“Sou torcedor, mas não sou bobo”, diz corintiano que não doou para vaquinha do estádio
Depoimentos apontam três motivos para não dar dinheiro ao Timão, enquanto há torcedores que ainda pretendem contribuir
Mesmo após vencer o Campeonato Paulista em cima do Palmeiras, a vaquinha para pagar a Neo Química Arena não atingiu R$ 40 milhões. Em quatro meses de campanha, arrecadou 5,5% do valor pretendido, R$ 700 milhões. Torcedoras e torcedores contam seus motivos para não contribuir. Vaquinha termina em maio.
Há pelo menos três motivos para corintianas e corintianos não doarem para a vaquinha que pretende pagar a Neo Química Arena: falta de dinheiro, de informações sobre como contribuir, e discordâncias em relação à campanha, por diversos motivos, especialmente políticos e de gestão – há ainda quem não doou, mas pretende doar.
Apesar de admitir que o estádio é importante, Rodrigo Amaral, 39 anos, de Guaianases, zona leste paulistana, não vai contribuir com a vaquinha porque “é uma questão que eles tinham que estar vendo. Estou fora, sou torcedor do Corinthians, mas não sou bobo.”
Karlla Oliveira, 22 anos, de Guarulhos (SP), não doou “porque não faz sentido, mano. O Corinthians ganha milhões e milhões e como que não tem dinheiro para pagar o estádio?” Recebendo um salário-mínimo, ela lembra que “ninguém vem pagar minhas dívidas, que são muito menores.”
Quem também prioriza os próprios boletos é Isaque Teles, vizinho da Neo Química Arena. “Eu não vou doar, se o Corinthians tem tanto dinheiro, o torcedor vai pagar? Não faz sentido. Eu tenho mil boletos pra pagar”, diz o estudante de 20 anos.
Doar significaria concordar com a má gestão
“Embora seja bonito a torcida ter a iniciativa de tentar amortizar a dívida, acho que seria como se estivesse assinando embaixo da incompetência da gestão do clube”, diz Eduardo Messias Rodrigues Nascimento, 39 anos, de Itaquera. Não é só ele que pensa assim.
"Os caras fizeram uma gestão horrível, acabaram com o Corinthians. Apesar de ser um movimento começado pelos próprios torcedores, eu acho vergonhoso para um time tão grande. Mostra o amor da torcida, mas não acho que eles deveriam se submeter a isso”, declara Gustavo Mendonça Ribeiro, 21 anos, de Cidade Patriarca, região da Vila Matilde, zona leste paulistana.
Vários entrevistados se incomodam com o que seria “conivência” com a má gestão do Corinthians. Henrique da Guia, 26 anos, da Cohab 2, em Itaquera, acha “louvável, mas participar é ser conivente com os trâmites que fizeram o clube estar na situação que ele está hoje. E não é só isso: sou trabalhador, pai de família, pago minha faculdade com meu trampo, não tenho condição.”
Sem grana para a vaquinha do Corinthians
O jornalista Aquiles Marçal Argolo, de Guarulhos, explica que, “primeiro, não tenho grana, e mesmo se tivesse, por mais que ame o clube, eu não doaria porque um clube do tamanho do Corinthians deveria ter as contas equilibradas há muito tempo”.
O rapper Danilo Antônio da Costa, 49 anos, da Vila Gomes, zona oeste de São Paulo, queria ter doado, pretende doar, mas ainda não doou porque tem contas a pagar. “Até cogitei, no fim do ano, pegar uma parte do décimo-terceiro, mas estou com dois financiamentos.”
Everton da Silva Oliveira, 33 anos, de São Miguel Paulista, zona leste, também aponta a questão econômica. Ele diz que “os ingressos são caros, as camisetas oficiais custam caro, o esporte está cada vez menos popular, e o cara da periferia não tem grana para entrar no estádio”.
Não doaram porque não sabiam da vaquinha
Por incrível que pareça, há torcedores que não doaram para a vaquinha da Neo Química Arena porque não sabem dela, nem como fazer a doação. “Estou sem grana e não tive a informação da vaquinha do Corinthians, fiquei sabendo recentemente”, revela Danilo Henrique Alves Noé, 21 anos, do Jardim Peri, zona norte.
“Eu ia doar, mas eu não cheguei a fazer o PIX. Com certeza, vou acabar doando. Meu caso é correria e ainda não me informei como que doa, mas eu estou para me informar”, justifica-se Anderson Beserra, rapper do Protesto V, da zona oeste de São Paulo.
Samanta Melo, de Assis, interior paulista, diz que “não estava sabendo dessa vaquinha do Corinthians. O que eu vejo na internet são os memes, não tive como doar por não saber, por falta de informação mesmo”. Ela pretende doar “assim que possível”.