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Paralimpíada 2016

Como a China se tornou a maior potência paralímpica?

17 set 2016 - 08h41
(atualizado às 12h41)
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China lidera disparado quadro de medalhas no Rio e caminha para vencer sua quarta Paralimpíada
China lidera disparado quadro de medalhas no Rio e caminha para vencer sua quarta Paralimpíada
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A China lidera disparada o quadro de medalhas da Paralimpíada e caminha com facilidade para se tornar pela quarta vez a campeã da competição.

Até 8h deste sábado, o país tinha 217 medalhas, 91 a mais do que o segundo país mais vitorioso, o Reino Unido (126). As conquistas chinesas somam mais do que o dobro das dos EUA, conhecida superpotência esportiva (103 medalhas no total).

A rápida ascensão da China nos últimos 15 anos coincide com a escolha de Pequim em 2001 para sediar a Olimpíada e a Paralimpíada de 2008, explicou à BBC Brasil Guan Zhixun, professor da Faculdade de Esportes e Saúde da Zhejiang Normal University.

A partir de então, disse ele, o governo chinês ampliou os investimentos nos esportes paralímpicos e também em propaganda para promover valorização da competição na sociedade chinesa. O objetivo era recrutar atletas e garantir o sucesso dos Jogos no país, com um maior envolvimento do público.

Além disso, o governo da China viu a oportunidade de usar a Paralimpíada como uma "ferramenta educacional" para mudar a forma como as pessoas com deficiência eram vistas pela população, acrescenta o especialista.

"Isso foi uma novidade. O país não experimentou esse movimento antes, como países do Ocidente. A cultura tradicional da China via os deficientes como pessoas inúteis. Agora, os chineses começam a vê-los como pessoas que enfrentam desafios", assinala Guan.

O professor já foi treinador de duas modalidades paralímpicas ─ natação e bocha. Depois, fez um doutorado sobre Paralimpíada na China em uma universidade australiana (University of Western Australia). Na sua avaliação, é difícil medir qual o impacto do sucesso da China na competição sobre o dia a dia dos deficientes no país, mas diz que houve avanços.

"Acredito que a atitude dos cidadãos em relação a pessoas com deficiência melhorou rapidamente nos últimos anos, depois que a China ganhou três vezes as Paralimpíadas", observou, em referência às vitórias em Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012).

As competições paralímpicas tiveram início em 1948 na Inglaterra, mas a China só passou a enviar atletas em 1984. E foi justamente nos anos 80 que o governo passou a ter políticas públicas focadas nos deficientes.

A Federação Chinesa de Pessoas com Deficiência, instituição semigovernamental, foi fundada em 1998 pelo filho de Deng Xiaoping (ex-líder chinês), Deng Pufang, que ficou paraplégico após ser torturado durante a Revolução Cultural, movimento sociopolítico lançado para preservar a "verdadeira" ideologia comunista.

Segundo Guan Zhixun, a instituição teve papel central na melhora do desempenho da China na Paralimpíada.

A federação tem atuação em todo país, com braços regionais e locais. Por meio dela, o governo investe no atendimento às pessoas com deficiência, inclusive no treinamento de atletas e treinadores paralímpicos.

Dados de 2014 apresentados pela federação, por exemplo, mostram que naquele ano o país realizou 20 competições nacionais de esportes paralímpicos, com a participação de mais de 6 mil deficientes. Já no nível municipal, foram promovidos 5.544 eventos, com participação de 694 mil pessoas.

Chefe de missão na China da ONG Handicap International, Alessandra Aresu também destaca o papel da Federação Chinesa de Pessoas com Deficiência na melhoria do tratamento dos deficientes no país.

Ela nota que a instituição nasceu pequena, mas três décadas depois tem uma grande estrutura, em todo o país. Sua equipe conta com 120 mil funcionários.

"O movimento de pessoas com deficiência na China é muito recente, mas muito foi feito nesse período, ainda mais se você considerar o tamanho do país e a quantidade de pessoas com deficiência (mais de 80 milhões)", notou.

"Comparado com muitos países em desenvolvimento onde a estrutura é fraca, às vezes devido à falta de recursos, a China possui uma estrutura expressiva e investiu muito dinheiro nisso", disse ainda.

Apesar disso, Aresu aponta que ainda é importante melhorar a qualidade das políticas, que são predominantemente focadas em tratamento médico e em ações caridade. Na visão dela, é importante adotar um "modelo social", que valorize as habilidades dessas pessoas.

"O jeito que o deficiente é visto aqui é mais pelo que ele não tem do que por suas habilidades e capacidade. Até recentemente, no entanto, os deficientes eram tratados na China como inúteis. Esse é o jeito tradicional de lidar com pessoas com deficiência que não é mais usado agora. Foi um grande avanço", ponderou.

Maior delegação

Além da atuação do governo, outro fator que ajuda a explicar o bom desempenho da China na Paralimpíada é o grande número de pessoas com deficiência no país. A delegação chinesa paralímpica é a maior no Rio, com 308 atletas.

De acordo com o Instituto Chinês de Deficiência, da Renmin University, em Pequim, havia 83 milhões de pessoas com deficiência no país em 2009, número equivalente à população da Alemanha.

A China é a nação mais populosa do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes.

Polêmica

O alto rendimento dos atletas chineses, no entanto, não ficou imune a críticas.

A delegação brasileira levantou suspeitas, na disputa do 4 por 50 misto, categoria 20 pontos de natação, que o gigante asiático possa estar se beneficiando da classificação incorreta de seus paratletas, com a inscrição de competidores em categorias com grau de dificuldade abaixo do seu potencial de desempenho.

Nessa modalidade, a equipe é formada por dois homens e duas mulheres e suas classificações de deficiência devem somar 20 pontos.

Segundo Guan Zhixun, cultura tradicional da China via deficientes como "pessoas inúteis"
Segundo Guan Zhixun, cultura tradicional da China via deficientes como "pessoas inúteis"
Foto: Arquivo pessoal/Guan Zhixun / BBC News Brasil

A equipe brasileira, detentora do melhor tempo na categoria, era favorita, mas os chineses venceram, conseguindo diminuir recorde mundial em 11 segundos.

O presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), Philip Craven, disse que o caso seria analisado.

"Tivemos uma reunião muito rápida e informal no IPC e essa questão foi levantada. (…) Os atletas brasileiros têm dado declarações e vamos levar em conta, porque somos uma entidade centrada nos atletas. Vamos averiguar", afirmou, segundo reportagem do jornal Estado de S.Paulo.

A classificação costuma ser feita por técnicos locais, credenciados pelo Comitê Paralímpico Internacional.

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