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Superação

Conheça o gaúcho que ficou amigo de Mohammad Ali por um dia

O ex-atleta de tiro esportivo Jean Labatut costuma dizer que a carreira foi como uma faculdade, com aprendizados para o resto da vida

18 ago 2016 - 10h00
(atualizado às 14h42)
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Quem vê o ex-atleta olímpico gaúcho Jean Labatut hoje, 20 anos após os Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, nos Estados Unidos, sabe que seus talentos continuam rendendo frutos. Com 45 anos, é um pai coruja (seu filho Gabriel está com quase três anos), empresário e, digamos, um atleta por hobby. Em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Labatut continua praticando o tiro esportivo por lazer, participando de alguns campeonatos internos e estaduais e até ganhando de vez em quando.

Um dos caxienses convidados a carregar a Tocha da Rio 2016, Jean Labatut, hoje com 45 anos, continua praticando o tiro esportivo por lazer, participando de alguns campeonatos internos e estaduais e até ganhando de vez em quando
Um dos caxienses convidados a carregar a Tocha da Rio 2016, Jean Labatut, hoje com 45 anos, continua praticando o tiro esportivo por lazer, participando de alguns campeonatos internos e estaduais e até ganhando de vez em quando
Foto: Acervo pessoal / Divulgação

Um dos caxienses convidados a carregar a Tocha da Rio 2016, Labatut relatou com exclusividade ao Terra as lembranças de Atlanta, o momento em que conheceu a lenda do pugilismo mundial Mohammad Ali e também sobre como o esporte moldou sua visão de mundo e continua a permear todas as suas relações cotidianas.

Terra – Quais lembranças guarda de seu momento em Atlanta 1996?

Jean Labatut – Posso dizer que os dias na vila foram de muitas surpresas, bate-papos com atletas das mais variadas modalidades e nacionalidades e, principalmente, de descanso, pois o dia a dia de treinamento era muito cansativo. Tive a oportunidade de assistir vários shows, entre eles o de Ziggy Marley, que foi ao ar livre, no final do dia. Um prêmio para todos. Mas eu também tinha que cumprir com as minhas rotinas físicas, passadas pelo meu preparador. O campo de tiro da olimpíada, Wolf Creek, ficava a duas horas da vila e eu tinha que acordar todos os dias às 5h. Como eu era o único atirador da equipe de tiro do Brasil a me classificar para Atlanta, entre 15 modalidades diferentes, eu não tinha uma parceria fixa. Ora estava com os gaúchos do Remo, ora com o pessoal do handebol e ora com os próprios amigos da minha modalidade.

Labatut conheceu o ícone do pugilismo, Mohammad Ali, sem querer. A foto aconteceu quando o ex-atleta estava conhecendo a Vila Olímpica e foi abordado por um fotógrafo que perguntou se ele era atleta. Diante da confirmação, foi colocado ao lado de Ali e clicado!
Labatut conheceu o ícone do pugilismo, Mohammad Ali, sem querer. A foto aconteceu quando o ex-atleta estava conhecendo a Vila Olímpica e foi abordado por um fotógrafo que perguntou se ele era atleta. Diante da confirmação, foi colocado ao lado de Ali e clicado!
Foto: Acervo Pessoal / Divulgação

Terra – Você conheceu Mohammad Ali?

JL – Após o termino da minha competição fui conhecer a vila, porque antes disso ficava somente com a rotina de treinos e descanso. Em uma dessas voltas, eu estava na área internacional e de repente vi um tumulto de pessoas com seguranças acompanhando um carrinho de golfe. Até então, não estava entendendo muito bem, mas comecei a filmar. Do nada surge um cara esbaforido e todo suado com uma credencial e alguns equipamentos de fotografia. Ele olhou para mim e perguntou: “Você é atleta?” Eu disse: “Sim, sou atleta”. Ele olhou o meu crachá, me pegou pelo braço, afastou os seguranças e a staff que estava em torno, me posicionou ao lado do Mohammad e tirou uma foto, fiquei atônito. Pedi pra ele me enviar a foto por correio, mas acho que ele não entendeu muito bem e foi embora. De volta ao Brasil, um amigo do COB me liga falando: “Está famoso, hein, Labatut, apareceu uma foto sua com o Ali em meia página do Olimpiam (um diário que falava dos atletas, resultados, etc.)”. Ele me mandou uns exemplares que guardo comigo até hoje. Foi realmente uma lembrança bem legal daquela Olimpíada.

