Porta-bandeira diz que esporte a ajudou superar câncer e brinca sobre retirada de mamas: 'Agora sou mais veloz'
Raquel Kochhan, de 31 anos, é capitã da seleção feminina brasileira de rugby de sete
Quando Raquel Kochhan foi anunciada como dupla de Isaquias Queiroz para o cargo de porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, a grande maioria não sabia quem era a capitã da seleção feminina brasileira de rugby de sete e muito menos a sua história de vida.
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A catarinense de 31 anos superou um câncer no último ciclo olímpico. Após romper o ligamento no joelho, ela descobriu a doença nos seios e uma metástase de câncer raro no osso esterno. Mesmo com o susto, Raquel não deixou o desânimo tomar conta. "Sempre opto por ver o lado bom das coisas, porque acredito que tudo tem um propósito. Foi a oportunidade de olhar para mim, cuidar do meu corpo e descobrir o câncer em fase inicial. Eu poderia demorar mais três anos para descobrir e, talvez, fosse irreversível", declarou em entrevista exclusiva ao Terra.
A comparação com o esporte também ajudou: "Durante todo o processo, desde o diagnóstico do tratamento até a cura, sempre fui muito disciplinada. Assim como dentro de campo, a gente pensa em cada ação, não pensamos se vamos ganhar, perder ou empatar. Pensamos sempre no próximo passo, na próxima função, detalhe por detalhe, o resultado é consequência. E no tratamento isso fez a diferença. Se eu não estivesse bem comigo, com o meu corpo, esse processo demoraria mais."
Mesmo com o ciclo de quimioterapia, Raquel não deixou a rotina de treino. O cansaço e a fadiga eram sintomas que apareciam rapidamente durante as atividades.
O momento mais difícil do processo foi contar para a família sobre a doença. Já com as companheiras de seleção, coube a própria capitã melhorar o clima. "A primeira reação de todo mundo depois que contei foi abaixar a cabeça, ficou aquele clima pesado. Mas aí falei: 'Não quero ver ninguém com cara de tristeza. Façam piada e se divirtam com esse momento'. Foi quando a Isadora Lopes soltou: 'Certeza que você vai correr mais rápido sem os peitos'. Aos poucos, todas caíram na risada. Era o clima que eu queria", lembrou.
O momento de retirada dos seios é sempre um dos mais complicados para mulheres, exigindo muito trabalho psicológico. No caso de Raquel, a realização da mastectomia bilateral foi aceita com maior naturalidade. A mãe também teve câncer de mama e sofreu com a rejeição da prótese de silicone. Com isso, ela não teve dúvidas ao optar por não realizar a reconstrução das mamas.
"Essa [não colocar prótese] já era uma questão para mim. Mas, além disso, eu tinha 'peitões' e vejo que, hoje, ao optar pela mastectomia bilateral, sou uma atleta mais veloz, mais rápida. E me sinto muito bem dessa forma, acho que as roupas caíram bem em mim. Estou feliz com o meu corpo", definiu.
A celebração da maior vitória da sua vida será em grande estilo: desfilando com a bandeira do Brasil no rio Sena. "Nem nos meus melhores sonhos, eu sonharia que um dia seria possível. Com toda a certeza, melhor do que isso, só carregar uma medalha de ouro no peito. É inimaginável, algo tão grande que é meio difícil de cair a ficha."
Raquel ainda vê muita representativa na escolha de uma atleta de rúgbi para o posto e diz que coloca a modalidade na vitrine.