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Seleção feminina de futebol depende da ajuda do Bolsa Atleta

Jogadoras relatam que usam recursos do Governo Federal para comprar chuteiras, suplemento alimentar a até para pagar passagem de ônibus

8 jun 2019 - 23h01
(atualizado às 23h12)
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O Bolsa Atleta é considerado o maior programa de patrocínio individual para atletas do mundo. Em vigor desde 2005, já distribuiu mais de R$ 1,1 bilhão de acordo com dados da Secretaria Especial do Esporte, do Ministério da Cidadania.

O Bolsa Atleta conta atualmente com 6.200 integrantes em cinco categorias. Até o fim do ano passado, estavam contemplados 3.058 atletas, mas em abril o governo do presidente Jair Bolsonaro publicou nova lista com mais 3.142 favorecidos. Assim, foram adicionados ao orçamento do programa R$ 70 milhões.

A jogadora Marta do Brasil durante a partida entre Brasil e Canadá, válida pelo Futebol Feminino das Olimpíadas Rio 2016, no Estádio Arena Corinthians, em São Paulo (SP)
A jogadora Marta do Brasil durante a partida entre Brasil e Canadá, válida pelo Futebol Feminino das Olimpíadas Rio 2016, no Estádio Arena Corinthians, em São Paulo (SP)
Foto: Leonardo Benassatto / Futura Press

A previsão é de que o governo lance, ainda este ano, novos editais de seleção de atletas. As bolsas também devem passar por um processo de reestruturação, com reajustes de cerca de 10% nos valores do benefício.

Levantamento da Secretaria Especial do Esporte aponta que o Bolsa Atleta já concedeu 63,3 mil bolsas para 26,5 mil atletas nos últimos 14 anos. Nos Jogos Olímpicos do Rio, 77% dos 465 atletas da delegação brasileira participavam do programa. O Brasil conquistou 19 medalhas e somente o time de futebol masculino, que ganhou o ouro, não tinha atletas bolsistas.

A seleção brasileira que estreia na Copa do Mundo Feminina neste domingo, diante da Jamaica, conta com forte apoio estatal. Das 23 jogadoras do Brasil, 17 recebem o Bolsa Atleta, programa do Governo Federal que ajuda financeiramente as competidoras com pagamentos mensais. Como comparação, nenhum membro do time de Tite que disputará a Copa América a partir de sexta-feira recebe o Bolsa Atleta.

Tamires, da Seleção Brasileira
Tamires, da Seleção Brasileira
Foto: Divulgação, Lucas Figueiredo/CBF / PurePeople
As jogadoras da seleção dizem utilizar os recursos do programa para pagar despesas básicas como compra de chuteira, suplemento alimentar e até transporte para ir aos treinamentos. A lateral Tamires, de 31 anos, é uma das atletas mais experientes da equipe que está na França. Jogadora do Fortuna Hjorring, da Dinamarca, ela já fez parte das categorias Nacional e Internacional do Bolsa Atleta e atualmente recebe os valores da faixa Olímpica.

"É um incentivo muito grande. Sabemos que, às vezes, no futebol feminino, você não é tão bem remunerada em alguns clubes. O Bolsa Atleta ajuda a somar os rendimentos com o salário do clube para a gente poder comprar chuteiras e suplemento alimentar", explica.

Os valores pagos pelo Bolsa Atleta variam de R$ 410 (categoria Base) a R$ 15 mil (Pódio). No caso da seleção feminina de futebol, as 18 atletas contempladas recebem entre R$ 1.020 (categoria Nacional) e R$ 3.500.

Entre as 23 jogadoras convocadas pelo técnico Vadão para o Mundial da França, apenas seis defendem clubes no Brasil. Atuar no exterior, no entanto, não é um impeditivo para ser contemplada pelo programa.

Érika se lesionou e está fora da Copa do Mundo
Érika se lesionou e está fora da Copa do Mundo
Foto: Assessoria/CBF/Divulgação / Estadão Conteúdo

A lateral Letícia Santos defende o SC Sand, da Alemanha, desde 2017. Mesmo morando fora do País, ela recebe o Bolsa Atleta na categoria Internacional (valores que variam entre R$ 1.020 e R$ 2.500, a depender dos resultados obtidos e do nível da competição a disputar).

Aos 24 anos, ela relembra que o dinheiro do programa, principalmente no início da carreira, chegou a ser a sua única fonte de renda. "Ajudou porque muitas vezes a gente não recebe salário ou ele é muito pouco. Foi importante em uma época em que os meus pais não podiam me ajudar e foi um auxílio para eu continuar indo aos treinamentos. Agora, o Bolsa Atleta tem me ajudado a auxiliar a minha família também", diz a jogadora.

AMADORISMO

Os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro Masculino de Futebol, para se enquadrar no Licenciamento de Clubes da CBF, precisam manter uma equipe de futebol feminino (tanto adulta quanto de base). A regra, no entanto, não garante a profissionalização da modalidade no País.

No Brasil, a maioria das jogadoras de futebol é amadora. Apenas uma pequena parte tem contrato em carteira de trabalho, no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Por isso, muitas atletas recebem dos seus respectivos times ajuda de custo somente em acordos pontuais de prestação de serviço para torneios, de modo a não terem salário fixo.

A zagueira Érika, do Corinthians, se vale do benefício do Bolsa Atleta desde 2007. Ela participou de toda a preparação para o Mundial até sexta-feira, quando foi cortada por lesão.

"É um dinheiro de suma importância, que nos ajuda a comprar materiais, como chuteira, caneleira e roupas. Hoje, eu tenho carro, mas antes o dinheiro do Bolsa Atleta me ajudava também no transporte público de ônibus e metrô para ir aos treinos. Também ajuda na alimentação, já que a gente precisa muito de suplementos", relata.

Não são apenas atletas menos badaladas que recebem ajuda do Governo Federal. Marta, eleita pela Fifa a melhor jogadora do mundo por seis vezes, sendo cinco de forma consecutiva, também tem o Bolsa Atleta. A atacante do Orlando Pride, dos Estados Unidos, está inscrita na categoria Olímpica. Apenas seis atletas do elenco brasileiro que disputará a Copa do Mundo não são contempladas no programa Federal: Formiga, Daiane, Debinha, Kathellen, Luana e Ludmila. Elas jogam na Europa.

Estadão
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