Metroviários suspendem greve em SP e marcam assembleia para véspera da abertura da Copa
Os metroviários de São Paulo decidiram nesta segunda-feira suspender temporariamente a greve após cinco dias de caos no transporte público, mas marcaram uma nova assembleia para quarta-feira, véspera da abertura da Copa do Mundo, para avaliar os rumos do movimento.
Um porta-voz do Sindicato dos Metroviários disse à Reuters que a entidade continuará negociando a revogação da demissão de 42 funcionários, acrescentando que, se um acordo não for alcançado, a categoria voltará a cruzar os braços na quinta-feira, dia do jogo entre Brasil e Croácia, na capital paulista.
"Suspendemos a greve neste momento, vamos continuar negociando a questão das demissões e convocamos uma nova assembleia para o dia 11 à tarde”, disse o porta-voz à Reuters após o fim da assembleia.
O sindicato afirmou no seu site que está em "estado de greve". "Continua a mobilização nas áreas. Vamos fazer a maior assembleia da história da categoria no dia 11. Esse deve ser o desafio do metroviário! Queremos negociar a volta dos metroviários demitidos. Ninguém vai ficar para trás", diz a nota.
Mais cedo, uma reunião entre o sindicato e representantes do governo estadual na Superintendência Regional do Trabalho terminou sem acordo sobre a revogação das demissões, que é a principal reivindicação da categoria para que voltasse ao trabalho.
Antes de a assembleia acabar, a assessoria de imprensa da Secretaria dos Transportes Metropolitanos havia informado que "o movimento estava perdendo força", já que das 65 estações do metrô, 50 delas já estavam abertas e operando parcialmente. Cerca de 4,5 milhões de pessoas utilizam o metrô na cidade.
A Justiça do Trabalho julgou a paralisação ilegal no domingo, mas o Sindicato dos Metroviários de São Paulo decidiu pela manutenção da greve em assembleia realizada no mesmo dia.
O desembargador Rafael Pugliese, do Tribunal Regional do Trabalho, definiu o reajuste salarial de 8,7 por cento para a categoria, que reivindica um aumento de 12,2 nos salários. Na mesma decisão, a Justiça determinou o retorno imediato ao trabalho, sob pena de 500 mil reais de multa diária.
Os visitantes que chegam à cidade para assistir à abertura do Mundial enfrentaram grandes congestionamentos e atrasos em diversos serviços nesta segunda-feira, quando a tropa de choque da Polícia Militar entrou em confronto com grevistas que realizavam um piquete na estação Ana Rosa, na zona sul da capital.
Uma avenida chegou a ser bloqueada com lixo queimado, e a polícia usou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para liberar o acesso à estação, considerada um dos nervos centrais do sistema. Quatorze metroviários chegaram a ser levados para a delegacia.
Outros grupos, incluindo professores e motoristas de ônibus, já fizeram greves em São Paulo nas últimas semanas para exigir melhores salários. Analistas dizem que a cidade está se tornando um campo de batalha para visões políticas dissidentes, prejudicando a economia e criando um clima de mal-estar antes da Copa do Mundo.
A frustração com promessas não-cumpridas e os custos elevados dos novos estádios construídos ou reformados para o Mundial contribuíram para protestos generalizados que levaram mais de um milhão de pessoas para as ruas em junho do ano passado, durante a Copa das Confederações.
Os organizadores da Copa do Mundo tiveram um alívio nesta segunda-feira, quando o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, que organizou a maioria dos protestos das últimas semanas, disse que havia chegado a um acordo com o governo e não irá parar as ruas durante o torneio.
O impasse no metrô de São Paulo é mais um fator que contribui para a preocupação generalizada sobre a capacidade de o governo evitar que protestos de rua e outras disputas trabalhistas atrapalhem a Copa do Mundo.
A três dias do jogo de abertura na Arena Corinthians, zona leste de São Paulo, a Fifa mantém a orientação aos torcedores de usarem o metrô para acessar o estádio. São Paulo sediará outros cinco jogos, incluindo uma semifinal.
"NÃO TEM MAIS DISCUSSÃO"
O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), havia apelado na noite de domingo pelo retorno dos metroviários ao trabalho sob risco de demissão.
"Não tem mais discussão, ela (a greve) é absolutamente abusiva e ilegal", disse Alckmin em uma entrevista coletiva à imprensa no domingo.
"Eu quero aqui fazer uma convocação para que o metroviários voltem. O dissídio já foi decidido e o dissídio não se discute", acrescentou o governador. "Quero deixar claro aqui que quem não for trabalhar incorre na possibilidade de demissão por justa causa", disse.
O presidente da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro), Paulo Pasim, disse à Reuters na estação Ana Rosa, na manhã desta segunda-feira, que pretendem reabrir a negociação com o governo.
"Nossa questão não é a Copa, não queremos prejudicar a população, inclusive oferecemos a alternativa da catraca livre, que o governo não aceitou", disse Pasim.
A Prefeitura de São Paulo manteve a suspensão do rodízio de carros nesta segunda-feira, e a capital paulista chegou a registrar cerca de 150 km de lentidão no início da noite.
Os ônibus mantiveram o reforço de frota, informou a SPTrans, mas imagens de TV mostram grandes filas para embarcar nos coletivos que passam lotados.
"Estou indo para o trabalho, já tinha que estar lá, mas não vou chegar, vou procurar alternativas, a greve atrapalha todo mundo. É o caos", disse o serralheiro José Mario dos Santos, que tentava embarcar no metrô pela manhã em uma estação da zona sul para ir ao trabalho.
No Rio de Janeiro, antes do fim da reunião que terminou sem acordo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou que a greve não será um problema para o torcedor chegar ao estádio. (Full Story)
O metrô é o principal acesso à Arena Corinthians, construída na zona leste da capital paulista, e a greve, que começou na semana passada, causaria grandes transtornos no dia da abertura do Mundial, caso se mantenha.
“Tenha paciência que o problema vai ser resolvido (até a abertura)”, disse Aldo à Reuters no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira. “Não entre em desespero porque o problema vai ser resolvido”, acrescentou.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; e de Caroline Stauffer, em São Paulo)