#SalaSocial: Nos EUA, caso Lochte é chamado de 'apoteose do que é feio nos americanos'
Depois de imagens de câmeras de segurança de um posto de gasolina colocarem em xeque a versão do assalto relatado por nadadores americanos e de fontes policiais afirmarem que os atletas podem ter "inventado" o episódio na tentativa de camuflar uma "algazarra" causada por eles próprios no local, usuários de redes sociais mudaram o tom dos comentários sobre o caso.
O episódio dominou as manchetes dos sites dos principais jornais e redes de TV na manhã desta quinta-feira e assumiu ares de escândalo ao ser compartilhado no Twitter com a hashtag #lochtegate, referência à Ryan Lochte, estrela da natação americana e personagem central do caso.
A polícia do Rio desconfia da versão dos nadadores, que disseram ter sido assaltados na madrugada de domingo por homens que se identificaram como policiais, após deixarem uma festa na região da Lagoa Rodrigo de Freitas em um táxi rumo à Vila dos Atletas.
Diante de possíveis inconsistências nos depoimentos de Lochte e de James Feigen, a Justiça expediu ordens para apreender os passaportes dos dois. Lochte, contudo, já havia deixado o Brasil, e Feigen não foi localizado na Vila dos Atletas. Outros dois nadadores envolvidos estão na delegacia policial para prestar depoimento.
Até agora, os americanos estavam céticos sobre a versão das autoridades brasileiras que questionavam os americanos. No Twitter, post da usuária Julie Hahn, na manhã desta quarta-feira, afirmava: "Brasil, você está começando a parecer estúpido".
Mas, após a divulgação do vídeo, a repercussão nas redes sociais mudou. A repórter Lydia Polgreen, do jornal The New York Times, afirmou na conta pessoal no microblog: "Essa história do Lochte é a apoteose do que é feio nos americanos", citou, fazendo referência ao termo "ugly American", comumente usado para se referir à percepção negativa sobre o comportamento dos norte-americanos.
A mesma expressão foi usada por Eric Fansworth, vice-presidente do Conselho das Américas, organização dedicada ao debate sobre educação nos EUA. Para ele, além de Ryan Lochte, a goleira da seleção feminina de futebol do país também teria representado o pior dos EUA.
"Na Rio 2016, os americanos feios: primeiro #HopeSolo, agora #RyanLochte e colegas. Isso mancha a reputação deles, não a do Rio de Janeiro", disse ele sobre o episódio.
Algumas postagens também questionam a tentativa de Lochte de, segundo essa linha de interpretação, "enganar as autoridades".
"Já imaginou ser Ryan Lochte e pensar que você pode ser mais esperto que o mundo todo?", disse a escritora Kara Brown, que escreve para a revista online Jezebel.
Mesmo adotando tom mais crítico contra o nadador, alguns americanos mantêm a ironia sobre as mazelas brasileiras e minimizam a atitude do atleta.
O jornalista Dan Primack, da revista Fortune, fez referência à má qualidade das águas da Baía de Guanabara, que não foi despoluída para os Jogos Olímpicos, para comentar o caso.
"Como punição, Lochte será forçado a nadar ao ar livre no Rio de Janeiro?", questiona.
"A polícia do Rio quer esclarecer logo o #lochtgate para que os defeitos voltem a ser apenas a água verde das piscinas, o vírus zika, as mortes em obras olímpicas e a violência nas ruas", diz outro tuíte, do usuário Nick Shroeber.
O jornal de esquerda The Nation, no entanto, diz que os brasileiros "estão cansados" e que Lochte seria apenas um dos muitos "turistas privilegiados de primeiro mundo".
Em reportagem assinada pelo editor de esportes Dave Zirin e publicada nas redes sociais, o jornalista sugere que o nadador "parece ter acreditado no velho axioma imperial de que não há pecado abaixo do Equador".