Cotado à medalha, Avancini admite estar abaixo dos europeus
Ciclista brasileiro de 32 anos vai estrear nos Jogos Olímpicos de Tóquio na madrugada de segunda-feira, na categoria cross country
Esperança de ouro para o Brasil no ciclismo mountain bike, o petropolitano Henrique Avancini, de 32 anos, atravessa aquele que talvez seja o auge da carreira e vai em busca de sua primeira medalha olímpica. Ele vai estrear na categoria cross country, o XCO, a mais radical do esporte, às 3h (de Brasília) nesta segunda-feira.
"Estou me sentindo bem e calmo. Fiz uma alteração na programação de treinamentos nas semanas antes dos Jogos, e resolvi permanecer no Brasil para fazer toda a preparação lá com o intuito de manter as coisas mais sob controle, com menos desafios logísticos, e acho que foi uma decisão acertada. Estou me sentindo em um estado muito bom", comentou Avancini, ao LANCE!
Confira o bate-papo completo com Avancini
LANCE! Como você avalia a procura por mountain bike atualmente?
Henrique: O esporte vem crescendo globalmente, até em locais em que a bicicleta não é tão utilizada. O MTB como disciplina esportiva é centralizado na Europa. Quando você pensa como esporte competitivo, recreativo ou amador, existem outras áreas no mundo em que a modalidade é tão grande ou maior. O Brasil é um dos polos globais do MTB. É óbvio que o país ganhará cada vez mais algum destaque. Estamos pleiteando espaço com pessoas tradicionais, a direção do esporte muitas vezes tem uma cabeça antiquadas, de décadas atrás. Esse processo de globalização é muito menos agressivo.
L!: Qual será a importância dos Jogos de Tóquio para o MTB ?
H: Os Jogos de Tóquio trazem esse reflexo. Após a Olimpíada do Rio, o Brasil passou a ser a principal audiência da Copa do Mundo a nível mundial de um evento que tem números impressionantes, para modalidades olímpicas. Sendo número um mundial. É uma transição lenta. Tóquio é uma oportunidade de sair do ninho e mostrar pros atletas e equipes que dá para viajar mais, expandir para locais diferentes e levar o esporte para mais longe.
L!: Como você avalia o terreno das disputas no Japão?
H: É um lugar com condições muito semelhantes com as que aprendi a pilotar, surpreendentemente, de mata atlântica. Sou de Petrópolis, onde tem esse tipo de vegetação. Não sei até que ponto isso é vantagem. É algo muito sutil, quando você se sente confortável pode ser algo negativo. Estou acostumado a competir em termos que não tenho hábito. Vai ser uma das poucas vezes na carreira que estarei em um terreno similar. Mas não é só meu desempenho isolado, é isso aliado aos outros obstáculos, os vivos.
L! Como vê a ascensão dos rivais em 2021? Isso te preocupa? Surpresas são esperadas em Tóquio?
H: Meu começo de ano foi inconstante. Pretendíamos disputar uma competição e eu não podia viajar, fazia um treino considerando o evento, e ele era cancelado. Meu início de temporada foi postergado em dois meses, e eu perdia qualidade. Estava gerando menos ganhos e trabalhando de forma pesada. Não me senti bem e resolvi dar um passo atrás para resgatar. Assumi a liderança no final de 2020 e permaneci até maio. Fiquei sete meses liderando o ranking, e é uma modalidade europeia. O calendário acontece lá, as principais equipes estão lá. É o esporte que amo, tenho que lidar com isso. Não é verdade que eu e os europeus passamos pelas mesmas dificuldades. Passei dois meses na Europa, é uma diferença grande, você está trabalhando em condições climáticas que não são as ideais, o que é diferente de voltar para casa, ficar com sua família, ir ao CT e à academia pessoal. Estou no mesmo mar, mas não no mesmo tipo de embarcação. Tem gente que está com o macarrão boiando. Não me incomoda, sempre foi assim. As coisas estão em processo de mudanças.
5) Qual é a sua impressão sobre a imagem dos Jogos em meio à pandemia? Os japoneses entrarão no clima?
Eu nem me prendo ao contexto atual. Nem quero trazer pros meus pensamentos, meu dia a dia. Os valores do esporte são justamente lidar com adversidade, resiliência, adaptabilidade, só temos que ser atletas. Não é fácil, mas trazer o desafio aumenta o risco. É uma situação que amplia o estresse, desafios, mas no fim das contas é o ambiente recheado de pessoas que foram mais preparadas para lidar com isso. Se a vibe vai ser boa ou não, não sei. Preciso correr e estar em bom estado. Sou bem envolvido em organizações de eventos. Eu participei ativamente da etapa da Copa do Mundo em 2022, em Petrópolis. Foi um processo longo, que começou em 2018, com as primeiras reuniões. Faço parte do Conselho Administrativo da CBC, como atleta e consultor. Temos um esporte fértil, uma indústria capacitada, uma mídia que comunica, além de equipes. Os atletas não dependem de investimento externo para se dedicarem. É um caso muito diferente do cenário olímpico geral do país. Não temos dificuldades que outras modalidades têm. Em gestão, temos uma oportunidade de ouro. O que me incomoda é que o que vem sendo feito de mais significativo pelas iniciativas privadas não tenha envolvimento profundo com as entidades organizadores do esporte. Há um desejo de melhora, mas ainda falta a capacitação interna para aproveitar o momento. O esporte pode crescer muito mais. É uma crítica e um elogio ao mesmo tempo.