Escândalo de corrupção muda mais rotina da CBF do que 7 a 1
Prisão de Marin provoca mais rebuliço na entidade do que vexame. Embora nenhuma mudança estrutural tenha ocorrido após "7 a 1 da cartolagem"
Em março de 2012, em sua primeira entrevista como presidente da CBF, José Maria Marin rebateu a acusação de que teria pego indevidamente uma medalha que deveria ser entregue a um jogador do Corinthians, campeão da Copa São Paulo de Futebol Junior. Ele se defendeu com uma bravata e declarou-se honesto, acima de tudo. "Vocês vasculharam minha vida toda e acharam isso, que é uma piada", disse com o dedo em riste, apontando para os repórteres. Três anos depois, Marin foi preso na Suíça, sob acusação de corrupção, e aguarda sua extradição para os Estados Unidos.
As investidas do FBI e de agentes da polícia suíça que resultaram na operação contra Marin continuam apontando para o prédio da CBF, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. No relatório das investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, há menções aos coconspiradores 11 e 12, que ocupariam (ou teriam ocupado) cargos na CBF, na Conmebol (Confederação Sul-Americana) e na Fifa. Eles também estariam envolvidos em escândalos de corrupção. Não há citações nominais a Ricardo Teixeira, que renunciou à presidência da CBF no início de 2012, e Marco Polo Del Nero, atual mandatário da entidade.
Em 9 de junho, em sua primeira entrevista após abandonar o Congresso da Fifa em Zurique, Del Nero negou ter cometido alguma ilegalidade e declarou-se honesto, acima de tudo. "Eu não sei, não tenho ideia de quem possa ser (os coconspiradores). Tenho certeza de que eu não sou, porque não fiz nada de errado." Um mês depois, ele evita exposições públicas, não foi sequer ao Chile para prestigiar a seleção brasileira e a própria Copa América, disputada recentemente, e aguarda o próximo Congresso da Fifa, dia 20 de julho, para representar a CBF.
A prisão de um de seus cinco vice-presidentes fez soar o alarme vermelho na CBF. Uma assembleia, convocada rapidamente para mudar o estatuto, e manobrar a sucessão de Del Nero, dividiu as federações estaduais. Por dias, o departamento jurídico trabalhou sem parar na análise de contratos da entidade com patrocinadores e parceiros comerciais. Houve um vaivém interminável de advogados no prédio da Barra e uma nova diretoria de Comunicação foi contratada. E desde o final de junho, uma nova ordem partiu do gabinete de Del Nero para todos da CBF: 'É preciso criar uma agenda positiva'.
Isso já vem sendo posto em prática, com uma série de seminários e eventos que reúnem personalidades do esporte dispostas a opinar sobre melhorias para o futebol nacional. Não consta da discussão, porém, a abordagem sobre mudanças estruturais, que contemplariam, por exemplo, a participação ampla de clubes e atletas nos processos eleitorais da CBF e das federações estaduais de futebol.
Enquanto não surge nenhuma novidade nas investigações do FBI, ou mesmo da Polícia Federal do Brasil, que também entrou no caso, a CBF tenta se recuperar do trauma interno causado pela prisão de Marin. Se nada mudar, Del Nero se mantém no cargo. De todo modo, o vice mais velho, Delfim Peixoto, de 74 anos, o primeiro na linha de sucessão, já sabe informalmente com quem trabalharia na eventualidade da renúncia do atual presidente.