Bicampeão olímpico, Robert Scheidt busca mais um pódio
Velejador brasileiro disputará Jogos de Tóquio na classe laser, iniciada neste domingo
Dono de cinco pódios olímpicos, Robert Scheidt chega à sua sétima edição dos Jogos Olímpicos como um veterano que conseguiu compensar com técnica e esforço as dificuldades físicas que o tempo impõe sobre o corpo.
Com currículo invejável, ele não tem mais nada para provar: é bicampeão olímpico, tem ainda duas medalhas de prata e uma de bronze, já foi porta-bandeira (em Sydney-2000) e tem 13 títulos mundiais.
Na classe Laser da vela, que começou neste domingo, 25, o atleta multicampeão vai tentar fazer história nos Jogos de Tóquio com mais um pódio na carreira.
Como está a expectativa para a disputa dos Jogos Olímpicos?
Estou feliz pela oportunidade de representar o Brasil mais uma vez e chegar à sétima Olimpíada. E a expectativa é lutar por uma medalha. O que me motiva é a paixão pelo esporte. Não só velejar, mas competir, testar meus limites.
Como você compara essa campanha com as suas anteriores?
Toda Olimpíada carrega bastante ansiedade, seja na primeira ou na sétima. E isso não vai mudar. Eu quero muito lutar por uma medalha, representar bem o meu país mais uma vez e, com certeza, não vou conseguir escapar da ansiedade, mas sou experiente e capaz de controlá-la para que não atrapalhe.
Nesta edição as dificuldades estão maiores?
Cada campanha tem sua história. Nesse ciclo até Tóquio, tivemos a pandemia, o adiamento e estou mais velho. Além disso, falando do Laser, o mastro mudou. A parte de baixo é de alumínio e a parte de cima passou a ser de carbono. Isso acrescentou dureza ao mastro. E a vela mudou também, aumentando a potência do barco e o deixando ainda mais difícil de controlar nos ventos fortes. Hoje, exige mais escora. O peso dos atletas também aumentou. No Rio, o ideal era 80 kg, agora é 84 kg a 85 kg. Eu consegui me adaptar, ganhei massa magra e estou com 84 kg, perto do ideal.
E na parte técnica, houve alguma alteração?
A técnica de velejar mudou um pouco, principalmente no vento em popa. Para ser bem sincero, em 2019, quando voltei para a classe, demorei para me adaptar e tive dificuldade em 'performar' no popa, que sempre foi meu forte. Mas, com muito trabalho e "horas de voo", comecei a melhorar minha técnica e estou cada vez mais confortável.
Você sempre comentou que a classe Laser é muito física. Aos 48 anos, como compensou isso para velejar em alto nível?
Com a chegada da idade, o principal ponto passa a ser o tempo de recuperação e o maior risco de lesão. Equilíbrio entre a quantidade e a qualidade do treinamento é fundamental. Se antes, com 20 ou 30 anos, minha filosofia era fazer mais que os outros para que o resultado viesse como consequência, hoje não consigo mais fazer dessa forma, porque vou acabar me machucando e isso é contraproducente. Então meu volume de trabalho é bem menor que antes, mas com qualidade e intensidade maior. Essa é a grande mudança. Também é preciso saber escutar o corpo, quando ele precisa de descanso ou está prestes a se lesionar.
Quais as características que te levaram a se dedicar mais a esta classe?
O Laser é um barco que casou perfeitamente com o meu biotipo e estilo de velejar. Exige muito da forma física do atleta, da sua força e resistência. Costumo dizer que sempre terei um Laser para dar minhas voltas, pois traz aquela sensação da velejada pura. Mas eu realmente só voltei para o Laser em Olimpíadas, no caso da Rio-2016, porque o Star foi retirado do programa.
Quais são seus principais adversários na briga pela medalha?
Um dos nomes mais fortes é o alemão Philipp Buhl, que é o atual campeão mundial e venceu em Vilamoura com um ponto a mais do que eu. Ele está em uma fase boa e, aos 30 anos, é experiente. Em relação aos outros nomes, temos o Matt Wearn, da Austrália, e o Sam Meech, da Nova Zelândia. Mas ainda é uma incógnita como eles chegarão a Tóquio. Eles treinaram isolados em seus países e não tive oportunidade de velejar contra eles em 2021. Só tive contato com os atletas norte-americanos, europeus e sul-americanos. Além desses, velejadores da Croácia, Chipre e França, no caso o Jean Baptist Bernaz, que é meu companheiro de treino, são nomes fortes.
Então a disputa por um lugar no pódio deve ser bem acirrada?
Acredito que teremos de dez a 12 atletas lutando pelas três medalhas e acho que estou entre eles. A classe Laser é muito forte, com uma grande representatividade no mundo e é a classe na qual o velejador faz a diferença. Na Olimpíada, todo o material é fornecido pela organização - vela, mastro e barco - então, o que conta é a maneira como se veleja, as escolhas táticas.
Como é a baía de Enoshima e como você se preparou para entender bem a dinâmica dela?
A raia em Enoshima não tem predominância de uma condição e tem de estar pronto para o que vier, pois pode mudar de tempo, de vento fraco a forte. Serão seis dias de competição e, naturalmente, vai haver variação no clima. E isso me favorece. Sou um velejador que cobre bem tanto vento forte como fraco. Então, seria mesmo bom que não tivéssemos a mesma condição a semana toda. O ideal seria ter ido ao local de competição muitas vezes para se adaptar à raia, ao vento, ao mar, mas isso não foi possível em função da pandemia do coronavírus. Eu acredito que chegar em cima da hora, em um evento de grande pressão, pode ser um ponto a meu favor. Eu já passei por muitas situações em seis Olimpíadas, pois o lado mental, a calma, a tranquilidade em função de ter vivido muitas coisas, pode me ajudar em um torneio em que esse reconhecimento do local da disputa não pôde ser explorado.
Qual sua meta para Tóquio-2020?
A meta é sempre buscar uma medalha. Claro que o principal objetivo é o ouro, mas uma medalha olímpica é sempre algo especial, independentemente da cor.