Lucas Prado acusa Joaquim Cruz de perseguição; ex-atleta cita suspeitas
- Danilo Vital
- Direto de Londres
O velocista cego Lucas Prado e o campeão olímpico Joaquim Cruz estão travando uma batalha nos bastidores dos Jogos Paralímpicos de Londres. Depois de ficar com a prata nos 100 m T11, o corredor acusou o ex-atleta brasileiro, que atualmente trabalha com atletas americanos e vive nos Estados Unidos, de perseguição para tentar sua reclassificação. Joaquim suspeita que Lucas consiga enxergar e leve vantagem indevida.
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"O Joaquim Cruz vem me perseguindo desde 2008, na Paralimpíada de Pequim, quando pediu para mudar a minha classificação. Ele entrou com pedido várias vezes dizendo que eu enxergava e fez até filme dizendo que eu deixei a minha cordinha cair no chão e eu mesmo peguei", denunciou o corredor, após sua última prova no evento de Londres. Em conversa com o Terra no Estádio Olímpico, o ex-corredor confirmou as suspeitas.
Lucas Prado perdeu a visão em 2002 após um descolamento de retina e desde 2006 pratica atletismo. Segundo informou, é cego total com alguma percepção luminosa em pontos periféricos, insuficientes para distinguir formas ou profundidade, por exemplo. Joaquim Cruz e a delegação americana entendem de outra forma e mantêm marcação cerrada sobre o atleta, com denúncias de trapaça na troca dos óculos utilizados nas competições, por exemplo.
"Eu adoro os brasileiros. Nunca deixei de ajudar o meu povo. Mas, acima de tudo, é minha obrigação proteger o esporte de uma forma geral. Houve reclamações dos próprios brasileiros sobre o Lucas, de que ele andou de moto... Não quero tocar muito no assunto para não levar para o lado pessoal", afirmou Joaquim Cruz. Segundo ele, as iniciativas contra o atleta têm apoio das delegações de Angola, Espanha, Portugal e "outros países".
"Três dias atrás ele trouxe dois óculos no bolso. Na hora de checar, o oficial deu um óculos para ele e, em seguida, alguém viu ele trocando. Aí o oficial pediu para que ele mudasse. Dali em diante começaram a pedir que checasse com mais cuidado", disse Joaquim Cruz. A desconfiança persistiu neste sábado, quando ele teria se apresentado com uma peça diferente. O assunto irritou muito Lucas Prado.
O corredor afirmou que membros do staff brasileiro tiveram que trazer o óculos à tarde para passar por avaliação. Antes da prova, delegados do Comitê Paralímpico Internacional (IPC) colocaram esparadrapos nas lentes. "Eles mudaram tudo porque eu estava sozinho e não falava inglês", disse Lucas. Segundo ele, isso o deixou mais tenso e pressionado, além de o fato de os esparadrapos incomodarem o ponto de contato com a pele.
Lucas Prado afirmou que foi avaliado em duas oportunidades por médicos do IPC - ambas após reclamações de americanos -, que confirmaram sua condição de cego total. O assunto fez o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons, ter uma reunião "a portas fechadas" com o órgão, segundo disse. "Sempre antes das competições eu tenho que provar que sou cego. Isso cansa, acaba atrapalhando", reclamou.
O atleta fez críticas pesadas ao campeão olímpico dos 800 m: disse que Joaquim Cruz é "baixo", joga sujo e que tem nojo dele. Alegou que foi ofendido pelo ex-corredor em um ônibus por estar batucando na lataria, o que não seria um comportamento comum para um cego, segundo teria dito Cruz. "Se os cegos dele não têm capacidade de correr o que eu corro, manda eles para o Brasil que o meu treinador faz eles correrem", provocou.
"Isso nunca chegou ao nível pessoal", rebateu Joaquim Cruz. "Estamos querendo proteger a classe. No ano que vem eles acho que eles vão melhorar, vão colocar uma venda ou algo assim. Mas não é nada pessoal", concluiu. Lucas ironizou a possibilidade: "vamos ver então se para 2016 a gente coloca uma capa no rosto que vá até o pescoço, para ver se consegue correr".