Terra – Como começou no esporte?

JL – Comecei acompanhando o meu pai e meus tios nas competições e treinos, quando tinha entre 10 e 12 anos. Aos 13 anos, meu pai me liberou para dar alguns tiros nos treinos. Minha primeira competição foi na Sociedade de Caça e Tiro de Viamão, no Rio Grande do Sul. Acho que tinha uns quatro juniores competindo comigo. Não me lembro bem, mas acho que fiquei com o segundo lugar. Para mim foi um marco, pois voltei com a minha primeira medalha no pescoço.

“Minha primeira competição foi na Sociedade de Caça e Tiro de Viamão, no Rio Grande do Sul. Acho que fiquei com o segundo lugar. Para mim foi um marco, pois voltei com a minha primeira medalha no pescoço.”
“Minha primeira competição foi na Sociedade de Caça e Tiro de Viamão, no Rio Grande do Sul. Acho que fiquei com o segundo lugar. Para mim foi um marco, pois voltei com a minha primeira medalha no pescoço.”
Foto: Acervo Pessoal / Divulgação

Terra – Existe alguém em quem se inspirou?

JL – Sem dúvida meu pai, Sr. Darte Labatut, grande desportista, ganhador inclusive de uma medalha de ouro por equipe na Copa do Mundo do México, em 1988. Foi um grande feito, ninguém imagina o que aquela vitória representou na época. Ele também é ex-presidente da Federação Gaúcha de Caça e Tiro e ex-vice-presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE).

Terra – Como leva os ensinamentos do esporte para o dia a dia?

JL – Costumo dizer que minha carreira esportiva equivaleu a uma faculdade, pelos diferentes tipos de pessoas com quem me relacionei, os lugares e culturas que conheci e o convívio diário com frustação, fracasso, desânimo, mas também com sucessos e vitórias alcançadas. Tudo isso faz com que você caia e se levante continuamente, trazendo toda essa bagagem para sua vida pessoal.

Terra – Você carregou a Tocha Rio 2016 e também viu um brasileiro se destacar nessa modalidade, Felipe Wu. Sente que, de alguma forma, também faz parte desse momento?

JL – Carregar a tocha foi um momento descrevo como fechamento do meu ciclo esportivo, coincidindo com os 20 anos que se passaram desde que eu fui para as Olimpíadas, marcando mais uma vez esta maravilhosa fase da minha vida, deixando uma lembrança viva e atualizada da minha história esportiva, uma espécie de legado pessoal para a minha esposa, Cristiane Zanotto Labatut, e meu filho Gabriel, que hoje está quase com três anos. Quanto ao feito do Felipe Wu, não posso comparar a uma simples participação em Olimpíadas. O que ele conquistou foi algo tão grandioso para o Tiro Brasileiro, e que talvez leve mais 96 anos para uma nova conquista.

“Costumo dizer que minha carreira esportiva equivaleu a uma faculdade, pelos diferentes tipos de pessoas com quem me relacionei, os lugares e culturas que conheci e o convívio diário com frustração, fracasso, mas também com sucessos e vitórias alcançadas.”
“Costumo dizer que minha carreira esportiva equivaleu a uma faculdade, pelos diferentes tipos de pessoas com quem me relacionei, os lugares e culturas que conheci e o convívio diário com frustração, fracasso, mas também com sucessos e vitórias alcançadas.”
Foto: Acervo Pessoal / Divulgação

Terra – E os valores olímpicos, seguem fortes no seio de sua família? Vai passa-los ao Gabriel?

JL – Com certeza. Mas o que eu realmente quero é que o Gabriel tenha gosto pelo esporte em geral, independente da modalidade. O esporte reforça o caráter, enobrece a alma, acalma a mente e ensina a viver com os sucessos e fracassos do dia a dia.

Fonte: Terra
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