Rainha do Mar: Ana Marcela vai a Paris para confirmar legado e colorir o Rio Sena
Campeã olímpica é um dos destaques da série Elas no Pódio; conheça segredos da preparação e da vida privada da atleta de maratona aquática
O mar é imprevisível. Ana Marcela Cunha, nem tanto. Em todo treino, ela é pontual. Com antecedência, deixa sua mochila organizada, com os itens separados na ordem que irão ser utilizados na piscina. Em casa, dobra as roupas sempre no mesmo padrão. E quando é dia de competição, acorda cedo e coloca sempre a mesma playlist de rap para tocar –"roubada" de sua esposa, Juliana Melhem, com quem compartilha a vida de atleta de alto rendimento.
- Essa reportagem faz parte da série Elas no Pódio, que conta histórias de seis mulheres (Rafaela Silva, Bia Ferreira, Ana Marcela Cunha, Rebeca Andrade, Viviane Lyra e Rayssa Leal) que são inspiração e referências nos seus respectivos esportes, além de representarem o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris.
Nessas constâncias da vida, a relação com a água também sempre se fez presente. Quando ia à praia, ainda bebê, engatinhava na direção do mar. Filha da ex-ginasta Ana Patrícia Cunha e do ex-nadador George Cunha, deu sequência aos sonhos dos pais e seguiu a carreira de atleta. Ela até chegou a fazer aulas de ginástica na infância, mas não teve jeito, seu negócio sempre foi a natação – e estar no pódio também se tornou rotina.
A baiana de 32 anos é considerada uma das maiores atletas de todos os tempos em águas abertas. Ana Marcela se consolidou em Santos, no litoral paulista, e teve sua carreira consagrada enquanto passou por São Paulo e Rio de Janeiro. Agora, vive na Itália, onde se prepara para os Jogos de Paris. Mesmo que seja sua quarta participação, ela diz ainda sentir um 'frio na barriga', afinal esta é primeira vez que chega a competição com o status de campeã olímpica.
Ao ouvir pessoas que cruzam sua história, a impressão é de que a palavra 'perfeição' é a que mais ecoa quando Ana Marcela Cunha é assunto. Na conversa que tivemos com sua esposa, por exemplo, o adjetivo apareceu mais de 10 vezes. Mas, justamente, nos momentos em que tentou romper com o estigma de que Ana Marcela se resume a isso. Por muito tempo, a atleta se cobrou para atingir o estado de excelência. Sua régua era alta, tinha que ser perfeita, todo treino tinha que ser perfeito, e, ainda mais, suas temporadas.
A 'chave virou' justamente quando Ana teve que desacelerar. Em 2022, já campeã de tudo, ela machucou o ombro esquerdo. Com o tendão subescapular rompido e o supra espinhal lesionado, ela se viu dentro de uma sala de cirurgia. "Em 2023, estarei ainda mais forte", deixou o recado nas redes sociais, na época, após tudo correr bem na operação. Recalculou a rota, respirou, e seguiu firme --agora, com um novo apreço pelas vitórias.
"Ela entendeu que ninguém é perfeito. Ninguém. E mesmo que ela seja, se Deus quiser, bicampeã olímpica, não quer dizer que ela seja perfeita"- Juliana Melhem, esposa de Ana Marcela Cunha
Cinco meses e meio após a cirurgia, em sua primeira competição, Ana Marcela conquistou o terceiro lugar na etapa de Fukuoka, no Japão, da Copa do Mundo. "Esse terceiro lugar teve gostinho de primeiro. A gente começou a comemorar tudo, até porque cada competição é uma competição", relembra a companheira de Ana. É com esse anseio de saborear novas vitórias que Ana Marcela segue rumo aos Jogos Olímpicos de Paris 2024, onde pode se tornar a primeira brasileira bicampeã em maratonas aquáticas.
O início de uma campeã
Criada em 1955, a Travessia Mar Grande - Salvador (hoje com o nome de Itaparica - Salvador) foi a primeira grande competição brasileira feita em mar aberto. Os poucos mais de 12 km que separam a praia da Gameleira da praia do Porto da Barra costumam revelar nadadores e consagrar outros tantos. Foi assim com Ana Marcela. Aos 14 anos, quando ficou em primeiro lugar na competição, não restaram dúvidas de que nascia uma grande campeã.
