'Ainda tem muito jogo para o Brasil reverter e se sair bem', diz Marcelo Negrão sobre Olimpíada
Ex-campeão olímpico em Barcelona-92 pede seriedade para enfrentar o Egito nesta sexta-feira, 2
Marcelo Negrão, que foi campeão olímpico com a seleção brasileira masculina de vôlei, na Espanha-1992, entende o momento nada favorável nos Jogos Olímpicos de Paris. O ex-ponta acredita que o time de Bernardinho vai conseguir dar a volta por cima, apesar de acumular duas derrotas consecutivas, para Polônia por 3 sets a 2, na quarta-feira, 31, e diante da Itália por 3 sets a 1, na estreia da competição, dia 27. “Ainda tem muito jogo para o Brasil reverter e se sair bem ainda nessa Olimpíada”, disse em entrevista exclusiva ao Terra.
A cobertura dos Jogos de Paris no Terra é um oferecimento de Vale.
Para se manter vivo nos Jogos, o Brasil só pode avançar às quartas de final como um dos melhores terceiros colocados. Para isso, a seleção precisará ganhar do Egito, nesta sexta-feira, 2, às 8h (de Brasília), pelo terceiro e último compromisso da fase de grupos, e acompanhar resultados dos rivais das outras duas chaves. As duas primeiras equipes de cada grupo avançam de forma direta às quartas de final. Junto com elas, os dois melhores terceiros colocados também se classificam.
O hoje técnico do time do Rede Cuca Vôlei (CE) tem a receita de como o Brasil pode se dar bem na competição. “Não menosprezar o adversário e não sofrer pontos à toa. Vai ser importante agora cada ponto e set decisivo. O Brasil precisa manter a cabeça fria, calma”.
Negrão aponta que não é o vôlei brasileiro que está em declínio, mas outras seleções é que cresceram de produção. “Tem muitas equipes com grandes jogadores em todas essas equipes e nunca é fácil, sempre vai ser um caminho complicado. Hoje em dia, o vôlei todo mundo sabe jogar muito bem”, justificou.
Marcelo Negrão até apontou o destaque da seleção brasileira nos Jogos de Paris. “Darlan hoje é um jogador de destaque e vem sendo o nosso melhor jogador em todas as partidas”. Veja a entrevista completa a seguir:
Terra: Com a derrota para a Polônia complicou a situação do Brasil. Ainda dá para acreditar na classificação?
Marcelo Negrão: É claro que uma derrota nunca é bom, ainda mais o Brasil, que está sempre acostumado a vencer os seus primeiros jogos na fase classificatória. Perdeu para a Itália e Polônia. O menos mal é que foi um 3 a 2. Conseguiu um ponto que pode ser decisivo para a próxima fase. Ainda existe chance, e o Brasil ainda tem condições de reverter tudo. Isso não quer dizer que, porque perdemos duas partidas importantes logo de início, já está tudo acabado. Ainda tem muito jogo para o Brasil reverter e se sair muito bem ainda nessa Olimpíada.
Terra: Por que a seleção não está conseguindo apresentar melhores resultados?
Marcelo Negrão: Hoje em dia todo mundo joga muito bem vôlei. Não só o Brasil, mas a Polônia deu uma demonstração muito boa. A Itália é uma seleção que sempre foi e tem uma tradição muito grande nesse esporte, assim como os Estados Unidos, que são bicampeões olímpicos. Algumas equipes vêm crescendo. O Japão sempre estava ali tentando e nunca conseguia. Agora é uma das seleções consideradas melhores do mundo. Tem muitas equipes com grandes jogadores, e nunca é fácil, sempre vai ser um caminho complicado. Hoje em dia, o vôlei todo mundo sabe jogar muito bem. Não vai ser uma situação muito fácil e vai sempre encontrar adversários bem difíceis pela frente. Não é que o Brasil não está jogando o seu melhor, é que realmente os adversários são muito bons.
Terra: Você considera a campanha do Brasil decepcionante até aqui?
Marcelo Negrão: É normal, que a torcida, as pessoas, o brasileiro espere uma campanha brilhante sempre do vôlei, afinal é um esporte referência. Eu peço calma. É importante nesses momentos estar pensando positivo, acreditando nos nossos jogadores e no trabalho que está sendo feito. Eu tenho muita esperança que o Brasil ainda vai reverter e vai se sair muito bem nessa Olimpíada.
Terra: Como o Brasil pode reverter essa situação?
