Pódio de brasileiras em Tóquio inspira nova geração de atletas
Duda Abreu trocou o balé pelo futebol e já faz parte do Centro Olímpico, se destacando como meia atacante
As mulheres brasileiras bateram o recorde de medalhas conquistadas em uma única edição dos Jogos Olímpicos.
Nas Olimpíadas de Tóquio 2020, as atletas do Brasil somaram nove medalhas - quase metade das 21 conquistas. Ana Marcela Cunha conquistou o ouro na maratona aquática, assim como a ginasta Rebeca Andrade no salto e as velejadoras Kahena Kunze e Martine Grael na classe 49erFX.
As quatro medalhas de prata foram conquistadas por Rayssa Leal no skate street com apenas 13 anos - a mais jovem medalhista olímpica brasileira da história -, por Rebeca Andrade no individual geral de ginástica artística, pela boxeadora Beatriz Ferreira dentro da categoria peso leve até 60kg e pela equipe feminina de vôlei.
Já as medalhas de bronze vieram pela judoca Mayra Aguiar, na categoria até 78kg, e com as tenistas Luisa Stefani e Laura Pigossi nas duplas. Mayra, inclusive, se tornou a primeira brasileira a conquistar três medalhas olímpicas na modalidade individual..
Duda Abreu é o futuro da geração do futebol feminino
A atleta paulista de 11 anos já é uma das promessas da nova geração do futebol feminino brasileiro. Duda trocou o balé pelo futebol e já faz parte do Centro Olímpico, se destacando como meia atacante.
Mas sua história teve percalços desde o nascimento até ser salva pelo esporte.
Duda nasceu no dia 18 de outubro de 2009, com prematuridade extrema, com 24 semanas de gestação pesando apenas 670 gramas. Com 15 dias de vida realizou uma cirurgia de coração e passou 5 meses na UTI Neonatal. Segundo sua mãe, Renata, ela é um milagre. Cresceu forte e saudável, sem sequelas. Os pais tinham preocupação com seu desenvolvimento como um todo, especialmente motor, respiratório e de visão. “Ela lutou muito para estar aqui hoje”, diz a mãe.
Segundo Duda, o futebol a curou totalmente de qualquer problema que a prematuridade possa ter deixado em seu corpo. Apaixonada por futebol desde os seus 4 anos, o esporte ajudou no seu desenvolvimento físico.
Por um sonho da mãe, Duda começou a fazer aulas de balé aos 4 anos. “A sala tinha vista para o campo de futebol onde meu irmão treinava e no intervalo da minha aula eu sempre ia para a quadra, pedia para jogar bola com os meninos e voltava com a roupa toda suja e as vezes até rasgada. Eu corria, rolava no chão, até que a minha mãe decidiu me matricular no futebol”, conta.
Aos seis anos, em 2017, ela começou a treinar na escola Chute Inicial, do Corinthians. Lá ela treinava com os meninos e jogou dos 6 aos 9 anos. Ela disse que no começo os meninos não aceitavam muito a sua presença, mas depois aprenderam a respeitar por ver que ela jogava bem. Em janeiro de 2019, um olheiro a viu treinando e a chamou para participar da peneira do Centro Olímpico. Ela participou de uma peneira com 74 meninas e apenas 5 da idade dela foram escolhidas, incluindo ela. Hoje ela joga futebol de campo na posição ponta/meia atacante, pelo Centro Olímpico. Ela também treina futebol de salão e vai ser federada pelo Santo André.
“Ganhei respeito e admiração por ser uma menina jogando futebol. Agora os meninos me veem como uma boa jogadora, mas já sofri bullying algumas vezes por ser a única menina no meio de tantos meninos em uma partida de futebol. Mas agora eles também querem estar no meu time”, conta Duda.
A jovem atleta tem uma relação muito próxima com jogadoras de futebol do time feminino do Corinthians. Quando treinava com os meninos no clube, jogava ao lado do campo em que o time feminino treinava. Jogadoras como Erika Cristiano, Victória Albuquerque, Tamires Cássia Dias de Britto e Cris Gambaré acompanham sua trajetória e têm amizade com a família de Duda, além de serem algumas de suas inspirações.
Em 2020, uma nova batalha surgiu em sua vida extra campo: a Covid. Ela precisou ficar internada e contou com a ajuda do time feminino do Corinthians durante sua recuperação, através de vídeos das atletas mandando forças para Duda. Hoje, ela está totalmente recuperada e pronta para seguir com seu sonho, que é ser uma jogadora de futebol profissional.
A atleta ainda conta que realizou mais um sonho recentemente, participando da campanha institucional da Vivo, em apoio ao esporte feminino, dentro do projeto #JogueComElas. “O melhor de tudo é que esse trabalho que conquistei tem uma relação forte com esporte, minha primeira experiência não poderia ter sido melhor. No começo eu não criei muita expectativa e foi maravilhoso ser selecionada”, revela.
Paris 2024 terá equidade de gênero
Na próxima edição das Olimpíadas, que será disputada em Paris em 2024, há a promessa do Comitê Olímpico Internacional de ter uma total equidade de gênero. Cerca de 10.500 atletas disputarão um lugar ao pódio, sendo 50% mulheres e 50% homens.
Para atingir a meta, o COI aumentará o número de esportes mistos de 18 em Tóquio para 22 em Paris. Na prática, dos 32 esportes que serão disputados, 28 terão total equidade de gênero. No Japão, a participação feminina chegou a 48,8% do total.
"Com esse programa, nós estamos ajustando os Jogos Olímpicos de Paris 2024 para o mundo pós-Coronavírus. Além disso, estamos reduzindo o custo e a complexidade de sediar os Jogos. Embora alcancemos praticamente a igualdade de gênero já em Tóquio 2020, veremos pela primeira vez na história olímpica exatamente o mesmo número de atletas masculinos e femininos", prometeu Thomas Bach, presidente do COI, em entrevista coletiva.