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Olimpíadas: boxeadora argelina vê ouro como 'resposta' e apela por fim dos ataques de gênero

Imane Khelif foi desclassificada do Mundial de Boxe em 2023 por 'níveis elevados de testosterona'; em Paris, já garantiu ao menos a medalha de bronze

5 ago 2024 - 04h19
(atualizado às 08h55)
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A argelina Imane Khelif vai em busca do ouro
A argelina Imane Khelif vai em busca do ouro
Foto: Peter Cziborra / Reuters

Imane Khelif, boxeadora argelina vítima de ataque de gênero, quer conquistar medalha de ouro nas Olimpíadas de Paris como "resposta" aos ataques sofridos ao longo da última semana. Além disso, às vésperas da semifinal contra a tailandesa Janjaem Suwannapheng, a atleta clama pelo fim dos ataques virtuais no esporte. "Afeta a dignidade humana", afirma. Ela já garantiu, ao menos, a medalha de bronze em Paris.

  • A cobertura dos Jogos de Paris no Terra é um oferecimento de Vale.

Em entrevista à Associated Press neste domingo, 4, comentou sobre os ataques que recebeu nos últimos dias, especialmente na internet. Em 2023, a lutadora não passou em um teste de gênero - por ter níveis elevados de testosterona - para competir no Mundial da modalidade e foi desqualificada. "Envio uma mensagem a todas as pessoas do mundo para defenderem os princípios olímpicos e a Carta Olímpica, para se absterem de intimidar os atletas, porque isso tem efeitos, efeitos enormes", disse Imane.

"Isso pode destruir pessoas, pode matar os pensamentos, o espírito e a mente das pessoas. Isso pode dividir as pessoas. E por causa disso, peço-lhes que evitem o bullying." Na última semana, as polêmicas em relação a seu gênero aumentaram após combate com Angela Carini, da Itália, no qual a adversária abandonou a luta ainda no primeiro assalto. Ela afirmou, posteriormente, que nunca havia "sofrido golpes tão fortes". Na internet, a situação se somou aos ataques de gênero.

"Estou em contato com minha família dois dias por semana. Espero que eles não tenham sido profundamente afetados", disse ela. "Eles estão preocupados comigo. Se Deus quiser, esta crise culminará numa medalha de ouro, e essa seria a melhor resposta". Antes das quartas de final, a húngara Luca Hamori, que enfrentaria Imane, se juntou aos ataques, afirmando em seu perfil no TikTok que "teria lutar contra um homem".

O Comitê Olímpico Internacional (COI) saiu em defesa da atleta, assim como o Comitê Olímpico da Argélia. Imane está no centro da polêmica, mas não é a única afetada pela questão. Yu Ting Lin, de Taiwan, também foi desclassificada do Mundial de Boxe, em 2023, e disputa as Olimpíadas de Paris. Assim como a argelina, ela garantiu ao menos a medalha de bronze em sua categoria.

"O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres", afirmou Mark Adams, porta-voz do COI sobre o caso. Além do Comitê, a família da argelina veio em defesa da atleta. "Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa", afirmou Omar Khelif, pai da boxeadora, em entrevista à AFP.

"Sei que o COI foi justo comigo e estou feliz com esta solução, porque mostra a verdade", disse. Ela chegou a ser questionada se havia sido submetido a outros exames além dos testes antidoping, mas se recusou a comentar sobre. Segundo Federação Internacional de Boxe (IBA, na sigla em inglês), os exames pelos quais Imane e Yu passaram são "confidenciais".

A pugilista Imane Khelif em ação
A pugilista Imane Khelif em ação
Foto: Isabel Infantes / Reuters

Relembre o caso

A desclassificação de Khelif foi decidida pela Associação Internacional de Boxe (IBA), que o COI retirou da organização do torneio olímpico de Paris por falta de transparência. A polêmica explodiu na quinta-feira, quando a italiana Angela Carini, primeira adversária de Kheklif, abandonou a luta aos prantos após apenas 46 segundos de combate, no qual recebeu vários golpes fortes no rosto.

As imagens da luta rapidamente se espalharam nas redes sociais com figuras do esporte, como Martina Navratilova, e políticos, desde a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, até o ex-presidente americano Donald Trump criticando a autorização do COI para a participação de Khelif.

A boxeadora italiana Angela Carini pediu desculpas à lutadora argelina Imane Khelif após a repercussão da luta. "Toda essa controvérsia me deixa triste", afirmou Carini ao jornal italiano Gazzetta dello Sport. "Eu também sinto muito pela minha oponente. Se o COI diz que ela pode lutar, eu respeito a decisão".

A IBA anunciou que vai premiar a italiana como se ela tivesse conquistado a medalha de ouro nas Olimpíadas de Paris. Apesar de ter abandonado a luta contra a argelina depois de apenas 45 segundos, Angela Carini vai receber 50 mil dólares (R$ 286,5 mil) de premiação da IBA. O presidente da entidade, Igor Kremlev, comunicou a decisão.

A italiana afirmou que abandonar a luta foi uma decisão madura que visava proteger sua integridade física, mas que ela se arrepende de não apertar a mão da oponente. "Não foi algo que eu queria ter feito", afirmou a boxeadora. "Na realidade, gostaria de me desculpar com ela e com todos os outros. Eu fiquei com raiva porque minha Olimpíada foi para o saco".

Estadão
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