Olimpíada de Tóquio 2021: o que é o protesto com braços cruzados da americana Raven Saunders
Medalhista de prata desafiou proibição durante premiações para chamar atenção para oprimidos e saúde mental.
A americana Raven Saunders protagonizou a primeira manifestação no pódio da Olimpíada de Tóquio, após ganhar a medalha de prata no arremesso de peso feminino.
Enquanto os medalhistas posavam para fotos, Saunders ergueu os braços e os cruzou em forma de X. Ela disse que o ato representava "o cruzamento em que todas as pessoas oprimidas se encontram".
A jovem de 25 anos, que é negra, lésbica e tem falado abertamente sobre sua luta contra a depressão, disse que queria "ser eu e não se desculpar".
Depois de competir, Saunders disse que pretendia chamar atenção para todas as "pessoas que estão lutando e não têm plataforma para falar por si mesmas".
"Faço parte de muitas comunidades", acrescentou Saunders, que comemorou depois de seu lance final de arremesso de peso.
A chinesa Gong Lijiao ganhou o ouro, e a neozelandesa Valerie Adams, o bronze, sua quarta medalha consecutiva na Olimpíada.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) relaxou a proibição de protestos antes dos Jogos de Tóquio, permitindo que os atletas "expressassem suas opiniões" durante coletivas de imprensa — mas as manifestações políticas ainda estão proibidas no durante as premiações.
A entidade disse estar "avaliando" o gesto, disse um porta-voz. Não está claro qual reprimenda Saunders pode enfrentar, já que o COI não informou sobre possíveis penalidades.
"Realmente acho que minha geração realmente não se importa", disse Saunders.
"No fim das contas, realmente não nos importamos. Grito para todos os meus negros. Grito para toda a minha comunidade LGBTQ. Grito para todo o meu povo que lida com saúde mental. No fim das contas, entendemos que isso é maior do que nós e maior do que os poderes constituídos. Entendemos que há tantas pessoas que estão olhando para nós, que estão procurando para ver se dizemos algo ou se falamos por eles."
A saúde mental dos atletas tem sido o foco da Olimpíada deste ano, depois que a superestrela da ginástica dos Estados Unidos, Simone Biles, desistiu de várias competições para priorizar seu bem-estar.
Saunders, que fez sua estreia olímpica no Rio de Janeiro em 2016, descreveu como considerou tirar a própria vida em 2018 enquanto enfrentava problemas de saúde mental.
Sua identidade foi consumida pelo arremesso de peso, disse, e ela se sentiu incapaz de escapar das pressões associadas ao esporte. Saunders buscou, então, ajuda de um ex-terapeuta e afirmou ter sido capaz de estabelecer uma relação mais equilibrada com o esporte, rumo ao sucesso.
"É normal ser forte", disse ela sobre a situação. "E não há problema em não ser forte 100% do tempo. Não há problema em precisar das pessoas."
Antes de seu gesto no pódio, Saunders já havia chamado a atenção dos fãs por seu cabelo verde e roxo. Ela também atraiu olhares por suas máscaras inspiradas nos personagens Hulk, da Marvel Comics, e Coringa, da franquia Batman.
Ela vê Hulk como seu alter ego — e um reflexo de como ela aprendeu a compartimentar, liberando poder de uma forma controlada.
O jornal americano Washington Post observou que, após seu evento, ela "foi em direção à zona mista, perguntando onde poderia encontrar champanhe e cantando 'Celebration'".
Saunders descreveu como ela cresceu assistindo às campeãs de tênis negras Venus e Serena Williams, "jovens negras com miçangas no cabelo, sem remorso", e o que essa visibilidade significava para ela.
Ela agora espera inspirar outras pessoas por meio de suas próprias realizações — e sua honestidade.