Por drogas, Maradona quase sofreu transplante cardíaco
Ídolo argentino foi internado na época após sofrer sua segunda overdose por cocaína
Em 2004, Maradona foi internado na Argentina após sua segunda overdose por cocaína. Ele chegou a ficar em coma por alguns dias e depois de acordar fugiu para a chácara de um amigo. Passou cinco dias sumido e retornou ao hospital depois de passar mal por causa do excesso de croissants e doce de leite. Foi quando decidiu ir a Cuba, onde fez a cirurgia para reduzir o estômago. A cirurgia foi realizada às pressas para dar sobrevida ao ídolo argentino, que já tinha um problema grave no coração causado pelo uso de drogas. Nessa época, o cardiologista brasileiro Nabil Ghorayeb foi consultado pelos médicos argentinos que cuidavam do astro.
"Cheguei a fazer uma segunda opinião com os médicos dele, quando ele internou. Fui consultado pelo telefone. O Maradona tinha um problema cardíaco grave por causa da dependência química. Naquele tempo, ele tinha uma miocardiopatia dilatada. A situação dele era tão grave que cogitaram transplante cardíaco", conta Ghorayeb, ao Estadão.
Além do uso de drogas, Maradona tinha obesidade mórbida e por isso teve a necessidade de fazer a cirurgia bariátrica. A redução do peso ajudou no problema de saúde, mas ele precisava seguir atento ao problema cardíaco. "A força normal do coração pelo ecocardiograma é de 56 batimentos para cima. Lembro que o do Maradona era de 20. Por isso cogitaram o transplante, mas na época não era tão fácil como é hoje", explica Ghorayeb.
O cardiologista disse que ainda não é possível dizer o que causou a parada cardiorrespiratória em Maradona na quarta-feira. "Ele teve problema de traumatismo craniano. A gente não sabe qual foi a relação. O problema neurológico pode ter trazido a complicação para a sobrevida dele, mas isso a gente ainda não sabe. O que sabemos é que ele tinha seguramente insuficiência cardíaca".
'FUI, SOU E SEREI UM VICIADO' - Maradona admitiu que usava drogas desde 1982. Em uma entrevista emblemática concedida em 1996 disse: "Fui, sou e serei um viciado, a cada dia tenho de dizer que vou lutar contra o inferno das drogas". Nessa época ele já havia sido flagrado em exame antidoping por duas vezes. A primeira em 1991, quando recebeu 15 meses de suspensão. O craque chegou a ser preso em Buenos Aires com meio quilo de cocaína. Depois, na Copa do Mundo de 1994, quando foi afastado da seleção argentina.
Quando revelou o vício, participou de uma série de campanhas de combate ao tráfico promovidas pelo governo argentino. Mas teve recaídas. No ano 2000 ele teve a primeira overdose e foi internado em Punta Del'Este, no Uruguai. Depois foi a Cuba para fazer tratamento.
Quatro anos mais tarde voltou à clínica na Argentina no episódio relembrado por Ghorayeb. Foi o período em que ele deu a impressão de estar reabilitado. Pouco depois teve um programa na televisão argentina, que teve como ponto alto a participação de Pelé. A cena dos dois craques trocando passes de cabeça se tornou histórica. Foi também quando os dois reataram a amizade.
Maradona dizia que as filhas e o trabalho o haviam ajudado na superação do vício. Pouco depois, em 2007, os excessos no consumo de álcool o levaram a uma nova hospitalização, agora por hepatite. Foi internado em um hospital psiquiátrico. Saiu novamente. Recentemente, foi submetido a uma cirurgia no cérebro, que pode ter causado a parada cardiorrespiratório.