Simone Biles foi resgatada pelo serviço social dos EUA e entrou na ginástica após 'excursão cancelada'
Norte-americana é a grande rival de Rebeca Andrade nos Jogos Olímpicos de Paris
Simone Biles é hoje o maior nome da ginástica artística não só dos Estados Unidos, mas do mundo. A estrela norte-americana chega como a principal favorita a fazer história nos Jogos de Paris, podendo aumentar seu currículo, que conta com sete medalhas olímpicas –-sendo quatro ouros, uma prata e dois bronze--, e ainda estragar os planos da brasileira Rebeca Andrade.
Dona de nada menos que 30 pódios em Mundiais (sendo 23 deles de ouro, quatro prata e três bronze), a ginasta, que já tem cinco acrobacias batizadas com seu sobrenome --e é a única a conseguir realizá-las-- chega a mais uma olimpíada com agora 24 anos e segue desafiando as leis da gravidade e da sincronia.
Incluída em 2016 na lista das 100 mulheres mais inspiradoras e influentes da BBC, Simone Arianne Biles nasceu em 14 de março de 1997, em Columbus, Ohio, e pesa apenas 47,6 kg. A jovem tem uma história difícil de vida, sendo que, quando tinha apenas três anos, foi resgatada pelos serviços sociais dos EUA da sua mãe Shanon Biles, dependente de álcool e drogas. Enquanto seus irmãos foram morar com a tia, o pai de Simone, Ronald, ficou com ela e a outra irmã menor, Adria. Ele era casado com Nellie, que também assumiu a custódia das meninas –-e hoje é chamada de mãe por elas.
"Quando era mais nova me perguntava o que teria sido da minha vida se nada disso tivesse acontecido. Às vezes ainda me pergunto se minha mãe biológica se arrepende e se queria ter feito as coisas de forma diferente, mas evito me prender a essas perguntas porque não sou eu quem tem que respondê-las", disse Biles a veículos norte-americanos.
Nellie conta a história do primeiro contato daquela que seria a maior ginasta da história com o esporte que a consagraria. A menina tinha apenas seis anos e já gostava de pular e dar piruetas. Um dia, uma excursão da escola teve que ser cancelada e o colégio decidiu fazer um passeio em um centro de ginástica artística no lugar. Espontaneamente, a menina começou a realizar alguns movimentos e a deixar os instrutores impressionados. Não à toa, ela voltou para casa com um bilhete direcionado aos pais: “Já pensaram em colocar sua filha na aula de ginástica?”. Dois anos depois, ela foi descoberta por sua atual técnica, Aimee Borman.
"Um dia ela decidiu que seria uma grande ginasta e desde então fez tudo para atingir esse objetivo", disse Borman à revista Time.
Biles alcançou a fama com apenas 16 anos, em 2013, quando conquistou dois ouros no Campeonato da Antuérpia, sendo um deles o disputadíssimo título geral. Foi nesse campeonato que ela inovou e surpreendeu a todos ao apresentar seu então novo movimento, o Biles.
Já consolidada com quatro medalhas de ouro no Mundial de 2014 e mais quatro em 2015, a norte-americana foi rumo à sua primeira Olimpíada, no Rio-2016. Nesses Jogos, ela arrebatou o ouro nas provas de solo, equipe, salto e individual geral, além de levar o bronze na trave de equilíbrio.
Biles seguiu sua brilhante trajetória levando cinco ouros, incluindo o título geral, no Mundial de Stuttgart, em 2019. Nessa competição, a ginasta apresentou um novo movimento, o Biles II, hoje consolidado na ginástica.
Porém, quando estava no auge, Simone Biles chamou a atenção por outro motivo que não as suas acrobacias exercidas com excelência. Nos Jogos de Tóquio, as expectativas sobre a americana eram gigantes, e ela acrescentou mais duas medalhas olímpicas na sua carreira (prata em equipes e bronze na trave), mas ela desistiu da competição alegando problemas de saúde mental.
