Greve, brigas e agressão: caos impede novo brilho de Gana
Gana esteve muito perto de se tornar, em 2010, a primeira seleção africana em uma semifinal de Copa do Mundo – a mão do uruguaio Luis Suárez foi o único entrave para a realização do sonho. Quatro anos depois, porém, uma equipe que manteve a base e apresentou ótimo futebol não conseguiu passar da primeira fase. O grupo complicado, com Alemanha, Portugal e Estados Unidos, certamente contribuiu, mas é impossível ignorar o caos extracampo vivido pelo time no Brasil.
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Como tem se tornado habitual com seleções africanas – Nigéria, na Copa das Confederações de 2013, e Camarões, também neste Mundial, são outros exemplos –, Gana sucumbiu aos seus problemas fora das quatro linhas. A primeira polêmica aconteceu quando a imprensa britânica denunciou um suposto esquema de manipulação de resultados na Federação Ganesa, que negou a corrupção e prometeu entrar com ação legal contra os acusadores.
A crise que mais chamou atenção, porém, aconteceu antes do jogo decisivo com Portugal, que os ganeses perderam por 2 a 1 na última quinta-feira. Na terça, eles se recusaram a treinar. A greve aconteceu por um impasse sobre a premiação do Mundial – a chamada taxa de participação que a Fifa distribuiu a cada federação após a Copa, para que ela seja repassada aos jogadores. O problema é que os jogadores queriam o dinheiro imediatamente, e em espécie, ao invés de esperar um depósito depois da competição.
Segundo os atletas e o técnico James Kwesi Appiah relataram, é costume no país entregar essas premiações antes dos torneios, e em dinheiro vivo, já que muitos jogadores sequer possuem conta em Gana. O caso foi resolvido da forma mais inusitada possível, com o presidente ganês John Dramani Mahama enviando um avião com mais de US$ 3 milhões (R$ 6,6 milhões) ao Brasil. O dinheiro foi transportado sob escolta por Brasília e entregue aos jogadores no hotel – alguns chegaram a cheirar e beijar as cédulas.
O caso deixou uma imagem muito ruim sobre o elenco, e as notícias do dia seguinte não ajudaram em nada para melhorar essa impressão. Dois dos principais jogadores do time, o volante Muntari e o meia Boateng, foram cortados por indisciplina às vésperas do jogo contra Portugal: o primeiro teria agredido um dirigente da federação durante uma reunião, e o segundo insultado o técnico Appiah.
Sem a dupla em campo e imersa em problemas, Gana caiu diante dos portugueses e deu adeus à chance de classificação – uma vitória simples bastaria para avançar em segundo. O ótimo futebol apresentado nas partidas contra Estados Unidos (derrota por 2 a 1) e Alemanha (empate por 2 a 2) passou longe do Estádio Mané Garrincha, e Portugal poderia ter goleado se Cristiano Ronaldo estivesse com a mira mais afiada.
Nem mesmo depois de eliminados os ganeses pararam de se envolver em confusão. Após a partida contra Portugal, todos os jogadores se recusaram a dar entrevista e acabaram vaiados por um jornalista de uma rádio francesa que cobriu a seleção durante a Copa. Revoltado, o capitão Gyan precisou ser contido por colegas, enquanto outros jogadores xingaram em voz alta o repórter.
Foi um fim melancólico para uma geração talentosa, que poderia ter alçado voos maiores no Brasil. Mas os contra-ataques fulminantes puxados por Ayew e Atsu, a técnica apurada de Gyan e a força de Asamoah e Muntari, que proporcionaram belos momentos dentro do gramado, não foram capazes de compensar a falta de coesão entre as partes fora dele.
Ouça as principais músicas do Mundial: