'Experiência sensorial' abre Paralimpíada do Rio, que reúne 4,3 mil atletas após entraves na organização
Uma 'experiência multisensorial' abre na noite desta quarta-feira a Paralimpíada do Rio, que terá competições com 4,3 mil atletas de 159 delegações de países.
A cerimônia no Maracanã começou com um vídeo de Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional e paratleta nos anos 1970 e 80, preparando sua viagem ao Rio e passando antes por Belém até chegar ao Maracanã para fazer a contagem regressiva aos Jogos.
Depois de um salto mortal de Aaron "Wheelz" Fotheringham em cadeira de rodas, o gramado do Maracanã teve a apresentação de uma roda de samba com artistas como Maria Rita e Diogo Nogueira.
Uma projeção "criou" uma piscina no estádio, atravessada a nado pelo campeão paralímpico brasileiro Daniel Dias.
Cenas cariocas foram então apresentadas ao som de Aquele Abraço, de Gilberto Gil, e de música funk. O maestro João Carlos Martins tocou o hino nacional no piano, precedendo os desfiles das delegações dos países participantes.
A cerimônia começou com o Maracanã às escuras. Organizadores haviam adiantado à BBC Brasil que pretendiam "cegar" momentaneamente a plateia no estádio para estimular outros sentidos, sobretudo a audição, e aproximar o público da realidade dos atletas paralímpicos.
Na parte final da cerimônia, o nadador Antônio Delfino passou a chama paralímpica para a atleta Márcia Malsar. Ela, que anda com a ajuda de uma bengala, caiu, levanta-se e emocionou plateia.
O nadador Clodoaldo Silva recebeu a tocha de Adria Rocha e viu formarem se rampas em meio a uma escadaria no meio do Maracanã. Numa referência de incentivo à acessibilidade, ele subiu pelas rampas e acendeu a pira.
Vaias
Durante discurso do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, os espectadores vaiaram quando ele citou a atuação do poder público e aplaudiram quando ele falou sobre os atletas. A intensidade das vaias obrigou Nuzman a fazer uma pequena pausa em seu pronunciamento.
O presidente da República, Michel Temer, recebeu muitas vaias ao declarar a abertura dos Jogos. A festa ocorre após momentos conturbados nos preparativos para os Jogos.
O primeiro deles foi a baixa quantidade de ingressos vendidos nos primeiros dias de oferta, o que despertou preocupações de que os paratletas competissem diante de arenas muito vazias no Rio.
Na reta final, porém, as vendas aumentaram. Segundo os organizadores, até esta quarta haviam sido vendidos 1,6 milhão de ingressos.
E é possível que a Paralimpíada brasileira seja a segunda com maior número de entradas vendidas na história, ultrapassando Pequim 2008 (1,7 milhão) e ficando atrás somente de Londres 2012, que vendeu 3 milhões de ingressos.
Crise financeira
Outra preocupação foi a crise orçamentária do Rio, que colocou a vinda de delegações estrangeiras em xeque.
Até poucos dias atrás, ainda havia países que não tinham recebido o dinheiro para as passagens aéreas, diante da crise orçamentária na organização do megaevento. A Prefeitura do Rio precisou fazer repasses extras para financiar a vinda dos paratletas.
Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, disse que houve grande temor de que a crise inviabilizasse os Jogos. "Tivemos grandes dificuldades, mas isso serve para mostrar o espírito do movimento (paralímpico)", afirmou.
Rússia ausente
A terceira polêmica envolveu a delegação russa, banida dos Jogos pelo Comitê Internacional depois de o país ser acusado de financiar um esquema estatal de doping.
Ao contrário do que ocorreu na Olimpíada, que permitiu que federações esportivas decidissem individualmente se atletas russos poderiam competir em cada modalidade da Rio 2016, na Paralimpíada o veto foi para toda a delegação.
A Rússia entrou com recurso contra a proibição, mas não teve sucesso.
Cerimônia de abertura
Leo Caetano, diretor de cerimônias do Comitê Rio 2016, explicou na véspera à BBC Brasil que a cerimônia de abertura não queria focar nas deficiências e "transcender esse discurso, essa narrativa de superação" comumente associada a deficientes físicos.
"Fala-se (na cerimônia) em adaptação e universalidade, o mesmo acesso, o mesmo projeto, a mesma entrada em que todos possam conviver, em que todos possam passar, todos tenham direito à mesma experiência", explicou.