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Paralimpíada 2016

'Esporte paralímpico ainda não mudou preconceito no Brasil', diz ex-chefe da delegação brasileira

16 set 2016 - 08h17
(atualizado às 10h03)
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Apesar do sucesso das Paralimpíadas, a sociedade brasileira ainda não mudou o preconceito em relação aos deficientes e o esporte olímpico. Essa é a opinião de Alberto Martins da Costa, que esteve à frente da delegação brasileira em três Paralimpíadas - Sydney (2000), Atenas (2004) e Pequim (2008).

A Academia e o Comitê Paralímpico Brasileiro têm recebido demandas de deficientes físicos buscando informações sobre como ingressar no esporte.
A Academia e o Comitê Paralímpico Brasileiro têm recebido demandas de deficientes físicos buscando informações sobre como ingressar no esporte.
Foto: BBC Sport

Porém, ele acredita que o país esteja "próximo" de mudar seus paradigmas - com a a ajuda do esporte. "O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação de si mesmo na busca da melhor performance. É a obtenção de marcas, dos melhores tempos, de quebra de recordes, da vitória sobre os adversários."

Doutor em Educação Física, ele já não chefia os atletas: atualmente, preside a Academia Paralímpica Brasileira, criada em 2010 para agregar os estudos em torno do esporte paralímpico no país.

Em entrevista à BBC Brasil, Costa afirma que já é possível perceber reflexos do sucesso do evento junto a muitos deficientes físicos, que têm entrado em contato com a Academia para buscar informações sobre como ingressar no esporte.

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Veja os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil - Que tipo de impacto real o senhor acredita que ter sediado os Jogos pode trazer para os deficientes físicos no país?

"O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação consigo mesmo."
"O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação consigo mesmo."
Foto: Arquivo Pessoal

Alberto Martins da Costa - Muitas pessoas no Brasil nem sabiam que o esporte paralímpico existia. Sediar os Jogos aumentou a visibilidade e já estamos percebendo um reflexo disso.

Desde o início da Paralimpíada temos recebido na Academia Paralímpica Brasileira e no Comitê Paralímpico Brasileiro uma série de demandas e emails de deficientes que estão assistindo aos Jogos e nos questionam sobre como fazer para ingressar no esporte.

Muitos ídolos que temos hoje, como o nadador Daniel Dias, e outros que conquistam diversas medalhas, também se espelharam em atletas paralímpicos para começarem suas carreiras.

Nossa orientação é de que procurem associações para pessoas com deficiências em suas cidades e Estados e que tomem o primeiro passo para iniciarem a prática do esporte.

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BBC Brasil - Muitos deficientes se queixam de preconceito e falta de políticas públicas, como calçadas e ônibus adaptados e mais chances profissionais. Como o senhor vê a questão?

Costa - É fato que a sociedade brasileira ainda tem preconceito contra o deficiente físico e o atleta paralímpico. Não só no Brasil mas também em outros países estamos próximos de uma mudança de concepção, mas ainda precisamos avançar mais, e o esporte ainda não mudou este preconceito.

No entanto, é preciso dizer que o esporte é o principal instrumento para essa nova forma de a sociedade encarar essas pessoas. O próprio conceito de esporte paralímpico como a atividade desenvolvida por atletas de alto rendimento, de alta performance, que se submetem a intensos treinamentos para alcançar suas metas, é uma mudança importante.

"Precisamos parar de bater nessa tecla da deficiência e mudar a concepção de esporte paralímpico para esporte de alta performance"
"Precisamos parar de bater nessa tecla da deficiência e mudar a concepção de esporte paralímpico para esporte de alta performance"
Foto: Arquivo Pessoal

Não se trata de um olhar de pena. O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação de si mesmo na busca da melhor performance. É a obtenção de marcas, dos melhores tempos, de quebra de recordes, da vitória sobre os adversários.

Precisamos parar de bater nessa tecla da deficiência e mudar a concepção de esporte paralímpico para esporte de alta performance, de alto rendimento, seja ele praticado por pessoas com ou sem deficiência.

BBC Brasil - Um jornalista português usou termos fortes ao afirmar que os Jogos Paralímpicos são um "espetáculo grotesco" e que servem "apenas para preencher a agenda do politicamente correto". Como o senhor responderia a isto?

Costa - É uma opinião extremamente infeliz, de quem não conhece o esporte paralímpico, não sabe o que está por trás dele, não sabe o que ele traz para as pessoas que praticam essas modalidades, e desconhece o fato de que o esporte paralímpico é a principal ferramenta para mostrar a capacidade e a potencialidade das pessoas com deficiência. Demonstra falta de conhecimento dele não só sobre o esporte paralímpico mas sobre a vida das pessoas com deficiência.

BBC Brasil - Como o senhor explica o bom desempenho do país nos Jogos Paralímpicos?

Costa - Há uma série de fatores. O primeiro são os atletas, a qualidade dos nossos competidores e o treinamento que realizam. O segundo é a organização administrativa do desporto paralímpico no país. Temos um bom planejamento de metas, que se mostrou eficiente nos últimos dois ciclos (Londres e Rio), e o cumprimento do investimento planejado para o esporte. O fato de o Brasil ter fechado a Paralímpiada de Londres na 7ᵃ posição geral e ter colocado como meta fechar entre os cinco primeiros no Rio de Janeiro também motivou esse sucesso.

BBC Brasil - Entre as modalidades paralímpicas há destaque para o atletismo e a natação, que costumam dar os maiores números de medalhas para o Brasil. Como o senhor explica a diferença em relação aos outros esportes?

Costa - Pelo grande número de provas e categorias, é natural que tenhamos número maior de medalhas para o Brasil nestes dois esportes. Por outro lado, são modalidades que não exigem uma gama de equipamentos e aparato técnico quanto as outras, e portanto os nossos paratletas podem treinar e se aprimorar sem grandes problemas. É muito mais fácil formar paratletas nestes dois esportes em comparação a outros.

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