"Ela não tomou conhecimento de homem, de velho, de nada, meteu-lhe o braço e veio embora", relembra o treinador Cláudio Peixe, que acompanhou Ana Marcela desde os 7 anos, e diz que, para ela, não existia diferença entre competir com homem ou mulher.
"Era uma moleca, gostava de jogar futebol, gostava de brincar, e sempre focada. Pense numa criança que parece que nasceu para aquilo. Na hora do treino, não tinha menino que a acompanhasse. Todo menino ou menina que queria nadar junto dela, ela quebrava. Como? Todo mundo cansava, ela não. Ficava ali o tempo todo naquele speed [velocidade, em português]. Entendia rápido, veloz e técnica o tempo todo", conta Peixe.
As aulas para Ana Marcela aconteciam na antiga Vila Olímpica da Fonte Nova, que foi demolida junto da arena, em 2010, após o desabamento de parte da arquibancada do estádio três anos antes. Depois disso, o estado que gerou tantos nomes importantes para a natação e esportes aquáticos ficou anos sem um espaço para o desenvolvimento dos seus pequenos nadadores até a inauguração da Piscina Olímpica da Bahia, em 2016, em um novo endereço.
A família em torno da natação
Quando criança, Ana Marcela não via distinção entre seus competidores - e nessa, sobrava até para o irmão George. Um dos sete irmãos da campeã olímpica, ele acredita que talvez tenha sido o mais próximo dela, já que os dois dividiram por muitos anos a rotina de treinos e competições. Na água, George não queria perder para a irmã mais nova. "E ela, não é que ela queria ganhar de mim, mas ela sempre quis ganhar de todos", resume.
Hoje, com 39 anos, George dá aula em uma escola particular de Salvador, que tem tradição em competições, e já foi treinador da Seleção Baiana de Natação. Com uma dinâmica familiar não tão simples de entender --George é filho do segundo casamento de seu pai, e Ana Marcela, do terceiro--, de certa forma, a natação foi um importante elo entre os irmãos. Em algum momento da vida, todos foram nadadores.
E foi a piscina e as competições que aproximaram os dois. "Eu passei a ter mais contato com a Ana Marcela quando eu já tinha 14 ou 13 anos", recorda.
Ele se lembra que foi depois daquela Mar Grande - Salvador, que Ana Marcela venceu em 2006, que começaram a surgir propostas profissionais para a menina. Já no ano seguinte, a então adolescente se mudou para a cidade de Santos, no litoral paulista, para treinar na Universidade Santa Cecília (Unisanta).
A mudança afetou toda a família. Os pais de Ana Marcela venderam um negócio de pet shop que tinham em Salvador e se entregaram ao sonho da menina.
“Meu pai largou tudo para viver a vida de Ana Marcela. E hoje está colhendo tudo o que plantou no passado" - George, irmão de Ana Marcela.
O irmão segue acompanhando e torcendo, agora um pouco mais de longe. Em uma visita ao Rio de Janeiro, George conta que foi ao apartamento em que a irmã morava com a esposa, mesmo com elas viajando. Não podia perder a oportunidade de ver, tocar e fazer uma sessão de fotos com a medalha olímpica de Tóquio-2020.
Foi aquele pódio, inclusive, que reacendeu em Guilherme, filho de George, o interesse pela natação. "Eu nadava e, aí, eu parei, porque eu não levava como uma coisa que eu realmente queria. Aí, teve a quarentena e teve a Olimpíada da minha tia. Quando ela ganhou, me estimulou e eu foquei de novo", conta o adolescente, que hoje participa de competições tendo o pai como treinador.
'Soteropolitana santista'
Ana Marcela chegou em Santos em 2007, prestes a completar 15 anos. Rosa do Carmo José, coordenadora de natação na Unisanta, foi quem a recebeu com sua família. Foi dada assistência de moradia, uma 'bolsa atleta' e os pais também ganharam oportunidade de estudo na universidade. E, quando se mudaram de vez, não demorou muito para arrumarem amizades por toda a cidade. A própria Rosa, por exemplo, conta que ainda mantém contato com a mãe da nadadora.
