‘Zagallo eterno’ tem 13 letras: o adeus de uma lenda
Futebol brasileiro perdeu o único tetracampeão mundial aos 92 anos
Ninguém amou mais a Seleção Brasileira do que Mario Jorge Lobo Zagallo. Único tetracampeão mundial da história do futebol, duas vezes como jogador (1958 e 1962), uma como treinador (1970) e outra como auxiliar-técnico (1994), o Velho Lobo sempre defendeu a Amarelinha com unhas e dentes.
A morte de Zagallo acontece em um momento em que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) agoniza. Mais uma vez, a entidade está em envolta de problemas judiciais, uma incerteza sobre o seu comando institucional e na beira de campo. Fernando Diniz acaba de ser demitido após seis jogos com uma ideia de trabalho bem clara, mas com desempenho pífio.
Dentro de campo, Zagallo foi um ponta esquerdo talentoso, que fez sucesso com a camisa do Botafogo e da Seleção. Fora das quatro linhas, um treinador vitorioso, convicto com os seus ideias e que não levava desaforo para casa.
Zagallo representava o torcedor brasileiro dentro de campo, independente da função que exercia. Vai dizer que você não lembra da famosa comemoração do aviãozinho? O gesto foi uma maneira de devolver a provocação do técnico da Seleção da África do Sul durante amistoso em 1996. Quando o time principal sul-africano fez 2 a 0 no sub-23 do Brasil, ele invadiu o campo fazendo o aviãozinho. Zagallo soube esperar, aguardou a virada e comemorou efusivamente a virada no amistoso “voando” no gramado do estádio em Joanesburgo.
E os jogadores também se sentiam respaldados por Zagallo. Quando ele soltou o célebre bordão “Vocês vão ter que me engolir”, após a conquista da Copa América de 1997, ele representou o sentimento de todo atleta quando chega ao título depois de muitas críticas.
Entre todas as glórias e polêmicas, eu sempre vou lembrar do Velho Lobo quando o assunto envolver o número 13. Todos os malabarismo e contas que ele fazia para que a soma das letras desse 13, como ‘Brasil campeão’. Superstição está na essência do futebol brasileiro.
Nunca tive o prazer de entrevistar Zagallo pessoalmente, mas ele foi a primeira lenda que tive o prazer de ouvir na minha carreira. Em 2010, no meu último ano de faculdade, estava concentrada no meu trabalho de conclusão de curso –uma biografia do ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos – e consegui um número que diziam ser da casa do tetracampeão mundial. Ainda um pouco tímida resolver ligar.
- Alô?
- Quem fala?
- É o Zagallo!
Sim, foi dessa maneira, minha perna balançou, minha barriga torceu, mas respirei fundo, falei que gostaria de uma entrevista, ele topou e conversou comigo na hora mesma. Meia hora depois, desliguei o telefone ainda meio incrédula do que tinha acabado de acontecer. Meu eterno obrigada, Zagallo!