Quem é o skatista sem pernas que quer ser ouro em 2020
Ítalo Fernandes de Lima, skatista paratleta desde os 12 anos, sonha em trazer uma medalha Paralímpica para o Brasil
Curitibano, Ítalo Fernandes de Lima, 26 anos, sempre gostou de encarar desafios. No entanto, quando criança, tentando pegar carona na rabeira de um trem, se desiquilibrou e caiu no trilho. O veículo, em alta velocidade, acabou dilacerando suas duas pernas.
O acidente, entretanto, não abalou os sonhos e esperança do jovem. “Pelo fato de eu não ter as pernas, as pessoas falavam ‘em vez de fazer isso, faz aquilo’, mas eu fazia tudo e acabava fazendo melhor”, conta Lima.
Sabendo que seu destino não era ficar sobre uma cadeira de rodas, aos 12 anos, Lima viu uma reportagem sobre Og de Souza, skatista profissional que participava de diversos campeonatos de skate usando somente as mãos, pois teve poliomielite na infância e perdeu os movimentos das pernas. Decidiu, ali, que aquela seria sua profissão.
“Na verdade, eu já gostava de skate, mas como a minha família não tinha condição financeira para me dar, eu acabei ganhando um. No começo, meu primo me emprestava o dele. Aí, no carnaval de 2003, o Rafael Pingo (skatista renomado) me viu andando e me deu o skate que ele estava usando. Com o meu próprio skate nas mãos, não parei mais”, lembra.
Aos 13 anos, sabia fazer as manobras ollie, flip e 180º. Depois de muito treino, Lima começou a competir e, em 2011, teve sua primeira conquista: tornou-se campeão paranaense amador de skate. “Eu percebi que o pessoal fica bastante impressionado porque vai assistir a um evento com pessoas ‘normais’ e acaba vendo um rapaz sem pernas. Eles ficam encantados."
A história de determinação e superação tomou proporções jamais imaginadas pelo paratleta. “Um amigo meu perguntou se eu tinha coragem de saltar de uma megarampa de 27 metros. Eu disse que sim, mas acabou não dando certo dele me levar. Então, o Luciano Huck soube da minha história e me propôs o desafio. Ele me levou até a casa do skatista Bob Burnquist, em Dreamland, na Califórnia, Estados Unidos. Não fui bem-sucedido nas duas primeiras tentativas, mas depois que Bob me emprestou um skate dele, consegui. Ninguém nunca testou se dava para uma pessoa sem as pernas ultrapassar o outro lado da rampa. Para mim, isso foi muito importante na minha carreira, porque agora todo mundo conhece o meu trabalho.”
Outra conquista que ele lembra com carinho aconteceu nos X-Games de Foz do Iguaçú, Paraná, em 2013. Pela primeira vez, se apresentou com seu ídolo, Og de Souza: “A gente pôde fazer um show de manobras. Sempre que eu vou em algum evento, sou só eu de deficiente. Naquele dia tinha eu e ele, então fomos a grande atração”.
Hoje, com o acréscimo do skate nas modalidades esportivas das Olimpíadas de Tóquio 2020, o paranaense sonha em participar das Paralimpíadas e trazer uma medalha para o Brasil. “Para nós, isso é muito importante, porque a gente sofreu muita discriminação - achavam que skate era de vagabundo. E agora virou uma modalidade olímpica. Vínhamos batendo nessa tecla havia muito tempo. Agora, a gente pode falar de boca cheia que pratica um esporte olímpico.”