No Santa, além de Ana nadar, também foi onde ela concluiu os estudos. Sua adolescência, então, foi vivida praticamente da piscina para a sala de aula, tudo no mesmo compilado de prédios da instituição. Além disso, também precisava cumprir com alguns compromissos extras, como participar de entrevistas e marcar presença em eventos institucionais. E sempre que era preciso, Rosa relembra de ver a menina uniformizada, sentadinha, aguardando a equipe no horário combinado. Em tudo isso, sempre respeitosa – sem perder a pose de brincalhona.
"De vez em quando, a gente ia dar uma 'catada nela'. Se ela visse alguém com bicicleta, ela catava a bicicleta, saia que nem louca. Se via um skate… Eu falava: 'Ana Marcela, não pode, pelo amor de Deus'. Ela era terrível, era terrível. Porém, assim, o terrível que eu digo, de uma adolescente extremamente alegre, de bem com a vida, fazendo aquilo que ama", conta Rosa, que diz só ter boas lembranças da campeã olímpica.
"Nem todos os atletas vão ser atletas olímpicos. Então, chega num momento da vida que eles têm de escolher", complementa. E foi assim que Ana Marcela seguiu 'nos dois mundos'. Pois, além de ser quem é como atleta, se graduou em Educação Física na instituição e se inscreveu para uma pós-graduação em Fisiologia dos exercícios para estudar de forma remota, da Itália, após os Jogos.
Os bons vínculos de Ana Marcela na cidade fazem com que muita gente pense que ela é santista – a tornando uma 'soteropolitana santista', brinca Rosa. Em entrevista coletiva pré-Olimpíada, a própria Ana confirma: "Já tenho mais tempo de casa em Santos do que em Salvador".
A preocupação de seus pais, quando chegaram à Baixada Santista, era com o bem-estar da então menina. Queriam que ela "mostrasse a que veio". E Ana se entregou por completo a esse sonho. Hoje, para além de medalhas e conquistas, toda dedicação e parceria de Ana Marcela é retribuída, também, com muito carinho na universidade.
Com vista para a piscina olímpica em que Ana tanto treinou, réplicas de seus prêmios são reunidos em um memorial da universidade. Fotografias também ganham espaço na piscina até mesmo na entrada da faculdade. Para além de Ana, são destacados outros atletas renomados que passaram pelo Santa – como é o caso de Poliana Okimoto, também medalhista olímpica, que dividia raias no mar com Ana.
Abriu caminhos
Quem investiu para que Ana Marcela desse essa guinada em sua carreira – além de sua família, que não mediu esforços para que a menina se tornasse a atleta de alto rendimento que é – foi Marcelo Teixeira, agora presidente do Santos Futebol Clube e presidente do Conselho da Unisanta. Embora na maioria dos casos seja o atleta que entra em contato com a instituição, nesse foi um ‘olheiro’ que chamou a atenção de Marcelo para a nadadora.
Ainda representante da instituição, recebe "um teto bom" por seu nível, brincou Teixeira, que não revelou valores do salário. Os contratos são sempre de quatro anos, vinculados a projetos olímpicos, e se renovam automaticamente.
"Me atrevo a dizer que ela é a melhor atleta em atividade no esporte nacional" - Marcelo Teixeira, presidente do Santos e do Conselho da Unisanta
Já seu primeiro treinador em Santos foi Marcio Antônio Latuf, que é técnico antes mesmo de Ana Marcela nascer. Entre idas e vindas, trabalharam juntos por quase 15 anos. "Lembro de uma prova, quando a Ana estava crescendo, evoluindo, em que as meninas ficavam atrás segurando no pé dela, dando cotovelada. A maratona aquática é um esporte de muito contato. Tem gente que não gosta, mas a Ana Marcela gosta. Ela não se inibe com isso."
“Ela é uma competidora nata. E, agora, também é muito experiente. Então é muito difícil ganhar da Ana Marcela” - Latuf, treinador
Caminho do ouro
Na Olimpíada de Pequim, em 2008, Ana Marcela terminou os 10 km na quinta colocação. Entre os muitos que mantinham olhares atentos à carreira da nadadora prodígio de 16 anos estava Fernando Possenti, eleito seis vezes o melhor técnico do mundo. Na época, ele não a conhecia pessoalmente --nem imaginava que, sendo seu treinador, ela alcançaria o topo do pódio olímpico.
