‘Para quem dedica a vida à vitória, não existe plano B’
Qual o papel da superação na vida de um atleta? A a autora do livro ‘Atletas Olímpicos Brasileiros’, Profa. Dra. Katia Rubio, explica
Como os atletas olímpicos trabalham a própria superação? Como lidam com a derrota e a vitória? Para sabermos mais, ouvimos a Profa. Dra. Katia Rubio, da Universidade de São Paulo, autora de Atletas Olímpicos Brasileiros (Sesi-SP Editora). Nos últimos dez anos, a Profa. Katia, membro da Academia Olímpica Brasileira, publicou e organizou 17 livros na área de Psicologia do Esporte e Estudos Olímpicos.
Terra - Qual o papel que a superação desempenha na vida de um atleta?
Katia Rubio - A superação é a condição central para um atleta se tornar olímpico, seja ele brasileiro ou não. Porque o que marca o atleta que chega no nível olímpico é a superação das adversidades, dos limites pessoais e dos adversários que também estão à altura desses melhores atletas brasileiros. Mas aquilo que é o traço central do atleta brasileiro são, principalmente, as barreiras sociais. A falta de políticas públicas, as políticas atravessadas que dominam o ambiente olímpico e que se fortalecem por meio do preconceito, da discriminação. Então, ser atleta olímpico brasileiro é estar acima de tudo isso.
Terra - Atletas ‘menos’ motivados conseguem alcançar o mesmo sucesso?
KR - O atleta é naturalmente motivado. O que vai diferenciar uma quantidade maior ou menor de treinamento são as habilidades motoras naturais. Mas a motivação tem que estar presente o tempo inteiro. Não existe atleta olímpico que não tenha esse nível de motivação acima da média.
Terra - O que atletas olímpicos precisam fazer para não se abater com as derrotas?
KR - A derrota é mais constante na vida de um atleta do que a vitória. Um atleta, para chegar no nível olímpico, certamente mais perdeu do que ganhou. A questão da derrota é o que o atleta pode fazer da derrota. Ao perder, ele é obrigado a fazer uma avaliação de tudo o que aconteceu e onde estavam as deficiências, onde estavam as falhas que ele cometeu para chegar naquele resultado. Perder não é o problema. A questão é o que fazer com a derrota.
Terra - As derrotas são mais difíceis de digerir em modalidades individuais?
KR - A derrota independe de modalidade. O atleta que treina para ser campeão, seja no coletivo ou no individual, vive intensamente a busca desse resultado. A vivência da derrota é muito particular para cada atleta: há aquele que perde uma medalha e sai para jantar e tem outro que se tranca dentro de casa por seis meses, como foi o caso de algumas histórias que eu ouvi. Na certeza da vitória que não veio, houve atletas que entraram em profunda depressão, se isolaram do mundo. Para quem, de fato, dedica a vida para a competição e para a vitória, não existe plano B.
Terra - A partir da Rio 2016, o respeito pelo olimpismo brasileiro tende a mudar?
KR - Eu vejo com pessimismo pelas próprias empresas que já estão anunciando a retirada de patrocínio de clubes e confederações. A gente viveu uma euforia em relação aos Jogos Olímpicos, mas isso não necessariamente foi traduzido em políticas públicas que darão continuidade ao desenvolvimento do esporte como a gente viveu nesses últimos dez anos. A gente vai passar por um período bastante difícil nos próximos anos. Isso acontece em quase todas as sedes olímpicas. O que eu mais lamento é que isso não se transformou em um legado.