Tragédia do FLA: vizinhos desolados e luto no bairro
A poucos metros do centro de treinamento do Flamengo, em Vargem Grande, zona oeste do Rio, o estudante Yuri Miranda, de 14 anos, caminha cabisbaixo, quase em silêncio. Não consegue compreender como foi possível perder vários amigos no incêndio do Ninho do Urubu. "Estou triste", ele diz, contendo-se para não chorar.
O garoto estudou com cinco das dez vítimas. Sempre que podia os encontrava nas proximidades do Ninho do Urubu ou na Escola Municipal Teófilo Moreira da Costa, a dois quilômetros do CT.
"De todos ali, meu melhor amigo era o Fortaleza (apelido do goleiro Christian, um dos mortos). Também me dava bem com os outros", conta, enquanto é consolado por dois vizinhos da sua idade.
Perto dele, Cícero Valter, que trabalha na única mercearia da área, lamenta a tragédia a todo instante. A cada novo freguês que chega na vendinha, ele desabafa: "que tristeza, todos tão jovens, tão cheios de sonhos."
Os garotos do Flamengo frequentavam a mercearia para comprar açaí. A dona, Gigi Fortunato, também parece inconformada. "Meus Deus, conheço nove dos dez que morreram", comenta, no momento em que a TV exibe a foto de cada um deles. Depois, ela se retira, diz que não tem condições de falar nada.
Esse clima de desolação também traduz o sentimento na escola municipal do bairro. Ali, vários jogadores da base do Flamengo estudam ou estudavam. O diretor adjunto Luiz Fernando Cardoso acusa o golpe e silencia quando indagado sobre a vida dos jovens no local. Com esforço, explica em seguida sua reação. "Não há palavras para dar a dimensão disso tudo."
A escola volta a ter aulas na segunda-feira. O diretor sabe que o ano letivo em Vargem Grande vai começar pelo avesso, em luto. "Não consigo imaginar como vai estar isso aqui na segunda. É muito triste."
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