Marcelo Negrão: A primeira coisa que o Brasil tem que fazer é ganhar esse jogo contra o Egito. Não menosprezar o adversário e não sofrer pontos à toa. Vai ser importante agora cada ponto e set decisivo. O Brasil precisa manter a cabeça fria, calma. Conseguir esses três pontos contra o Egito e depois, na próxima fase, que eu acredito que passa, é um mata-mata. Aí coração ali batendo mais forte, indo para cima de todos os adversários o tempo inteiro, todo mundo se ajudando. Eu peço calma para o pessoal que o Brasil vai sair dessa situação.
Terra: Como é entrar em quadra com a obrigação de vencer?
Marcelo Negrão: Hoje para se tornar campeão, tem que ganhar de grandes equipes. O Brasil já não é mais tão favorito assim. Todo mundo entra com a mesma responsabilidade contra um ou outro país realmente, que teoricamente não é favorito. O Brasil já sabe dessa responsabilidade e entra sempre muito concentrado, mas sempre respeitando o adversário, independente de quem é. E isso, jogador de vôlei já nasce sabendo disso, quando entra nas equipes favoritas, para jogar no time profissional, isso sempre é muito trabalhado. Às vezes é o favorito, mas não pode relaxar nenhum minuto, porque todo mundo hoje sabe jogar vôlei.
Terra: O jogo contra o Egito pode ser o da arrancada nos Jogos?
Marcelo Negrão: O Brasil precisa ganhar muito bem e depois ficar esperando o seu adversário na próxima fase, que se terminasse hoje, muito provavelmente seria a Itália de novo. Mas independente , o Brasil precisa ganhar muito bem, para todos os sentidos, para continuar na Olimpíada e ganhar realmente uma confiança a mais.
Terra: Quais pontos fortes e fracos do Egito?
Marcelo Negrão: O Egito se classificou para uma Olimpíada e não pode vacilar nunca contra uma equipe que teoricamente não tem tanta tradição. Tem que enfrentar com respeito essa equipe.
Terra: Qual jogador que você acha que pode decidir?
Marcelo Negrão: Eu acredito muito na força do poder de ataque no saque forte do Darlan. Ele hoje é um jogador de destaque e vem sendo o nosso melhor jogador em todas as partidas.
Terra: Campeão em Barcelona-92, como é o clima de uma Olimpíada?
Marcelo Negrão: Ser um campeão olímpico significa que você vai carregar com uma missão muito grande até o último dia da sua vida. É uma responsabilidade muito grande você sempre uma pessoa tida como um exemplo a ser seguido pela juventude, pela garotada. É uma referência no seu esporte. É preciso ter cabeça no lugar e tem que sempre pensar muito nos seus atos, nas suas atitudes. Tem que tomar cuidado com aquilo você posta nas redes sociais. Deus sabe o que faz e ele dá essa prêmio para carregar sendo uma inspiração para os jovens. Eu curto muito e só tenho a agradecer essa essa missão que eu levo comigo sempre com muita vontade e alegria acima de tudo.
Terra: Como faz pra manter o foco, já que pode encontrar com grandes ídolos?
Marcelo Negrão: Existem, na verdade, dois climas em uma Olimpíada. Tem que tomar muito cuidado. O primeiro clima é aquele que fica vislumbrado, que sabe que está ali no lugar onde estão os melhores atletas do planeta e pode se perder um pouco naquela e naquele clima de festa, de Vila Olímpica, de tudo do bom e do melhor, de graça. São muitas novidades aparecendo o tempo inteiro. Presentes que ganha durante os Jogos Olímpicos. O atleta, tem que tomar muito cuidado. E tem o outro lado que entra para o clima de competição, de estar totalmente focado e não consegue aproveitar absolutamente nada dessas coisas boas que uma Vila Olímpica te oferece. Em 92 é isso que aconteceu com algumas equipes que estão realmente em busca do ouro. Mas o fato de estar numa Olimpíada, a sensação é inacreditável, emocionante, muito bacana e gratificante acima de tudo.
Terra: Você encontrou com alguns deles? Quais? Como foi a sua reação?
Marcelo Negrão: É preciso se conter ali. Na minha época, o chefe de delegação era o Arnold Schwarzenegger, dos Estados Unidos. O prédio dele era vizinho ao nosso, na Vila Olímpica, lá em Barcelona. Ele ficava desfilando e quando consegue uma foto é muito bacana, é muito bacana, é um clima realmente de festa, de pessoas famosas. E o Boris Becker, da Alemanha, jogador de tênis estava do meu lado quando eu fui lavar uma roupa na lavanderia comunitária. Você vê caras que você só está acostumado a ver na televisão, jogando, torcendo em algum momento. É muito bacana, mas é claro, a gente tem que lembrar que existe o lado de quem está indo para passear e outro om foco total em tentar ganhar uma medalha, como era o nosso caso. E o vôlei sempre foi um esporte que requer muito foco e concentração.