Futebol dribla as fronteiras sociais para formar cidadãos
Projeto Um Passe Para a Educação, que atende 160 crianças em Paraisópolis, São Paulo, já é referência na zona sul paulistana
Idealizado pela professora de Educação Física e Personal Trainer, Regina Queiroz, o projeto Um Passe Para a Educação, de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, surgiu com o intuito de ensinar futebol para 20 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Mas foi além e, hoje, é uma referência na ainda carente região paulistana.
Ao Terra, Ana Rosa Enriquez, fundadora da entidade Instituto Por Mais Alguém, gestora do projeto Um Passe Para a Educação, revelou os alicerces da iniciativa: “A superação é uma constante na vida de muitas crianças e adolescentes de comunidades. Existem as limitações financeiras, a criminalidade, o convívio com as drogas, poucas perspectivas de investir no estudo e o preconceito. Mas, se por um lado há dificuldades, entendo que elas geram um valor incomparável e um fortalecimento de caráter ímpar em cada vitória alcançada. E não me refiro às vitórias nos campos, mas a vitórias sobre nós mesmos. Nós somos nossas escolhas”.
A iniciativa foi criada em 2007, mas apenas em 2013 começou a fazer parte da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte, que permite que empresas direcionem até 3% do ICMS para financia-lo.
A partir de então, seus alunos foram beneficiados com materiais para a prática esportiva, reforço alimentar e uma quadra exclusiva para os treinos. Além disso, a ONG também realiza palestras educativas para familiares e leva os estudantes para competir em torneios e campeonatos.
De acordo com Ana Rosa, “a questão principal do Um Passe Para a Educação não é o rendimento esportivo, as vitórias ou a profissionalização, mas sim dar uma base educacional e o ensino de valores como o companheirismo, a disciplina, o respeito, a perseverança e o trabalho em grupo. E o esporte é um campo muito fértil para isso”.
Aluno joga pelo Fluminense
Hoje, o projeto atende 160 crianças e jovens, de 8 a 17 anos. “Essas crianças, no ‘pós-escola’ têm poucas opções construtivas, a não ser os projetos sociais e alguns espaços públicos. O esporte possibilita um grande auxilio para a formação moral e comportamental deles. Podemos ver que aqueles que participam do projeto apresentam menos agressividade, aumento da responsabilidade e da concentração, criação de objetivos para vida, maior socialização, diminuição da evasão escolar e aumento da autoconfiança”, comenta a fundadora do Instituto.
Um dos alunos, Hans Freitas, hoje participa do Sub 17 do Fluminense, no Rio de Janeiro. “Ele é um menino muito promissor e esperamos que ele consiga se destacar nesse cenário tão concorrido e difícil que é o futebol. Sempre se esforçou muito e merece. Até para servir de incentivo a outros meninos da comunidade”, diz Ana Rosa, orgulhosa.
Os treinos, com duração de 90 a 120 minutos, acontecem duas vezes ao dia, de segunda a sexta-feira, para dez turmas, divididas segundo faixa etária, habilidade técnica e turno escolar.
Para participar das aulas, no entanto, é necessário estar na escola e apresentar comprometimento com o grupo, não faltando aos treinos.
Deste projeto, segundo os gestores adiantaram ao Terra, surgiram outras iniciativas, como o Projeto Faça Parte, idealizado e executado por Rafaela Grabert Goldlust, em que são realizadas visitas a exposições de arte e parcerias com artistas que ministram workshops para grupos de crianças da comunidade.