Terra testa transporte em Sochi e passa "sufoco" em ônibus
A forte segurança tem sido uma marca em Sochi antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. No entanto, outro fator chamou a atenção do Terra: o transporte público da cidade que recebe a 22ª edição da competição. De acordo com a organização da Olimpíada, mais de 360 km de pistas e pontes foram entregues, assim como a revitalização e ampliação do sistema de ferrovias ligando áreas importantes da região do Cáucaso. Os custos de infraestrutura, construção de estádios, segurança, entre outros, teriam passado de US$ 50 bilhões.
O Terra fez um pequeno teste para saber se o reformulado sistema de transporte está funcionando. O primeiro foi na linha de trem ligando o aeroporto ao centro de Sochi. Como é um ponto de ligação para os principais palcos de competições dos Jogos, todas as pessoas precisam passar por uma vistoria antes de adentrar nas estações, provocando filas em locais de mais fluxo de pessoas, como na região central da cidade. Os novos veículos estão impecáveis e o turista/torcedor pode desfrutar da vista do Mar Negro durante o percurso que passa dos 40 minutos.
O trem ficou com muitos espaços vazios e todas as pessoas tinham aquele espaço para tirar um cochilo ou até mesmo para poder andar pelo vagão tirando fotos e curtindo o passeio até Sochi. Um dos pontos percebidos é que há uma preocupação com os turistas e jornalistas estrangeiros. Cada vez que o trem se aproxima de uma estação, o autofalante fala em russo e em inglês, assim como há um letreiro com os dois idiomas.
Outro detalhe acompanhado foi a presença quase constante de seguranças sentados ou andando entre os vagões, em razão do temor de um atentado terrorista prometido por regiões contrárias ao governo do presidente Vladimir Putin. Em seguida, a principal aventura do dia ao optar por fazer o trajeto entre a estação de trem de Sochi e o hotel da equipe por um ônibus comum – há uma série de linhas geridas pelo Comitê Local, mas várias não passam por áreas descentralizadas.
Diferentemente dos trens, os ônibus que saem do Sochi para a região suburbana não passaram pela mesma reforma que os trens. Eles são em sua maioria de cor branca e tem a carenagem lembrando em parte os veículos do século passado, apesar de terem letreiros eletrônicos interna e externamente, e portas adaptadas para pessoas com necessidades especiais.
A linha escolhida para o trajeto foi a 153, que passa pelo distrito de Dagomys (mas em russo se fala Daugomyz). Na entrada, o motorista (e também cobrador) cobra os 40 rublos (cerca de R$ 2,75), mas com gestos diz que não entendeu o local no qual devo descer.
O veículo internamente tem uma aparência rústica, inclusive acumulando areia no chão que vem das botas e sapatos dos usuários. Em uma das viagens, houve dois lados do respeito do ser humano: um homem colocou uma mochila no banco ao lado e não deu ouvidos a uma senhora que pediu o lugar, mas em seguida liberou o espaço a um amigo que subiu no ponto seguinte. Por outro lado, várias pessoas com criança no colo tiveram o seu espaço cedido.
Na Rússia, as pessoas não costumam ter o domínio inglês, inclusive há um elevado número de voluntários em Sochi que também tem dificuldades para compreender os jornalistas e turistas ao serem abordados.
Dentro do ônibus, cresce-se a angústia por não saber aonde descer e nem para onde está indo o veículo. Conforme o tempo vai passando e aumenta a sensação de estar completamente perdido, falo de novo com o motorista: ‘Leningradskaya Street’ (em referência a rua do hotel). Uma senhora responde em russo e faz um gesto com a mão para ficar tranquilo.
Ao chegar na rua cortada pela Leningradskaya, a senhora levanta e desce comigo do ônibus apontando o local que me levaria ao hotel. Agradeço e comemoro a hospitalidade de uma pessoa que, apesar não compreender nada que eu dizia, teve o gesto cidadão de ajudar um mero desconhecido.
O transporte público em Sochi lembra em parte as principais cidades grandes brasileiras. Em uma área, o transporte público é de referência e moderno, mas em outras pode causar sérios transtornos e angústias para quem não conhece a região. Por sorte, geralmente os turistas costumam se hospedar próximos aos pontos de competição, porém devem evitar as aventuras de ir mais distante caso não dominem o idioma russo.