‘Aprendi a me superar lutando judô. E incorporei isso’
Com exclusividade ao Terra, Aurélio Miguel, medalha de ouro do judô em 1988, diz como a superação mudou sua trajetória
O ano era 1988 e o local era Seul, a vibrante e iluminada capital da Coréia do Sul. Pela televisão, milhões de brasileiros acompanhavam o desempenho da delegação brasileira nas Olimpíadas – discreto, é verdade. Mas, nos tatames, começava a se desenhar aquela que seria uma das maiores glórias do esporte nacional: a primeira medalha de ouro de um judoca brasileiro na categoria meio-pesado.
O autor da façanha foi o paulistano Aurélio Fernández Miguel, hoje com 52 anos.
A história de Aurélio impressiona. Com problemas respiratórios, por orientação médica, seus pais, espanhóis de Barcelona, buscaram uma atividade física para minimizar a doença. Escolheram o judô e o matricularam em um clube. Aurélio tinha apenas quatro anos de idade.
Meses mais tarde, passou a treinar em uma academia de bairro, junto ao seu primeiro mestre, sensei Massao Shinohara.
“Eu não gostava de competir”, revelou. Em 1972, porém, aos oito anos, ele ganhou seu primeiro título: campão pré-mirim do Torneio Budokan.
Começava ali uma das mais completas trajetórias de um judoca brasileiro.
“Aprendi a me superar lutando judô. Aprendi e incorporei. Foi um aprendizado lento e árduo. Mas que carregarei comigo sempre, por toda a minha vida e em todas as minhas atividades”, diz o campeão, hoje vereador por São Paulo, ao Terra.
Graças ao gosto pelos combates e unindo determinação, disciplina técnica e tática e uma incrível dedicação aos treinos, Aurélio tornou-se um judoca altamente competitivo.
Foi prata e bronze no Campeonato Mundial de Judô e, nas Olimpíadas de Atlanta 1996, ganhou bronze, sua segunda medalha olímpica.
Para o medalhista de ouro de 1988, são muitos os exemplos de que o esporte muda vidas: “O Instituto Reação é um dos exemplos. Há outros, mas nos fixemos nesse: a campeã olímpica da Rio 2016, Rafaela Silva, chegou lá através desse trabalho social, cujo principal de ação é o esporte. Mas outras centenas de judocas passam pelos tatames e salas de aula do Reação. Ali aprendem ser cidadãos e têm diante de si o exemplo de que seus sonhos podem ser alcançados, dentro ou fora do tatame. No esporte ou em outras situações. Não sem esforço e muito trabalho, mas de modo concreto.”
Em 2001, Aurélio Miguel encerrou sua carreira esportiva para buscar novos rumos e optou por dedicar-se a programas sociais e à política. Em todas as atividades, porém, leva consigo os ensinamentos e a disciplina da arte suave.