Ana Marcela cita abismo por 4º lugar e revela que cogitou parar de nadar há 1 ano: ‘Não estava feliz’
Nadadora de 32 anos foi campeã olímpica em Tóquio-2020
O quarto lugar dos 10 km da maratona aquática nos Jogos Olímpicos de Paris foi bastante sentido por Ana Marcela Cunha. Para a nadadora de 32 anos, ter ficado perto do pódio representa um “abismo” tão grande do que quando terminou na quinta posição em Pequim-2008.
A cobertura dos Jogos de Paris no Terra é um oferecimento de Vale.
A dor de ficar no quase, porém, é dividida com a alegria de voltar a fazer o que ama. Sem segurar as lágrimas após a disputa desta quinta-feira, 8, a medalhista de ouro de Tóquio-2020 revelou que cogitou a aposentadoria há cerca de um ano, após passar por uma cirurgia no ombro.
“Difícil, acho que um quarto lugar é um abismo muito grande para ter uma medalha. Posso falar que em 2008, quando eu fui quinta, não doeu tanto quanto agora. Um ano, dois anos ou um ano e meio atrás, estava passando por uma cirurgia. Um ano atrás, eu simplesmente liguei pra minha família, pra minha psicóloga, e falei: ‘eu quero parar de nadar’. Então, acho que ter nadado a seletiva, mesmo não tendo me classificado, foi uma vitória. Ter nadado em Doha, voltar a me encontrar, estar feliz, eu acho que é o mais importante.”, disse aos jornalistas.
Para tentar sua segunda medalha olímpica, Ana Marcela chegou a mudar para a Itália. No País, ela se juntou a uma nova equipe de treinamento com grandes nomes da natação mundial. Mesmo que não tenha alcançado o sonhado pódio, a nadadora destacou o orgulho com a participação em Paris.
“Lógico que a gente queria muito uma medalha, e a gente sabe o quanto a gente treinou, eu mudei todo o programa, mudei pra Itália pra ir buscar disso, mas se eu não tivesse feito nenhuma dessas mudanças, talvez eu nem estivesse aqui. Então, acho que eu tenho que ter muito orgulho do que eu fiz, do quarto lugar, por mais que seja bem doloroso, mas acho que eu tenho que manter a cabeça erguida, olhar pra frente”, continuou a atleta.
Após a cirurgia, o pensamento de aposentadoria veio com a falta de felicidade em nadar. No entanto, Ana Marcela contou com o apoio de familiares, patrocinadores e clube.
“Cheguei no meu limite no esporte, não tava mais feliz, não tava me encontrando na natação mais. Mas graças a Deus eu tenho uma família que me apoia independentemente de qualquer coisa. Posso falar que os meus patrocinadores foram, junto com meu clube e minha família, os mais importantes, porque eles sempre me apoiaram, eles nunca deixaram de acreditar de que eu realmente podia estar aqui, de que eu podia me reencontrar ainda assim em tão pouco tempo no esporte”, explicou.
Passada a fase ruim, Ana Marcela garantiu que reencontrou a felicidade dentro do esporte, mesmo sem a medalha.
“Nós somos atletas, mas nós somos seres humanos e chega uma hora que a gente cansa. Não é sobre pressão, não é sobre conquista, não é sobre o que as pessoas acham, porque, na verdade, eu não venho pra aqui me importando, nem com pressão, nem com nada, eu venho pra aqui porque eu realmente amo o que eu faço, porque eu tô feliz, porque senão eu nem estaria aqui. Mas óbvio que o apoio de todo mundo faz com que a gente se sinta especial, não como esportista, mas como ser humano, como pessoa, porque nós somos isso também. Não somos uma máquina. Então, eu tô muito feliz, óbvio que eu queria demais essa medalha”, reforçou.
Agora, a nadadora ainda não sabe se estará nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028: “Não prometo nada para Los Angeles, mas eu acho que tem a Copa do Mundo aí pra frente. Virar uma página e ver como é que vai ser. Estou com 32 [anos], uma bagagem muito grande, muitas conquistas, e ver o que é que eu vou fazer daqui pra frente”.
Carreira vitoriosa de Ana Marcela Cunha
Aos 32 anos, Ana Marcela é uma velha conhecida dos brasileiros, principalmente em Jogos Olímpicos. Em Pequim-2008, aos 16, a nadadora - que ainda não era a Rainha do Mar - estreou no maior evento esportivo do mundo e fez bonito. Ela completou o percurso de 10 km na quinta colocação.
Em 2012, cercada de expectativas, lidou com a frustração de não conseguir a classificação para os Jogos de Londres. A dor de não ir ao torneio veio junto com o começo de uma união vitoriosa. No ano seguinte, em 2013, iniciou a parceria com o treinador Fernando Possenti, com quem - entre idas e vindas - dividiu o dia a dia até 2023.
Diante da oportunidade de disputar os Jogos Olímpicos no Brasil, Ana Marcela classificou-se para o evento do Rio de Janeiro. Em “casa”, a nadadora completou a prova de 10 km na 10ª colocação, algo que ficou aquém do esperado. Mas a consagração definitiva veio em Tóquio-2020.
Na Olimpíada realizada no Japão, com adiamento de um ano por causa da pandemia da covid-19, dominou a prova e conquistou seu primeiro ouro olímpico. Na ocasião, foi apenas a segunda medalha olímpica do Brasil na modalidade. Poliana Okimoto já havia levado o bronze na Rio-2016.
Em paralelo com as participações em Jogos Olímpicos, Ana Marcela foi construindo seu nome ao redor do mundo para se tornar a Rainha do Mar. Ela acumula títulos como os sete ouros em Mundiais e um Pan-Americano em Lima-2019. As conquistas a levaram a ser oito vezes eleita a melhor nadadora do mundo.