'Na minha cabeça, sou só uma adolescente normal’, diz Rayssa Leal sobre fama após medalha olímpica
Em entrevista exclusiva ao Terra, a atleta fala sobre experiências na Olimpíada de Paris e vida cotidiana
Rayssa Leal voltou a fazer história e garantiu o bronze do skate street nos Jogos Olímpicos de Paris. A 'fadinha' se tornou a brasileira mais nova a conquistar medalhas em Olimpíadas diferentes e foi celebrada por uma multidão de brasileiros em Paris – além, claro, da torcida à distância. Por mais que a adolescente seja uma das atletas mais tietadas do Time Brasil, ela não pensa muito na fama. “Na minha cabeça, sou só uma adolescente normal”, disse, em entrevista exclusiva ao Terra.
Paris É Delas é o programa oficial do Terra com os principais acontecimentos dos Jogos de Paris, oferecido por Vale. Assista aqui no Terra.
A medalha veio neste domingo, 28. Mas só vai conseguir comemorar com sua família – que a acompanha em Paris – na noite desta segunda, 29. Isso porque todos estavam ‘mortos de cansaço’, e Rayssa priorizou ter uma noite de sono ao lado da mãe, já que pôde sair da Vila Olímpica. Por mais que não se veja como uma ‘superstar’, só uma coisa ecoou na cabeça da atleta antes dela cair no sono: a lembrança da torcida gritando seu nome.
À reportagem, Rayssa também contou sobre sonhos, experiências das Olimpíadas e relembrou a vida cotidiana que voltará após os Jogos – inclusive, as provas de Matemática. Confira a entrevista completa, feita pelos correspondentes do Terra em Paris, Aline Küller e Luiz Carlos Pavão, e transmitida no programa Paris é Delas, apresentado pela jornalista Renata Veneri, nesta segunda-feira, 29:
Terra: Ontem, durante a sua prova, eu estava vendo ela do lado de um jornalista francês. Ele se surpreendeu com a torcida e me perguntou, ela é uma superstar? Eu falei, é. Vocês consideram uma superstar?
Rayssa: Olha, agora... Eu me considero agora realmente, assim, famosa, sabe? Eu acho que superstar é demais. É coisa, assim, de, tipo... Cara, não passa na minha cabeça, assim, sabe? Na real, nem me passa na cabeça que eu sou famosa, sabe? Na minha cabeça, eu sou só uma adolescente normal. Sei que eu não sou, mas eu acho que eu sou.
Terra: Você falou sobre ser uma adolescente normal. Tem alguma coisa que você sente falta de poder ser uma adolescente normal?
Rayssa: Na verdade, não, eu faço tudo o que um adolescente normal faz. Vou para a escola, quando tem aniversário, vou para a festa. Saio. Então, independente de eu ter a minha vida com o meu skate, eu tenho a minha vida pessoal, que também é muito importante para o nosso crescimento. Então, está tudo certinho, em ordem.
Terra: O que mudou de Tóquio para cá? Você sentiu mais a responsabilidade? Talvez, em Tóquio, quando você chegou, ainda você estava tentando descobrir o que era a Olimpíada. E aqui, quando você chegou, tinha uma arena inteira maluca que comprou ingresso só para ver Rayssa Leal andar de skate.
Rayssa: Cara, foi algo maluco, assim. A gente estava até conversando depois que acabou tudo. O quanto isso, sabe, foi… Foi lindo. Porque a gente não imagina... Pelo menos na minha primeira Olimpíada, eu não imaginava o quão grande eu era. E nem o skate, acho, imaginava. Mas nessa, a Olimpíada mesmo provou o quão grande é. E porque é um evento que acontece só em quatro, quatro anos. Então, mudei muito o meu pensamento, tanto as minhas metas quanto os meus focos pessoais também.
Terra: Você ficou com medo de decepcionar o público de alguma maneira e sair daqui sem medalha? Você chegou a sentir esse peso?
Rayssa: Eu acho que toda atleta acaba se cobrando, assim, um pouco. E eu não fui diferente. Até porque minha tela de bloqueio continua a medalha de ouro. Depois vou mudar, vai dar certo. Mas é porque eu realmente fui com a meta de ganhar a medalha de ouro, que era o que eu queria, o que todo mundo queria, pelo menos do Brasil. E a gente sabe que quem está competindo, é o que quer também. Além de chegar lá, se divertir, dar as manobras, enfim. Coisa que a gente já faz todos os dias. Mas era uma meta minha pessoal, que eu sonhei desde quando acabou Tóquio. Mas esse sonho foi adiado.Tem muitas outras coisas para a gente fazer. Eu acabei me cobrando um pouco mais, né? Por saber que eu tinha muita, muita chance. Mas é isso, acontece. Medalha de bronze, para mim, está demais também, está incrível.
Terra: E a comemoração, você achou que é essa? Você acabou curtindo um pouco mais do que a de Tóquio, por saber o peso que essa medalha tinha, o quanto você batalhou por ela. Qual foi a diferença, o momento de comemoração, depois da medalha?
Rayssa: Eu acho que a diferença mesmo é que toda a minha família está aqui. Então, isso já mudou muito. Para mim, já foi uma vitória poder trazer todo mundo para cá. Porque, na verdade, ninguém imaginava, né? Com 16 anos, já participar da segunda Olimpíada, ter a segunda medalha. Então, a gente não comemorou ainda, porque ontem a gente estava morto. Cansado demais, mas hoje vai ser demais.
Terra: Conseguiu dormir ontem? O que você fez? Quais sãp os planos para hoje?
Rayssa: Cara, ontem eu saí da Vila [Olímpica], porque a gente ia sair da Vila de manhã. Só que eu podia dormir com a minha mãe hoje. Então, eu aproveitei para dormir com ela hoje. É, foi hoje, né? Porque eu mudei de madrugada. E... Cara, eu só dormi. Só dormi, larguei o celular, dormi, parei de ver tudo. Só que eu demorei um pouquinho para dormir, por causa que, na minha cabeça, ficou a galera gritando... Rayssa! Rayssa! Mas, assim, tirando isso, foi demais.
Terra: Só para a gente terminar, você falou que não queria nem pensar que a escola está voltando. Tem alguma matéria que você está precisando tirar nota? Vai ter que se concentrar nisso agora?
Rayssa: Cara, eu estou estudando uma tal de matriz de matemática, que eu não sei nem para onde anda. Vou ter que reaprender isso aí, porque a única coisa que eu aprendi mesmo foi para a prova. Para poder, pelo menos, fazer os cálculos certos, né? E poder tirar nota boa, que foi o que aconteceu. Glória a Deus, não fiquei em recuperação de matemática. Mas, quando chegar, vou ter que aprender isso aí de novo.
Terra: Valeu, Raissa. Muito obrigada. A gente se vê em Los Angeles.
Rayssa: Obrigada. A gente se vê lá.