Odir Cunha desaprova unificação de título do Maringá: "é forçar a barra"
- Diego Garcia
- Direto de Santos
A homologação da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ao Campeonato Brasileiro causou polêmica no futebol brasileiro. Clubes vencedores de outras competições de caráter nacional, como o Grêmio Maringá, campeão do Torneio dos Campeões da CBD em 1969, também esperam conquistar seu espaço. Entretanto, o autor do dossiê da unificação, o jornalista Odir Cunha, considera a hipótese como "forçar a barra".
"O torneio vencido pelo Grêmio Maringá foi abortado no meio da competição e nunca mais foi repetido. Foi um fracasso e, por isso, abandonado. A CBD sequer designou um time para a Libertadores do ano seguinte", afirmou o historiador.
Tal campeonato foi disputado no ano de 1969 com o intuito de indicar um time para representar o Brasil na Copa Libertadores de 1970. Em contrapartida, o País acabou não mandando nenhum de seus clubes, pois não quis arriscar lesionar seus atletas, visando a Copa do Mundo do México.
Na competição, participaram Sport (Campeão do Torneio Norte-Nordeste em 1968), Santos (vencedor do Robertão de 68), Botafogo (campeão da Taça Brasil de 68) e Grêmio Maringá (vencedor do Torneio Centro-Sul de 68). O time paranaense - atualmente na terceira divisão estadual - acabou se sagrando campeão após eliminar as equipes pernambucana, paulista e carioca - os dois últimos por W.O.
Além desse torneio, outros também entram na pauta de discussões quando o assunto é unificação. A Copa dos Campeões Estaduais, disputada em 1920 e 1937, é uma delas, assim como a Copa dos Campeões da CBF, que durou de 2000 a 2002. Contudo, Odir Cunha não acredita na oficialização de nenhuma dessas competições.
"O campeão da Copa dos Campeões foi apenas o campeão da Copa dos Campeões, assim como o campeão da Copa do Brasil é apenas o campeão da Copa do Brasil", completou.
Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Odir Cunha sobre a unificação de outros torneios nacionais:
Terra - Por que os vencedores da Copa dos Campeões Estaduais, disputada em 1920 e 1937, não entraram na relação dos campeões? Não seria válido considerarmos Paulistano e Atlético-MG, respectivamente, como os legítimos primeiros detentores de troféus nacionais?
Odir Cunha -
As duas competições que você cita foram organizadas pela FBF, a extinta Federação Brasileira de Futebol. Tiveram o seu valor, evidentemente, mas não tiveram sequência, caíram na categoria de torneios "experimentais". O fato de serem realizados por uma entidade que não existe mais também compromete sua validação. Mesmo assim, recomendo um estudo pormenorizado sobre o assunto. Meu trabalho se concentrou da primeira Taça Brasil em diante, período em que, comprovadamente, o Brasil teve os seus primeiros campeões nacionais.Terra - Por que o Grêmio Maringá não entrou na galeria? O clube venceu o Torneio dos Campeões da CBD em 1969, que reuniu os vencedores da Taça Brasil, Robertão, Torneio do Norte-Nordeste e do Centro Sul. Tal competição não dava vaga na Libertadores de 1970? O Maringá não tem culpa que a CBD optou por não mandar brasileiros nesta edição...
Odir Cunha - O torneio vencido pelo Grêmio Maringá foi abortado no meio da competição e nunca mais foi repetido. Foi um fracasso e, por isso, abandonado. A CBD sequer designou um time para a Libertadores do ano seguinte.
No noticiário da época se dizia que, se ela o fizesse, os escolhidos seriam Santos e Internacional, campeão e vice do Robertão/Taça de Prata de 1968. Como você mesmo lembrou, o quadrangular só teve uma rodada completa.
É óbvio que o Grêmio Maringá não teve culpa de Santos e Botafogo terem preferido excursionar a jogar o torneio. Mas daí a considerar o time do Paraná campeão brasileiro de 1968 me parece forçar demais a barra. Entretanto, só mesmo um estudo pormenorizado da competição e de seu regulamento poderá dar uma versão definitiva sobre o caso.
Terra - Outros torneios, como a Copa dos Campeões da CBF (2000 - 02), não podem entrar na lista? Se o Paysandu de 2002, por exemplo, reivindicar sua conquista, não teria argumentos válidos e semelhantes aos da Taça Brasil (quantidade de jogos, forma de disputa, aval da CBF, vaga na Libertadores, etc)?
Odir Cunha - Voltamos à comparação anacrônica entre Taça Brasil e Copa do Brasil. Não se pode pegar uma competição atual e compará-la com outra realizada meio século antes, com significado e em condições totalmente diferentes. Mesmo porque a finalidade de cada uma era completamente diversa.
O vencedor da Copa dos Campeões era chamado de campeão brasileiro? Não. Quais foram os campeões brasileiros de 2000, 2001 e 2002? Foram Vasco, Atlético-PR e Santos, os vencedores do Campeonato Brasileiro. O campeão da Copa dos Campeões foi apenas o Campeão da Copa dos Campeões, assim como o campeão da Copa do Brasil é apenas o campeão da Copa do Brasil.
Terra - Para finalizar, o que acha das declarações do atual presidente do Santos, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, que disse publicamente pretender brigar pelo reconhecimento da Recopa Intercontinental de 1968 como um legítimo torneio mundial? Não acha que isso abriria uma brecha para que os vencedores de Copa Rio e Pequena Taça do Mundo de Caracas, por exemplo, disputassem igualmente tal reconhecimento? Acha válido homologarmos tais conquistas?
Odir Cunha - Acho que a Recopa Sul-Americana e Mundial foram relevantes, oficiais, reconhecidas pela Conmebol e pela Fifa, mas não tiveram sequência. Portanto, foram competições experimentais. Não podem ser comparadas à Copa Libertadores ou ao Mundial Interclubes. Para quem se preocupa muito com rankings, acho que uma competição como a Recopa pode ser usada apenas em caso de empate em títulos sul-americanos ou mundiais.
A grande injustiça que se fazia, não só ao Santos, mas a outros cinco grandes clubes do futebol brasileiro - Palmeiras, Fluminense, Cruzeiro, Botafogo e Bahia - era a CBF não reconhecer a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa como títulos brasileiros.
Agora que veio o reconhecimento e ele é chancelado pela Conmebol e pela Fifa, ou seja, é irrevogável, a vida segue e estes clubes que tratem de ganhar em campo suas próximas taças. O futebol brasileiro tem uma história infinita pela frente e esses títulos de nada valerão se estes clubes se contentarem com os louros de um passado de ouro, mas, como o nome diz, já passou.
Confira a lista de vencedores de alguns torneios de caráter nacional:
1920 - Paulistano (Copa dos Campeões Estaduais)
1937 - Atlético-MG (Copa dos Campeões Estaduais)
1969 - Grêmio Maringá (Torneio dos Campeões da CBD)
1982 - América-RJ (Torneio dos Campeões do Brasil)
2000 - Palmeiras (Copa dos Campeões da CBF)
2001 - Flamengo (Copa dos Campeões da CBF)
2002 - Paysandu (Copa dos Campeões da CBF)
Confira o resto da entrevista com o historiador nos links abaixo:
» Exclusivo: Mentor do dossiê dá detalhes da polêmica unificação dos títulos nacionais
» Autor de dossiê rechaça unificação do RIo-São Paulo: "não tem chance"
» Historiador critica comparações de Copa do Brasil com Taça Brasil