Olimpíadas de Tóquio 2021: de casas a vacas, os inusitados prêmios que alguns países dão a medalhistas olímpicos
Um grande número de países usa incentivos financeiros como forma de ajudar seus esportistas a chegar ao pódio. Mas alguns vão muito além e incluem até mesmo imóveis e animais
São tantos os motivos para desejar uma medalha nas Olimpíadas: o prestígio, a sensação de realização, a fama.
Mas você sabia que muitos países oferecem recompensas ainda maiores para seus atletas, que vão desde dinheiro, casas e até vacas?
Embora o Comitê Olímpico Internacional (COI) não pague taxas de participação ou ofereça compensação por pódios, um bom número de países está tentando acender o fogo da competitividade com recompensas.
Veja o que alguns dos vencedores dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 vão receber, além do metal da medalha.
Duas novas casas
A halterofilista Hidilyn Diaz levou as Filipinas ao êxtase em 26 de julho ao ganhar a primeira medalha de ouro olímpica do país.
Ela triunfou na categoria até 55 kg feminino, tornando-se uma heroína nacional.
Mas as façanhas de Diaz no levantamento de peso também mudaram sua vida longe da esfera esportiva.
Pela medalha ela levou um prêmio em dinheiro de mais de US $ 600 mil (cerca de R$ 3,1 milhões). A premiação inclui contribuições da Comissão de Esportes das Filipinas e até do próprio presidente do país, Rodrigo Duterte.
Diaz ganhou ainda duas novas casas - uma delas em um condomínio de luxo, oferecida pelo bilionário filipino-chinês Andrew Lim Tam.
Isso não é nada mau para uma esportista que atualmente ganha cerca de US$ 500 (R$ 2.600) por mês como sargento da Força Aérea Filipina.
Diaz conquistou a vitória apesar de ter que treinar para a Olimpíada sem uma academia. Em vez disso, a atleta teve que improvisar usando equipamentos de levantamento de peso depois que ela e sua equipe ficaram 18 meses sem conseguir sair da Malásia por causa da pandemia de covid-19.
Prêmio em dinheiro
Os prêmios em dinheiro variam bastante entre os países.
Países "ganhadores de medalhas", cujos atletas contam com enormes investimentos em preparação e instalações, geralmente são menos generosos do que aqueles nos quais a glória olímpica será mais, digamos, heróica.
A Malásia, um país que ganhou apenas 11 medalhas em 13 Olimpíadas, prometeu pagar US$ 241 mil por um ouro em Tóquio (o prêmio para a prata é de US$ 150 mil e US $ 24 mil para o bronze).
Até 6 de agosto, a Malásia havia conquistado apenas uma medalha nesses jogos: um bronze nas duplas masculinas de badminton.
Por outro lado, a Austrália, dona de mais de 500 medalhas na história olímpica, está oferecendo menos de 10% desses valores para cada pódio - o país já conquistou mais de 30 medalhas em Tóquio, aliás.
Já o Comitê Olímpico Brasileiro premia os atletas em modalidades individuais com R$ 250 mil para medalha de ouro; R$ 150 mil para a prata; e R$ 100 mil, o bronze.
Carros novos
China e Rússia são exceções entre os gigantes: seus medalhistas olímpicos não apenas receberão generosos prêmios em dinheiro, mas também uma série de presentes de autoridades nacionais e locais.
No caso da Rússia, as vantagens incluem carros novos, bem como apartamentos.
Vacas
Mas algumas recompensas são um pouco mais curiosas.
Os remadores sul-africanos Sizwe Ndlovu, Matthew Brittain, John Smith e James Thompson, que venceram as quatro finais do peso leve masculino em Londres 2012, receberam uma vaca cada um.
Eles ganharam os animais de Jan Scannel, empresário e chef de TV especializado em churrascos.
Novos empregos, melhores salários e isenção do serviço militar
Em muitos países, uma medalha olímpica pode render um emprego. Ou salários maiores.
A levantadora de peso indiana Mirabai Chanu ganhou cerca de US$ 350 mil por uma medalha de prata em Tóquio, mas talvez o mais surpreendente seja outro agrado à atleta: ela foi publicamente promovida em seu emprego no Serviço Ferroviário Indiano.
Na Coreia do Sul, os vencedores de medalhas recebem dinheiro, mas o maior prêmio para alguns homens pode ser a suspensão do período obrigatório de 18 meses no serviço militar do país.
Em Tóquio, o privilégio estava em disputa por dois atletas coreanos na competição de golfe, Sungjae Im e Si Woo Kim, mas nenhum deles terminou no pódio.
Corte de financiamento
A prática de premiar medalhas olímpicas não é nova e remonta à década de 1980. Mas as vantagens aumentaram desde então.
Pergunte ao nadador cingapuriano Joseph Schooling: depois de vencer a lenda americana Michael Phelps pelo ouro nos 100 metros masculinos nas Olimpíadas do Rio, em 2016, Schooling recebeu um prêmio de US$ 750 mil de seu governo.
Mas, para muitos, essas recompensas são na verdade uma tábua de salvação, já que a maioria dos atletas compete em esportes que não despertam grande interesse da mídia. Portanto, acordos de patrocínio fora do ciclo olímpico são difíceis de conseguir.
Os esportistas brasileiros, por exemplo, dependem muito de verbas do governo para se manter. A lista inclui a ginasta Rebeca Andrade, que encantou o mundo ao conquistar duas medalhas (ouro e prata) na competição feminina.
Em fevereiro, o grupo de pesquisa Global Athlete entrevistou quase 500 atletas olímpicos de elite de 48 países sobre suas finanças. Quase 60% deles disseram que "não se consideravam financeiramente estáveis".
Atletas de vários países, incluindo potências de medalhas como os Estados Unidos, recorreram a campanhas de crowdfunding para financiar seus preparativos para os Jogos de Tóquio.
A campeã olímpica de corridas de BMX, a britânica Bethany Shriever, teve que financiar seu sonho de disputar os Jogos depois que o financiamento para mulheres foi cortado pelo órgão regulador UK Sport, em 2017.
A pandemia de covid-19 tornou as coisas ainda mais complicadas, depois que competições em que atletas recebiam ofertas de taxas de participação e prêmios em dinheiro foram adiadas ou canceladas.