Porém, a chegada ao ouro olímpico não foi tão linear. A expectativa virou decepção após Ana não se classificar para os Jogos de Londres, em 2012. Foi então que começou a parceria entre Possenti e a atleta. De encontros em competições e conversas paralelas, eles começaram a treinar juntos em 2013, após uma proposta oficial do Sesi.
Foram cerca de 10 anos juntos – "um terço da vida dela", destaca Possenti. Um período atípico, também acredita: "Eu não passei pelas derrotas e frustrações. Toda vez que a gente trabalhou junto, a gente foi vitorioso". Isso porque, por mais que estivessem em uma boa toada, em 2015, Ana Marcela deixou o Sesi e retornou ao Santa. Acabou com um decepcionante 10º lugar na Olimpíada em casa, no Rio de Janeiro, em 2016, quando enfrentou problemas com a alimentação durante o trajeto na Praia de Copacabana.
Dois anos depois, Ana retornou para a batuta de Possenti. Nesse vai e vem, ela já era 'grandona' pelo mundo, empilhava recordes em Mundiais e nas etapas da Copa do Mundo. Porém, faltava a consagração final, e ela veio com o topo do pódio nos Jogos de Tóquio, realizados em 2021 por causa da pandemia da covid-19.
"Eu imagino que todo atleta da qualidade dela, do nível dela, sonha com essa medalha olímpica que levou um tempo a mais para chegar. Mas eu não sentia essa pressão, porque a gente vinha sempre com resultados bons, bons, bons, bons. Então, não tinha porque ser diferente. Não é uma presunção, não é se sentir superior, não é se sentir metido, nem da minha parte, nem da dela. É porque era uma consistência de resultados que culminou com aquilo que ela merecia mesmo", argumenta Possenti.
O ouro, para ele, poderia ter sido mais celebrado --tanto por ela, quanto principalmente por ele. Isso, a seu ver, foi reflexo da estratégia que mantinha com Ana, a de encarar toda competição como mais uma competição importante: "Tem um lado positivo, que ela [a estratégia] te deixa tranquilo de competir em qualquer nível. Ao mesmo tempo, você não celebra no nível que merece ser celebrado".
A parceria vitoriosa foi interrompida de maneira abrupta para quem acompanhava de fora. Em junho do ano passado, 20 dias antes do início do Mundial de Esportes Aquáticos, em Fukuoka, no Japão, eles anunciaram o fim da dobradinha. A repercussão tratou a ruptura como um 'choque'.
Nas palavras de Juliana, esposa da nadadora, Ana sempre foi muito reservada e, por isso, as pessoas foram "pegas com tanta surpresa", além de destacar que "não foi algo que veio de algum conflito ou discussão, nem nada do tipo".
Na conversa com Possenti, ele também frisou não ter ocorrido nenhuma briga, e caracterizou o "término" não como uma página dolorida, mas como uma "preservação" de ambos. Para ele, foi uma decisão sábia para não estragar o passado que viveram juntos e, também, de alinhamento de expectativas e ressignificação de objetivos – já que, como conta, agora voltou a apostar na carreira como técnico de piscina.
“A gente riu muito mais do que chorou” – Fernando Possenti
Novos desafios
Para um atleta, o tempo do relógio costuma correr em um ritmo diferente. Depois dos 30, muitos daqueles de alto rendimento já estão há anos em seus esportes e pouca coisa parece desafiá-los o suficiente. Ana Marcela ainda mantém aceso esse brilho, em parte em razão da mudança para a Itália, onde está em uma nova equipe de treinamento com grandes nomes da natação mundial.
"Ela redescobriu algumas coisas, ela voltou a experimentar sensações e desafios novos. Acho que nem ela imaginou que aos 32 ela estaria vivendo tanta coisa nova. Está feliz e buscando mais uma medalha olímpica que realmente é histórica", afirma Juliana Melhem, esposa de Ana Marcela, que a acompanhou na mudança.
E a nadadora parece estar longe de querer parar. Perguntada em coletiva sobre aposentadoria, Ana Marcela diz não pensar sobre isso no momento. Ela está focada em viver a Olimpíada de Paris e deixar a natação fazê-la feliz, como faz há tantos anos. Além disso, diz ser uma pessoa 'que não fica pensando tanto quantos anos tem'.
