Nos Jogos de Tóquio, Ana Marcela Cunha busca a medalha que lhe faltava
Grande vencedora em Mundiais, nadadora faz terceira tentativa de ir ao pódio olímpico
Ana Marcela Cunha está focada em conquistar a medalha que falta em seu vitorioso currículo. Se nos campeonatos mundiais ela reina, nos Jogos Olímpicos ainda não conseguiu ter o mesmo desempenho de outras competições internacionais. Até por isso, chegou a Tóquio sem alarde para a disputa da Olimpíada e após realizar uma preparação na Espanha.
A atleta brasileira da maratona aquática compete na prova de 10 km nesta terça-feira, às 18h30 (horário de Brasília). A prova está marcada justamente para as 6h30 da manhã no horário local para fugir do forte calor que faz no Japão nesta época do ano. A competição será realizada no Parque Marinho de Odaiba, uma ilha artificial na Baía de Tóquio.
A baiana de 29 anos tenta chegar ao pódio olímpico pela primeira vez na carreira. Sua estreia foi nos Jogos de Pequim, em 2008, quando tinha apenas 16 anos e chegou na quinta colocação. Quatro anos depois, se frustrou por não conseguir a vaga para a Olimpíada de Londres. Já no Rio, em 2016, voltou aos Jogos Olímpicos, mas ficou em décimo lugar na prova que teve a brasileira Poliana Okimoto sendo bronze.
Se a medalha olímpica ainda não veio, em outras competições há fartura de pódio. Só em Campeonatos Mundiais a nadadora tem 11 pódios, sendo os mais relevantes o tetra nos 25 km, o ouro nos 5 km, em 2019, e uma prata e dois bronzes na distância de 10 km.
Neste ano, ela venceu a etapa de Doha, no Catar, da Série Mundial, no mês de março.
Para não deixar escapar mais uma vez a medalha, Ana Marcela fez uma preparação em Sierra Nevada, no sul da Espanha, em um centro de treinamento que fica em região de altitude. Com isso, ela consegue melhorar seu condicionamento físico para competir na prova de sete voltas em um circuito na água.
O treinamento em altitude é muito procurado por atletas que fazem provas de resistência. Serve para os maratonistas do atletismo e também para os nadadores de longa distância. Os efeitos no corpo duram algum tempo e ela vai competir no Japão com sua condição fisiológica aprimorada.
Antes, passou por um duro período de treinos no Rio, no Complexo Maria Lenk, acompanhada por seu treinador desde 2013, Fernando Possenti, que também esteve com ela em Sierra Nevada e está em Tóquio. Boa parte de sua preparação no ano passado teve de ser reformulada por causa da pandemia do novo coronavírus.
"As expectativas são as melhores possíveis. Foco no nosso maior objetivo que é a medalha. É o meu sonho, a única medalha que ainda não ganhei. Eu vou atrás disso", disse Ana Marcela.
A prova de maratona aquática ocorre em águas abertas, então a atleta precisa estar preparada para todos os tipos de desafios. O calor atrapalha, possíveis correntes marinhas podem fazer diferença, e também é uma disputa de muita estratégia. São 25 mulheres na prova e a tendência é que se forme um grupo que vai sobressair aos poucos.
É possível ingerir líquidos durante o trajeto e existem 21 pontos em que os técnicos ou auxiliares dão a alimentação para as atletas. E, no final da prova, nos últimos metros, o ouro será decidido no sprint, ou seja, quem tiver mais fôlego e velocidade vai bater na placa em primeiro para confirmar o título.
Ou seja, a estratégia é muito importante para evitar se desgastar muito e ter força para acelerar na reta final.
A largada da prova é feita em uma maratona fixa e a posição dos atletas é definida por sorteio. A profundidade mínima do mar é de 1m40 e a temperatura da água, medida tanto no dia como durante a prova, deve estar entre 16ºC e 31º C.
Por todo histórico de bons resultados, Ana Marcela deve ser incluída entre as favoritas ao pódio, mas precisa tomar cuidado com algumas atletas muito boas, como a chinesa Xin Xin, campeã mundial em 2019, a holandesa Sharon van Rouwendaal e a italiana Rachele Bruni, ouro e prata respectivamente nos Jogos do Rio, e a norte-americana Haley Anderson.
SONHO REALIZADO
Depois de 13 anos de espera, Ana Marcela conseguiu a vitória que lhe faltava, o ouro olímpico. Durante toda a competição, a brasileira sempre esteve entre as primeiras posições. Ela fez uma ótima prova e usou estratégias para deixar para trás suas adversárias.
A atleta, que começou no grupo da frente após a largada, liderou a prova por um bom tempo, mas, em determinados momentos, outras competidoras passaram na sua frente. Ana não se abalou. Essa foi uma estratégia utilizada para conseguir analisar as concorrentes. Com pouco mais de sete quilômetros de disputa, eram 36 braçadas por minuto, 10 a menos do que a nadadora Ashley Twichell, dos Estados Unidos. Isso fez com que ela se mantivesse veloz, enquanto a americana cansava mais devido a maior intensidade.
Marcela, que tingiu seu cabelo com a cor da bandeira do Brasil para competir, voltou a liderança nos últimos km de prova quando começou a aumentar os ritmos das braçadas e ultrapassou a alemã Leonie Beck, fazendo com que ficasse com a primeira posição até o fim e conquistasse um feito inédito em sua carreira, ser campeã da maratona aquática em uma Olimpíada.