Olimpíadas 2024: Isaquias Queiroz superou perda do rim antes de ser 2º brasileiro com mais medalhas
Ele foi o primeiro do País a conquistar três medalhas em uma só edição, no Rio-2016; na história, está atrás somente de Rebeca Andrade
Isaquias Queiroz não sabe o que é participar de uma Olimpíada sem ser medalhista. Na Rio-2016, foram duas pratas e um bronze. Em Tóquio-2020, veio mais uma, desta vez, ouro. Aos 30 anos, ele foi novamente prata, em Paris-2024, e é o segundo brasileiro com mais medalhas olímpicas, atrás somente de Rebeca Andrade.
Dois anos depois, o atleta deixou o interior da Bahia em direção ao Rio de Janeiro para dedicar-se ainda mais aos treinos. Além de lidar com a mudança, Isaquias precisou digerir a frustração de não ter sido convocado para o Pan-Americano de Guadalajara. Depois disso, porém, foi campeão mundial na Alemanha, ainda em 2013.
A sequência sentimentos estourou em um desabafo publicado por Isaquias no Facebook ainda naquele ano. No texto, ele lamentava não ter recebido gratificação em dinheiro após o título mundial e que pensava em largar o esporte. "Estou pensando seriamente em abandonar a canoagem. Já não aguento mais apresentar bons resultados e não ter mudanças significativas em minha vida", escreveu na época. Após o post, a Confederação Brasileira de Canoagem reconheceu que poderia fazer aprimoramentos, mas reiterou que não havia prometido prêmios a atletas.
Como se sabe, Isaquias continuou. Ainda antes da Rio-2016, em 2014, ele venceu o Prêmio Brasil Olímpico, concedido pelo COB a um atleta destaque. O canoísta também foi escolhido em 2016 e 2017. No ano seguinte, veio um baque. O treinador Jesus Morlán morreu em 2018, vítima de um câncer no cérebro, aos 52 anos. Havia sido ele um dos incentivadores de Isaquias quando o atleta pensou em desistir.
O ouro em Tóquio foi dedicado a Morlán. Hoje o brasileiro é treinado pelo comandante da seleção brasileira, Lauro de Souza Júnior.
Nascido no interior da Bahia, perdeu o pai e ficou sem um rim
Dona Dilma criou nove crianças na cidade de Ubaitaba, a quase 375km de Salvador. Desde 1996, quando o pai de Isaias morreu, a tarefa da matriarca foi solitária. E com mais desafios além da solidão.
Com 3 anos, Isaquias sofreu um acidente em casa e se queimou com água fervente. Foi internado, não teve bom prognóstico, mas conseguiu superar. Outro susto foi quando o filho de Dilma foi tomado por uma conhecida da mãe, com intenção de vendê-lo. Ele tinha cinco anos. O resgate foi feito por Dilma, com ajuda de amigos, no mesmo dia.
Isaquias, aos 10 anos, teve um novo baque. Uma queda de uma árvore danificou o rim esquerdo. O órgão teve de ser removido. Até hoje, o brasileiro precisa estar atento a hidratação.
Os problemas que Isaquias encarou não o colocaram num lugar de desastre. Ubaitaba, chamada de Dubai por ele e amigos, foi onde viveu boa parte de sua vida e desenvolveu laços e costumes, como frequentar os paredões, festas com sons enormes, normalmente atrás de veículos. A cidade baiana é polo do arrocha, gênero musical xodó de Isaquias.
'Sebastian', no nome do filho, é em homenagem a rival alemão
Em 2017, o canoísta virou pai, com o nascimento de Sebastian. O nome é uma homenagem a um ídolo do brasileiro, e também adversário. Em agosto daquele ano, quando o filho nasceu, Isaquias estava na República Checa, para o Mundial. Acompanhou o parto em uma chamada de vídeo. No dia seguinte, ficou com o bronze na prova C1 1.000m. O vencedor foi o alemão Sebastian Brendel, bicampeão olímpico, em Londres-2012 e no Rio.
Também em agosto, mas de 2023, nasceu o segundo filho. O nome escolhido foi Luigi, sem relação aparente com canoagem.
Brendel foi o último colocado na final em Paris, aos 36 anos. Além dele, o checo Martin Fuksa confirmou o auge e foi ouro, quebrando o recorde olímpico da C1 1.000m, com 3m44s16. O bronze ficou com Serghei Tarnovschi.