou uma potência do tênis porque é um dos países onde mais tem torneio. Na Itália, o tenista perde e volta para casa, pertinho, sem precisar ficar viajando longas horas", explica Léo Azevedo.

"Estamos fazendo um bom trabalho na base. A entrada de novos patrocinadores, um pouco mais de investimentos… Qual é o problema do Brasil em comparação aos outros países? Temos pouco dinheiro e estamos com o dólar alto, não temos muita chance de jogar muitos torneios na Europa e nos EUA. A América do Sul está um degrau abaixo do tênis que se joga atualmente. E também não tem estrutura para poder viajar e passar tempo fora do país jogando. Quando começamos a dar mais oportunidade para esta meninada aqui mesmo, e podendo jogar bastante lá fora também, o garoto que é bom se destaca", diz Meligeni.

Dos 70 torneios mencionados acima, cerca de metade foi organizada pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT). "Um dos nossos pilares na Confederação é criar oportunidade aos nossos tenistas. Claro que não é uma garantia de que teremos um futuro número 1 do mundo, mas hoje, os atletas têm um leque amplo de possibilidades. Com um calendário mais robusto de torneios nas categorias juvenis e de transição, hoje é possível se destacar no cenário internacional passando grande parte do tempo sem sair do país ou do continente", afirma o presidente da CBT, Rafael Westrupp.

Estadão
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