O mundo voltou os olhos para a questão e vários debates sobre a pressão a que são submetidos os atletas de alta performance foram gerados. Desde o acontecido, Biles se tornou uma grande voz sobre o tema. "Estou fazendo um esforço maior para cuidar da minha mente e do meu corpo, o que inclui terapia uma vez por semana. As quintas-feiras são meus dias terapêuticos, um momento para mim mesma", explicou ela em entrevista ao Olympics.com, antes de anunciar sua volta ao Campeonato Mundial.
"Sucesso, para mim, significa algo um pouco diferente agora. Antes, todos determinavam o sucesso para mim, embora eu tivesse minha própria narrativa. Agora, trata-se de estar presente, ter um bom estado mental, divertir-se e deixar que aconteça o que tiver que acontecer", concluiu.
Após um tempo longe dos holofotes, Simone ainda foi condecorada com a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Sempre sorridente, marca registrada da ginasta durante suas apresentações, Biles dispensa comparações: "Não sou o próximo Usain Bolt ou Michael Phelps. Eu sou a primeira Simone Biles."
Títulos e feitos Mundiais
Biles se tornou a primeira ginasta da história a conquistar seis títulos mundiais no individual geral, sendo três deles consecutivos: 2013, 2014, 2015, 2018, 2019 e 2023. Ela também tem outros seis títulos mundiais no solo, nos mesmos anos. Também conquistou quatro títulos na trave de equilíbrio (2014, 2015, 2019 e 2023), dois no salto sobre a mesa, em 2018 e 2019, e venceu em equipe, sendo a maior medalhista do campeonato, em 2014, 2015, 2018, 2019 e 2023. Maior medalhista de ouro em Mundiais (23) e recordista de títulos mundiais all-around (6).
Seus movimentos
Biles tem cinco movimentos homologados com o seu nome, sendo dois no solo, um no salto e um na trave. Assim, se torna a segunda ginasta com mais elementos no seu nome, atrás apenas da russa Svetlana Khorkina, que tem oito. A diferença entre elas, é que Biles é a única que já conseguiu executar seus próprios movimentos --mais nenhuma outra ginasta conseguiu replicar o feito.
O Biles do solo
Trata-se de um duplo mortal estendido para trás com uma meia volta. O elemento tem valor G de dificuldade e foi o primeiro homologado pela ginasta no Mundial de 2013. Em seus treinos, Biles já aumentou a dificuldade da acrobacia, fazendo uma ligação do Biles com um mortal simples.
O Biles ll do solo
Esse elemento foi apresentado pela primeira vez no nacional americano de 2019 e homologado no Mundial de Stuttgart, também em 2019. O movimento, que tem valor de dificuldade J, uma das mais elevadas da ginástica, é um duplo mortal grupado para trás com tripla pirueta.
O Biles do salto
O movimento é tão difícil e complexo que nem mesmo a própria Biles executa com frequência. Ela, inclusive, errou o elemento e caiu na final do individual geral do Mundial de 2018, mas ainda assim se sagrou campeã. A acrobacia, que tem seu valor de dificuldade de 6,4 pontos, igualando-se ao Pordunova e tornando-se o mais difícil do código, é uma meia volta na primeira fase do salto com dupla pirueta na segunda fase. A título de curiosidade, o Pordunova é chamado, nada menos, que salto da morte.
O Biles ll do salto
Homologado nos Jogos de Tóquio --competição que a americana abandonou para cuidar da sua saúde mental--, o salto é realizado com a ginasta entrando no aparelho com um Yurchenko (rodante + volta completa com o apoio do trampolim, entrando de costas na mesa de salto) e depois dar dois mortais para trás na posição carpada.
O Biles da trave
Esse elemento pode ser visto no solo de algumas ginastas, mas nunca na saída da trave --exceto se você estiver acompanhado Simone Biles. O elemento de dificuldade H (uma das mais elevadas da ginástica) foi homologado no Mundial de Stuttgart, em 2019, e é uma saída do aparelho com um duplo mortal grupado para trás com dupla pirueta.