Cantos racistas acirram rivalidade política no Grêmio
Geral e direção divergem na política do clube, mas movimento Grêmio da Torcida concorda com pedido de Koff para acabar com músicas racistas
Na tarde desta segunda-feira, torcedores dissidentes da Geral do Grêmio foram à polícia para ajudar a identificar autores de manifestações racistas. Os conflitos entre a direção, as torcidas e os movimentos persistem, mas em um ponto todos convergem: não cantar músicas com a palavra "macaco" dentro da Arena do Grêmio.
Por trás dos cânticos racistas da torcida do Grêmio no jogo contra o Bahia, existe a política do clube. Os líderes da torcida Geral do Grêmio, uma das torcidas organizadas que fica no setor da arquibancada norte, apoiaram as candidaturas de Paulo Odone antes de fundar o movimento Grêmio da Torcida. Odone foi rival de Koff na eleição presidencial de 2012; desde que Fábio Koff assumiu a presidência do Grêmio, as relações entre a torcida e a direção ficaram tensas.
Essa tensão chegou em um ponto de ruptura quando a Geral resolveu sair do Estádio Olímpico rumo ao Beira-Rio, no último Gre-Nal. A direção do Grêmio acordou com a Brigada Militar a saída dos torcedores tricolores das escolinhas do Grêmio, que ficam no Bairro Cristal, a 4,2 km do estádio. Porém, no sábado, a Geral anunciou que iria sair do Estádio Olímpico, o tradicional ponto de encontro dos gremistas antes do Gre-Nal no Beira-Rio, que fica a 2,3 km. Na chegada ao estádio, houve confronto entre gremistas e colorados, e o Ministério Público resolveu punir a torcida. Por cinco jogos, a banda da Geral do Grêmio não estaria presente na Arena.
O quinto jogo foi contra o Bahia, no último domingo, quando torcedores da Geral cantaram "chora macaco imundo", "olha a festa macaco" e "macacada f.d.p". As músicas foram recebidas com vaias pelo restante do estádio, além de duramente criticadas por gremistas nas redes sociais e também pelo presidente Fábio Koff.
"Eu tenho a lamentar, de novo, os cânticos racistas, que não cabem dentro de um estádio. Não há como o Grêmio admitir, como instituição, que isso ocorra. Estamos sofrendo as consequências do rigor no tratamento dos problemas com os torcedores. O Grêmio está a dois dias de um julgamento que poderá excluir o clube de uma competição. Estamos trabalhando na identificação dos autores, e uma facção da torcida praticamente acaba com a tese do Grêmio. Parece que, propositadamente, querem prejudicar o julgamento. Que gremista é esse?", disse o presidente Fábio Koff, na saída do jogo contra o Bahia.
O conselheiro André Guterres, ligado à Geral e que faz parte do movimento Grêmio da Torcida - o movimento político que abriga os líderes da Geral -, nega que as músicas tenham partido de um movimento organizado da torcida. "A torcida, devido à punição, estava sem uma banda que pudesse coibir os cânticos e dar o ritmo", disse Guterres. O movimento Grêmio da Torcida lançou uma nota na sua página do Facebook de repúdio a qualquer manifestação racista.
"Somos conta atos de racismo, repudiamos qualquer manifestação racista. Trabalhamos pelo Grêmio de forma incondicional, sempre com a intenção de agregar as forças políticas em torno de um único objetivo, o Grêmio", diz a nota, que também afirma que o movimento tem pessoas que frequentam outros setores do estádio além da Geral. "A Geral é um setor do estádio, um setor popular. Nós temos milhares de sócios que frequentam a Geral", diz Guterres.
Guterres também não considera as músicas cantadas nesse domingo como racistas, mas espera que elas não sejam mais cantadas. "Pelo momento que a sociedade vive, e por ter pessoas que entendem que essas músicas têm conotação racista. Se tem pessoas que se ofendem, não podemos cantar, o nosso movimento entende assim", afirmou. Há sete anos, militantes neonazistas que frequentavam o setor foram expulsos por líderes da torcida.
"Não posso falar pela torcida", diz Guterres, "mas eu me atreveria a dizer que sempre foram coibidos atos racistas dentro da Geral. É o setor mais popular, onde mais tem negros e pobres, onde se misturam pessoas das classes média e baixa. Repudiamos qualquer ato racista", reafirma o conselheiro, que criou o projeto de um "departamento de torcida" no Grêmio para abrigar essas questões.
"Ele irá trabalhar não só pela torcida do setor da Geral, mas por todos os torcedores. Armar a logística para viagens, para a festa dentro de campo, os instrumentos, a banda, até o que é cantado". Segundo Guterres, com um departamento assim ligado à administração, seria possível inclusive censurar previamente eventuais atos racistas.
O vice-presidente do Grêmio, Nestor Hein, vê com ceticismo as manifestações de Guterres. "O Grêmio está preocupado. Nós temos jogadores negros como símbolos, uma história toda de combate ao racismo, estamos preocupados em provar isso no julgamento de quarta-feira. Tudo que aconteceu está gravado. Nós temos o rosto, um por um, de todos os que começaram os cânticos racistas. Eu acho que essa gente quer chantagear o Grêmio", afirmou Hein.