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Clã Grael recebeu aulas de prêmio Nobel e trabalhou para rei

Avô dos irmãos Torben e Lars, Preben Schmidt se tornou um dos pioneiros da vela no Brasil; Martine foi bicampeã olímpica com Kahena Kunze

4 ago 2021 - 22h06
(atualizado às 23h09)
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Família das mais vencedoras da história dos Jogos Olímpicos, o clã Grael representa como poucos os valores olímpicos. Os triunfos de quatro gerações de velejadores contam com história de 100 anos, que vai das aulas com um prêmio Nobel aos serviços para a realeza da Dinamarca no século XX, e diversos exemplos de determinação, excelência e respeito, principalmente pela incessante transmissão de conhecimento técnico aos mais novos.

Martine Grael e Kahena Kunze no pódio após conquistarem medalha de ouro na Olimpíada de Tóquio
03/08/2021 REUTERS/Carlos Barria
Martine Grael e Kahena Kunze no pódio após conquistarem medalha de ouro na Olimpíada de Tóquio 03/08/2021 REUTERS/Carlos Barria
Foto: Reuters

Tudo começou com Preben Schmidt, avô dos irmãos Torben, recordista de medalhas olímpicas do Brasil com Robert Scheidt (ambos com cinco pódios), e Lars, dono de três bronzes em Olimpíadas. Engenheiro civil de sucesso, ele se formou na Escola Politécnica de Copenhague, onde teve aulas com Niels Bohr, que ganhou o Nobel de Física de 1922.

Lá aprendeu conceitos que usaria nos palácios reais em serviços prestados ao Rei Cristiano X. E também em obras em quase todos os estados do Brasil, como a Ponte do Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e o Elevador Lacerda, na Bahia, entre centenas de projetos em barragens, usinas e silos. Entre uma obra e outra, elaborava também barcos já em solo brasileiro, onde chegou em 1924.

Com suas pequenas embarcações, Preben se tornou um dos pioneiros da vela no Brasil. E não apenas pelos projetos, mas pela paixão que tinha em velejar. Ao contrário dos seus descendentes, o dinamarquês usava os barcos apenas para se divertir. Não competia. O clã entrou para as disputas, e logo brilhou, com seus filhos Margarete, Axel e Erik. A primeira foi pioneira entre as mulheres da vela. Competia e vencia os homens em torneios importantes. E os dois irmãos, gêmeos, levaram o esporte para o famoso "outro patamar".

Foram tricampeões mundiais na classe Snipe, em 1961, 1963 e 1965. Também foram os precursores da família em Olimpíadas. Terminaram em sétimo na Star no México-1968 e em sexto, na Soling, em Munique-1972. Axel faleceu em 2018, não antes sem transmitir seu conhecimento aos sobrinhos.

"Eles foram nossos professores na vela olímpica, tanto no Soling quanto na Star. O Axel foi meu técnico quando fui campeão mundial juvenil e o Erik foi meu treinador em duas Olimpíadas, inclusive na primeira medalha de ouro. Eles passaram muito ensinamento para a gente, abriram as portas. São inspiração até hoje para nós", disse Torben ao Estadão, em outubro do ano passado.

Aos 82 anos, Erik continua velejando. Em 1995, estava no barco de Lars participando da tradicional Regata Santos-Rio. Na última edição da competição, em outubro, preferiu descansar, à espera dos familiares no iate clube, já em solo carioca. "Ele ainda tem um veleiro pequeno, que já foi de classe olímpica, chamada dragão. Às vezes veleja nele em Niterói, numa regata anual que homenageia o pai dele, nosso avô", contou Lars.

Quando não está com seu pequeno veleiro, Erik aproveita as oportunidades para passar para a frente a sua larga experiência na modalidade. "Ele sempre dá conselhos, até para os meus filhos", lembrou Torben. Um dos filhos beneficiados por estes ensinamentos é Martine, bicampeã olímpica na classe 49er FX, na terça-feira, ao lado de Kahena Kunze. Outro é Marco, que ficou em 16º na classe 49er, ao lado de Gabriel Borges, em Tóquio.

Antes sobrinhos que aprendiam com os tios, Torben e Lars viraram eles mesmos os tios que passam seu conhecimento para os velejadores mais jovens da família, ao lado de suas esposas, que também velejam. Torben é o coordenador técnico da Confederação Brasileira de Vela e acompanhou Martine e Marco em Tóquio.

A nova aposta da quarta geração da família é Nicholas, filho de Lars. Aos 24 anos, já tem títulos de nível nacional e faz parte da equipe de vela da Marinha. "Vejo potencial no Nick. Mas acho que essa geração provavelmente não vai estar despontando em Paris-2024, mas nos Jogos de Los Angeles, em 2028. Mas existem sempre as exceções", ponderou Torben.

Se depender do tio e do pai, Lars, a geração que já brilha com Martine vai fazer ainda mais história com o sobrenome Grael. "Tenho orgulho de passar a herança para a frente. Sabemos que não é fácil, seja no ambiente cultural, esportivo, empresarial. Fazer uma transmissão de valores, de paixão e desejo, de uma geração para outra, é sempre difícil. Sou da terceira geração. Quando vejo a quarta igualmente apaixonada por vela, com a Martine campeã, o Marco Grael, outro velejador olímpico, o Nicholas chegando na Snipe, isso é muito legal", afirmou Lars.

Estadão
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