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Hábito dos torcedores japoneses de recolher o lixo se espalha na Copa da Rússia

Prática de limpar e arrumar um local coletivamente - chamada de 'souji' - é ensinada para as crianças nas escolas; 'Nós aprendemos logo cedo na vida que é fácil levar esse hábito para onde quer que nós formos', diz torcedor japonês.

26 jun 2018 - 05h59
(atualizado em 27/6/2018 às 11h17)
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Torcedores do Japão usam sacos para recolher o lixo deixado nos estádios da Copa da Rússia
Torcedores do Japão usam sacos para recolher o lixo deixado nos estádios da Copa da Rússia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mamoru e Paroshi, dois torcedores de futebol do Japão, olham um para o outro e riem antes de responder a uma pergunta que se tornou frequente desde que a Copa da Rússia começou: por que os japoneses recolhem seu próprio lixo?

"É a cultura japonesa", dizem, sobre a cena que deixou o mundo admirado ao final da vitória por 2 a 1 do Japão contra a Colômbia, na Arena Mordovia em Saransk.

A prática se tornou popular não apenas nas redes sociais, mas também está virando moda entre torcedores de outros países, como Senegal e Brasil, que começaram a fazer a mesma coisa.

Para os japoneses, é uma surpresa que as pessoas estejam surpresas. "Nós sujamos, nós limpamos. É normal no Japão", diz Mamoru.

O hábito de limpar a própria sujera é chamado no Japão de 'souji'
O hábito de limpar a própria sujera é chamado no Japão de 'souji'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A prática tem um nome: souji. A palavra japonesa tem vários significados, como limpeza e varrição. O ritual segue um provérbio: "Não jogue terra no poço que te dá água". É mais do que uma prática nos estádios de futebol. É uma filosofia, que é passada de geração para geração.

Currículo escolar

Nas escolas japonesas, as crianças realizam tarefas como limpar os banheiros, varrer o chão e lavar a louça, em um sistema de rodízio de tarefas, que é coordenado pelos professores. A ideia é ensinar os estudantes a se importarem com os espaços públicos.

"Nós aprendemos logo cedo na vida que é fácil levar esse hábito para onde quer que nós formos", fala Chikako Ehara, outro torcedor do Japão.

As crianças japonesas aprendem o 'souji' na escola
As crianças japonesas aprendem o 'souji' na escola
Foto: BBC News Brasil

O hábito japonês de limpar a própria sujeira foi notado pela primeira vez na Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Na época, as pessoas observaram que os torcedores iam para os estádios preparados para limpar tudo antes de irem embora.

Durante a maior parte dos jogos, os sacos de lixo azuis eram improvisados a partir de balões usados para torcer.

Mamoru explica que não é preciso muita organização para fazer isso. Os torcedores apenas limpam a área em torno deles, sem que ninguém precise dar ordens.

"É também uma forma de sermos respeitosos com os anfitriões", afirma Mamoru.

A limpeza dos estádios é vista como uma forma de demonstrar respeito pelo país anfitrião
A limpeza dos estádios é vista como uma forma de demonstrar respeito pelo país anfitrião
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Inspiração para outros torcedores

A limpeza está profundamente enraizada na cultura japonesa. Brigadas voluntárias de limpeza atuam em diversos locais.

Mas a popularidade da Copa da Rússia tornou a prática conhecida no mundo inteiro. E é fácil de copiar.

Torcedores do Senegal e do Brasil também foram filmados recolhendo o próprio lixo. "Para nós, é uma honra que outros países também estejam fazendo souji. Nós esperamos que outros torcedores se inspirem a fazer o mesmo", diz Chikako.

É errado?

Porém, a limpeza dos estádios pelos japoneses está gerando um debate. No Japão, há quem diga que fazer o souji fora de casa é interferir na cultura de outros países.

Em um artigo publicado em 2014, o escritor japonês Mayumi Matsumoto, que vive em Londres, questionou se a prática seria desrespeitosa a outras culturas e mesmo se poderia gerar perda de empregos.

Brigadas voluntárias de limpeza atuam em diversos locais do Japão
Brigadas voluntárias de limpeza atuam em diversos locais do Japão
Foto: Getty / BBC News Brasil

"Nós não devemos desprezar as pessoas de outros países que não fazem a limpeza em eventos esportivos. Essas pessoas estão se comportando de uma forma que é natural para elas. E nós precisamos pensar nas pessoas que precisam de emprego nos países de baixa renda", argumentou.

Mas, por enquanto, na Copa da Rússia, o souji está ganhando o debate.

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