Brasil fecha Sochi com resultados discretos e "esperanças"
Uma das apostas da delegação para os próximos anos é o amadurecimento da patinadora Isadora Williams e o desenvolvimento das equipes de bobsled
A Olimpíada de Inverno de 2014, em Sochi, contou com a maior delegação da história do Brasil em edições do evento: 13 atletas. Ainda é utopia pensar em briga por medalhas, mas há quem deixe a cidade russa com motivos para comemorar.
Os responsáveis pela delegação, no geral, se mostraram satisfeitos. “Estamos muito contentes. Tivemos a melhor participação olímpica de todos os tempos”, destacou Stefano Arnhold, presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) e chefe de missão do Brasil em Sochi.
O Brasil estreou em três modalidades que jamais havia disputado: esqui aerials (com Josi dos Santos), bobsled feminino e patinação artística (com Isadora Williams).
Satisfeito em especial, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), Emilio Strapasson, também fez uma avaliação positiva.
“Estou muito feliz por trazer dois times de bobsled. Um mês atrás, a gente nem sabia se estava classificado”, disse, lembrando a confirmação da vaga em janeiro e a simples presença entre os classificados para a modalidade. “A gente está entre os melhores o mundo. Você precisa respeitar quem treina há quatro, oito anos. A gente furou a fila. A gente podia estar vendo em casa, podia estar assistindo, mas está aprendendo”, completou o cartola. Em Vancouver 2010, o Brasil não teve nenhum atleta em competições no gelo.
Emílio também aprovou a estreia de Isadora, que mora e treina nos Estados Unidos, mas que compete pelo Brasil desde 2009. Filha de um americano com uma brasileira, ela procurou a CBDG para buscar apoio na tentativa de competir pelo País – conseguiu, foi aplaudida em Sochi, começou a aprender português e recebeu a chance de ser porta-bandeira na Cerimônia de Encerramento, neste domingo.
“Tem quem manter o investimento nela”, disse Emílio. “Ela é muito boa. Infelizmente, ela não conseguiu mostrar a qualidade que ela tem. É excepcional, determinada, competitiva, dedicada”, listou o dirigente.
Mesmo com tantos elogios aos estreantes, o time brasileiro ainda deixa a Olimpíada de Inverno sob algumas desconfianças. Atletas mais experientes, que não raro já passaram dos 35 anos, podem ter feito sua última participação olímpica. Pior: sem conseguirem deixar claro se há uma reposição em suas modalidades.
Confira o balanço final do Brasil em Sochi:
Bobsled feminino: em alta
Pela primeira vez, o Brasil classificou uma dupla feminina para disputar o bobsled na Olimpíada de Inverno. Fabiana Santos e Sally Mayara ficaram na 19ª posição dentre 19 times, brigando apenas para tentar superar o trenó da Coreia do Sul (18º) nas baterias.
Bobsled masculino: em alta
Com pouco mais de um ano de treino, justamente após quatro anos de bloqueio da CBDG, a equipe conquistou uma vaga para disputar os quartetos. Com o 29º lugar entre 30 times, à frente do Canadá III (que se acidentou na segunda bateria), o time ficou fora da bateria decisiva. Mesmo assim, o time ficou satisfeito com a performance.
Isabel Clark (snowboard): em baixa
Dona do melhor resultado do Brasil em uma Olimpíada de Inverno (foi a nona colocada no snowboard cross em 2006), Isabel chegou a animar na primeira eliminatória da prova em 2014, conseguindo o 12º lugar. No entanto, caiu em sua bateria nas quartas de final e se despediu prematuramente. Pode ter dado adeus.
Isadora Williams (patinação artística): em alta
Dentre as 30 atletas que fariam o programa curto feminino, Isadora foi última colocada, com nota baixa: 40.37 pontos. Problema? Nenhum. Aos 18 anos, a patinadora nascida nos Estados Unidos se tornou uma sensação na delegação, sendo escolhida como porta-bandeira do Brasil na Cerimônia de Encerramento. Em 2018, terá 22 anos, e pode surpreender.
Jaqueline Mourão (biatlo e cross country): em alta
Com pouco tempo de treino no tiro, prática iniciada em 2010, Jaqueline surpreendeu no sprint de 7,5 km d biatlo (um erro em dez tiros, 77º lugar), embora não tenha repetido o aproveitamento no individual de 15 km (sete erros em 20 tiros, 76º lugar). No cross country, categoria sprint, foi a 65ª colocada. Disputou uma Olimpíada pela quinta vez, sendo a terceira edição em esportes de inverno.
Jhonatan Longhi (esqui alpino): em baixa
Aparentemente fora de forma, foi o 58º no slalom gigante e ainda acabou desclassificado no slalom. Já admitiu que pode mudar de prova para tentar disputar a Olimpíada de Inverno de 2018, em Pyeongchang (Coreia do Sul), quando terá 30 anos.
Josi Santos (esqui aerials): em alta
A ex-ginasta chegou à Rússia no centro das atenções após o acidente de sua companheira Laís Souza em treinos nos EUA – hospitalizada, Laís perdeu a vaga na Olimpíada. Josi admitiu que sua meta era se classificar para a Olimpíada de 2018, em Pyeongchang (Coreia do Sul), mas lidou bem com a pressão. Não chegou à final, mas foi aplaudida ao terminar na 22ª posição da classificação geral.
Leandro Ribela (cross country): em baixa
Em sua segunda participação olímpica, aos 33 anos, ainda não sabe se terá pique – inclusive financeiro – para mais um ciclo de quatro anos. No sprint masculino, foi o 80º colocado dentre os 86 inscritos na prova.
Maya Harrisson (esqui alpino): em baixa
É mais uma que pode ter se despedido das Olimpíadas de Inverno, já que declarou que pretende retomar os estudos. Com 21 anos, conseguiu o 39º lugar no slalom e o 54º no slalom gigante.