Da superação à glória olímpica
O nome desse judoca é superação
O Brasil conta hoje com dois milhões de praticantes de judô. A arte, desenvolvida no Japão pelo professor Jigoro Kano e criada para ser um projeto educacional, em 1882, funde o antigo ju-jutsu com técnicas suaves de arte corporal e uma concepção nobre: equilibrar físico, mente e espírito.
Essa técnica de defesa pessoal, que ensina a lutar – e jamais brigar – conquistou rapidamente adeptos no Japão e em todo o mundo por seu âmbito competitivo e comportamental.
E embora seja amplamente difundida no Brasil, poucos – aliás, pouquíssimos – judocas tiveram a glória de receber uma medalha olímpica.
Esse número fica ainda mais reduzido, quando falamos da mais desejada de todas, a medalha de ouro.
O santista Rogério Sampaio, que completa 50 anos no ano que vem, é um desses privilegiados.
Mas quem viu o campeão brilhar nos tatames de Barcelona, em 1992, não imagina que aqueles dias, embora especiais, eram apenas a coroação de uma trajetória iniciada muito antes, mais precisamente com apenas 4 anos de idade.
Caçula da família de três filhos, Rogério iniciou no Judô ainda criança, acompanhando seu irmão Ricardo. Adolescente, decidiu buscar o aperfeiçoamento e investir em treinamentos físicos e técnicos.
“Essa vontade de se tornar atleta de alto nível, na verdade, veio pelo meu irmão. Ele era quatro anos mais velho e se destacava, já conquistava o Campeonato Paulista e estava entre os melhores do Brasil”, recordou Rogério, em entrevista ao site da Rio 2016, referindo-se a Ricardo, que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Seul 1988.
Ricardo, porém, não viveria para ver a glória máxima de seu irmão. Em 1991, para baque geral da família, após uma crise de depressão, ele tirou a própria vida.
Superação e resultado
A perda do irmão, amigo e mentor impactou diretamente Rogério Sampaio. E, mais uma vez, usando o esporte como inspiração e força, se reergueu, apesar dos obstáculos.
Sagrou-se campeão em disputas no Brasil e exterior, até chegar ao inesquecível dia 1º de agosto de 1992.
A Arena Palau Blaugrana, em Barcelona, era o palco. E o obstáculo era o húngaro Jozsef Csak.
Rogério Sampaio, até então desconhecido do grande público, inclusive dos brasileiros, venceu e escreveu seu nome na história do esporte.
E não parou por aí. Ele também conquistou o prêmio da FIJ – Federação Internacional de Judô, como Melhor Judoca do Mundo.
A história de Rogério Sampaio rumo à conquista virou até documentário: Ippon - A superação olímpica de Rogério Sampaio, dirigido por Carlos Vinicius Borges (Caví Borges) e Leonardo Mataruna.
“Uma das coisas mais difíceis quando você é campeão olímpico, e que é uma batalha interior, é você conseguir manter a humildade. As coisas mudam a sua volta. Você não pode mudar”, disse o atleta ao site Rio 2016.
Campeão dentro e fora dos tatames, o campeão deu forma a um sonho, em 1993, criando a Associação de Judô Rogério Sampaio, em Santos. E criou um sistema de ensino próprio, que combina ensinamentos de base com a formação complementar da escola e da família.