‘Se eu posso, então você pode’
Há dois anos, Nanilza dos Santos Silva, atleta que não possui os dois braços, descobriu que, através do esporte, era capaz até de se superar
Aos 10 anos, enquanto brincava em um pé de manga, Nanilza dos Santos Silva, mais conhecida como Nanny, sofreu queimaduras de terceiro grau devido a um curto circuito em um fio de alta tensão que encostava na árvore. O acidente lhe deixou uma semana em coma e sem os dois braços, pois estes já não respondiam mais aos estímulos.
Desde então, a pernambucana nascida em Canhotinho, mas que vive em Petrolina, no mesmo Estado, iniciou uma busca incansável por algo que lhe desse ânimo para se levantar todos os dias. Foi em 2014 que ela descobriu a corrida paratleta.
“Uma amiga minha me apresentou ao esporte dizendo que eu tinha grandes chances de entrar no paratletismo, disputar paralimpíadas e conquistar títulos. No início, fiquei um pouco em dúvida, mas como gosto de desafios, resolvi seguir o conselho dela”, contou ela em entrevista exclusiva ao Terra.
Assim que a viu correndo, Marciano Barros, técnico da Associação Petrolinense de Atletismo (APA), a convidou para treinar com paratletas de alto rendimento. Logo de início, Nanny impressionou: em apenas um ano de corrida, conquistou diversas medalhas em provas de 100 metros, inclusive o ouro no Circuito Paralímpico Norte/Nordeste como representante da APA.
“Eu digo sempre que o esporte me trouxe para a sociedade. Quando você tem uma deficiência, as pessoas acham que você tem uma vida limitada. Hoje, elas veem que eu posso ir mais além. Eu faço coisas que muitos não têm capacidade de fazer. Meus amigos me veem como exemplo. Também tenho a oportunidade de divulgar, chamar outras atletas”, afirma a paratleta.
Por ser bi-amputada, a corredora enfrenta muito mais dificuldades do que os praticantes da modalidade que não possuem deficiência. Isso porque os braços são importantes para auxiliar na movimentação e diminuir o gasto de energia. No caso dela, o tronco é quem faz o movimento para balancear as pernas e, ao mesmo tempo, dar equilíbrio: “No início eu tinha muito medo de cair, hoje eu superei esse medo, mas já pensei em desistir, porque um esporte de alto rendimento é muito sofrido e a gente tem pouco reconhecimento”.
Além disso, ela se enquadra na categoria T 45, que corresponde a pessoas que sofreram amputação de ambos os braços. Nessa classe, porém, há poucos atletas, então Nanny tem treinos mais fortes, voltados para a categoria T 46, referente a amputação de membros superiores. Mas essa questão não a abate e ela ainda brinca: “Na minha classe só tem eu, então eu tenho mais chances”.
Quando questionada sobre quem a inspirava, a jovem é simples e categórica: “A única pessoa que me inspira a continuar sou eu mesma. Quando eu me olho não me vejo mais parada. Não me vejo mais sem correr. É um desafio estar ali e eu não posso desistir por mim mesma”.
Nanny é uma vencedora que tem um grande sonho – representar o País nas Paralimpíadas de 2020, mas sabe que é vitoriosa por chegar até ali: “Eu digo sempre que os meus limites acabaram no momento em que eu decidi amputar meus braços. Hoje eu sou outra pessoa. Eu tenho uma outra vida, uma nova vida. Eu nasci de novo e mato um leão todo dia para sobreviver”.