Dream Team com Jordan, Magic e Bird transformou o basquete dos Jogos Olímpicos
Astros da NBA foram liberados para atuarem pela primeira vez em Barcelona-1992 e, depois disso, os Estados Unidos só não foram ouro em Atenas
Dia 17 de abril de 1989. Nesta data, o basquete dos Jogos Olímpicos se transformou para sempre. A Federação Internacional de Basquete aprovou em votação (59 a 13) a entrada de jogadores profissionais (leia-se NBA) em suas competições e abriu caminho para o surgimento da maior equipe de todos os tempos na modalidade: o Dream Team, o time dos sonhos americano, campeão olímpico em Barcelona-1992.
Rivais ferrenhos na NBA, Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, astros de Chicago Bulls, Los Angeles Lakers e Boston Celtics, respectivamente, estariam juntos em uma equipe. O único patinho feio era Christian Laettner, destaque da Universidade Duke e que havia sido escolhido pelo Minnesota Timberwolves na terceira posição do draft de 1992.
A equipe americana contava ainda com outros jogadores que foram dominantes na NBA por diversas temporadas: David Robinson, Patrick Ewing, Scottie Pippen, Clyde Drexler, Karl Malone, John Stockton, Chris Mullin e Charles Barkley. O técnico era Chuck Daly, que havia sido bicampeão da NBA com o Detroit Pistons, nas temporadas de 1988-1989 e 1989-1990. A principal ausência foi o armador Isiah Thomas, que foi preterido da equipe por causa da relação pouco amigável com Jordan e Magic.
Antes de seguir com os feitos daquela equipe é necessário abrir um parêntese para explicar o motivo da entrada dos profissionais da NBA nos Jogos Olímpicos. Os Estados Unidos sentiram que sua hegemonia na modalidade estava ameaçada após derrotas para o Brasil na final dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987, e diante da então União Soviética, na semifinal dos Jogos Olímpicos de Seul, no ano seguinte. Os atletas universitários, que atuavam nas competições da Fiba, não conseguiam mais representar o país sem correr riscos.
Coincidentemente foi uma equipe formada por jogadores universitários que causou o despertar do Dream Team. Há uma certa controvérsia na história, mas, de fato, um time que contava com atletas que iriam brilhar anos depois na NBA, como Chris Webber, Grant Hill e Anfernee Hardaway, bateu Jordan e Cia. por 62 a 54.
O jogo-treino foi fechado e o placar eletrônico do ginásio desligado antes da entrada dos jornalistas. O fato só se tornou público em 2012, quando um documentário sobre o Dream Team foi lançado. Auxiliar de Chuck Daly, Mike Krzyzewski, o coach K, que comandou os EUA por muitos anos, afirmou que aquela derrota foi premeditada, porque o treinador não conseguia manter o controle com tantos astros reunidos.
"Foi satisfatório para Chuck ver que perdemos desse jeito, porque agora, teríamos que lhe dar ouvidos", afirmou Michael Jordan. "O discurso dele (Chuck) foi: qualquer um pode perder, então vocês devem estar preparados para jogar. Foi o único sermão que ele nos deu", acrescentou Karl Malone.
Os jogadores do Dream Team mudaram de postura depois do episódio, ganharam inclusive da mesma equipe de universitários (o placar nunca não foi divulgado) e iniciam o show que iria culminar com o ouro olímpico em Barcelona. A primeira partida, válida pelo Pré-Olímpico de Portland, foi uma vitória por 136 a 57 sobre Cuba, uma diferença de 79 pontos. Na sequência, os EUA derrotaram Canadá (105 a 61), Panamá (112 a 52), Argentina (128 a 87), Porto Rico (119 a 81) e Venezuela (127 a 80) para conquistarem o título e garantirem vaga nos Jogos Olímpicos.
Em Barcelona, os astros da NBA foram uma atração à parte. Apesar do reforço na segurança por causa de os jogadores serem um potencial alvo e da equipe não ficar na Vila Olímpica - ficaram hospedados em um luxuoso hotel -, todos queriam chegar próximos dos americanos, tirar fotos e pedir autógrafos. Charles Barkley, em certo momento, resolveu dar uma volta e causou um alvoroço. Era como reunir The Beatles e Elvis Presley em um mesmo palco, como definiu Chuck Daly.
Em quadra, os adversários foram atropelados, incluindo o Brasil de Oscar Schmidt, sem nenhuma dó. A seleção americana venceu todos os oito jogos com facilidade. A começar pela estreia contra Angola (116 a 48), passando por Croácia (103 a 70), Alemanha (111 a 68), Brasil (127 a 83), Espanha (122 a 81), Porto Rico (115 a 77), Lituânia (127 a 76) e novamente Croácia (117 a 85), na decisão da medalha de ouro. Os croatas contavam com um time talentoso, com Drazen Petrovic, Toni Kukoc e Dino Radja.
O Dream Team colocou o basquete dos Jogos Olímpicos em outro patamar. Depois da entrada dos profissionais, os Estados Unidos só não conquistaram o ouro uma única vez. Foi em Atenas-2004, quando a Argentina foi campeã olímpica. Naquela campanha do bronze, os americanos, que contavam com Tim Duncan, Dwyane Wade, Allen Iverson, LeBron James e Carmelo Anthony, perderem para Porto Rico, Lituânia e dos próprios argentinos, na semifinal, por 89 a 81.
Atuais tricampeões olímpicos (Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016), os americanos não terão força máxima em Tóquio. A equipe será liderada por Kevin Durant, mas não terá LeBron James, James Harden, Anthony Davis, Chris Paul e Stephen Curry. A globalização do basquete, graças ao Dream Team e o crescimento da NBA fora dos EUA, fez de outras seleções uma perigo real para esta hegemonia que foi resgatada por Jordan e Cia.