"Só estou fazendo simplesmente o que eu amo. O alto rendimento é difícil, mas dá um gostinho muito bom de representar o Brasil. De conquistar coisas, de subir ao pódio e ouvir o Hino Nacional. São coisas que não quero deixar de ter já", afirma Ana Marcela.
Já em conversa com sua esposa, Juliana contou torcer para que Ana Marcela escolha se tornar uma treinadora quando encerrar o seu período como nadadora. Ela reconhece que a presença feminina cresceu em vários âmbitos do esporte, mas lamenta não conhecer nenhuma mulher na posição de treinadora.
Na nova rotina de treinos com Fabrizio Antonelli, Ana Marcela divide a piscina com algumas de suas principais adversárias, nadadoras de diversas nacionalidades. Ela e a esposa, porém, contam que a rivalidade costuma ficar só nas competições e que tem surgido uma construção de amizade com as colegas. Juliana resume que as nadadoras sabem "virar uma chave" na hora das competições e fora delas.
"Tem sempre um momento do treino em que uma ganha da outra e está tudo bem. Isso é muito importante, porque são meninas que já ganharam de mim, são meninas que estão na crescente ainda, muito novas", conta Ana Marcela.
Com o novo treinador, Ana Marcela tem aprendido, sobretudo, a domar a si mesma. Assim como descrito por seus treinadores na infância, ela confessa ter dificuldade em saber respeitar seus limites. Não é nem por não querer perder das adversárias, mas ela não quer perder contra si.
"Eu aprendi muito com o estilo de treino do Fabrizio. Tem vezes que o corpo está cansado, e ele simplesmente fala: 'Esquece tudo, vai na técnica'. E no começo, para mim, foi difícil, porque eu sou uma pessoa que briga o tempo todo [pelo primeiro lugar]", revela a baiana.
Vida a duas
O relacionamento entre Juliana e Ana Marcela escalonou rápido. Elas se conheceram melhor em 2022, e, segundo Juliana, foi quando tudo começou, desde o romance até a parceria de trabalho. O casamento aconteceu em 31 de março de 2023, dias depois do aniversário das duas, que além de tudo que já partilham, dividem a mesma data de nascimento.
Como preparadora física de Ana Marcela, Juliana conta que elas criaram uma estratégia para diferenciar os papéis, já que as duas estão juntas 24 horas por dia. Após as competições, a primeira conversa entre elas é sempre profissional. O lado esposa acaba ficando em casa, para que Juliana possa analisar e falar abertamente sobre o que achou das provas de uma forma mais técnica.
Na nova rotina na Itália, onde estão morando há cerca de quatro meses, é a cachorra Zaya que parece ditar os passeios nos fins de semana. Juliana conta que as duas tentam sempre conhecer um novo parque ou restaurantes que servem bons cafés da manhã.
Entre a rotina intensa de treinamentos, o que mais pesa é a saudade - do arroz e do feijão e, principalmente, da família. O apoio dos pais vêm mesmo de longe, mas, para a Olimpíada, fizeram questão de estar ao seu lado em Paris. As ligações entre eles são diárias, o que lhe dá tranquilidade para acreditar que está no caminho certo.
Apesar do grande apego que tanto Ana Marcela quanto Juliana têm com os pais, as duas ainda não têm planos de aumentar a família - a não ser para o lado canino. Ser mãe ainda não é um desejo de nenhuma das duas, mas Juliana não descarta a possibilidade no futuro. Por enquanto, o posto de filha amada e mimada fica apenas com Zaya.
E contrariando a dita personalidade reservada de Ana Marcela, não são só o seu talento ou o seu carisma que dão o que falar – mas, também, o seu cabelo nas competições. Não tem como, por exemplo, desassociar a medalha olímpica de Tóquio com seu penteado verde e amarelo. Por enquanto, a poucos dias da Rainha do Mar se desafiar nas águas do rio Sena, na capital francesa, seu cabelo segue castanho, na cor natural. Mas sua esposa já adiantou que haverá novidades: “Tem que ter cor, não tem como. Ela tá muito normal nesse cabelo, é muito sem graça, então a gente já sabe que tem que vir alguma coisa, mas ela só vai contar na hora”. Independente do que vier, de uma forma ou de outra, uma coisa é certa: ela irá se superar.
*Coordenação e edição de Aline Küller