Valdileia lembra passado em assentamento do MST e avalia final olímpica: ‘Fui incrível’
Atleta, que cresceu em um assentamento do MST, recebeu a notícia da morte do pai, seu maior incentivador no esporte, na última segunda, 29
Mesmo após sentir uma lesão no tornozelo esquerdo que a impediu de competir na final do salto em altura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Valdileia Martins reconheceu que teve uma grande trajetória durante a competição e afirmou estar orgulhosa de seu desempenho.
A cobertura dos Jogos de Paris no Terra é um oferecimento de Vale.
"Hoje eu me sinto incrível. Acho que fui incrível na Olimpíada. Eu olho os vídeos e penso: 'Eu saltei, eu voei'. Então, eu acho que o pessoal tá orgulhoso desse feito. E [me orgulho por] saber de toda minha história, eu sai de um assentamento, fui para a cidade, fiquei longe da família. [Viver isso aqui] foi maior do que eu imaginava. A minha vinda a Paris, o que eu fiz, nunca imaginei que fosse ter uma repercussão tão grande", celebrou a atleta.
Na sexta-feira, 2, Valdileia sentiu uma dor forte ao executar o segundo salto de 1,95 metros, saindo mancando da pista. “Já saí mancando no segundo salto de 1,95. Fui para a Vila [Olímpica] e tentei me recuperar, mas dois dias é muito curto para uma recuperação completa”, explicou.
Mesmo com um tratamento intensivo que incluiu gelo, laser, bandagens e medicações fortes, a dor persistente a impediu de competir. “Tentei fazer o meu melhor, mas, infelizmente, o meu melhor hoje foi nada. Não consigo saltar, não consigo correr”, lamentou.
Apesar da dor, a determinação de Valdileia a levou a tentar competir. “As pessoas ao meu redor me motivaram a não desistir. Mesmo sabendo da lesão, eu queria tentar até o fim”, disse. No entanto, a lesão a impediu de continuar.
Infância no assentamento do MST
Em entrevista à imprensa, a atleta relembrou seu passado no assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde cresceu. Essa fase da sua vida veio à tona depois de sua classificação para a final e foi revelada pelo UOL.
Após Paris, a atleta comentou sobre como a superação de dificuldades marcou sua carreira. “Saí de casa com 14 para 15 anos e passei por todo o processo até chegar aqui. Saí de um assentamento e cheguei a uma final olímpica. Isso é algo de que me orgulho muito”, refletiu.
Mesmo sem competir na final, Valdileia vê sua participação na Olimpíada de maneira positiva. “Igualei o recorde brasileiro e fui para a final olímpica. Isso era algo pelo qual treinei muito”, afirmou. Ela também destacou a importância do apoio emocional recebido de sua equipe, familiares e fãs, especialmente após a perda recente de seu pai.
A notícia da morte de Israel Martins, aos 74 anos, chegou até ela por meio de familiares na segunda-feira. Ele morreu vítima de um ataque cardíaco e foi um dos maiores incentivadores de Valdileia no esporte, ajudando-a a improvisar materiais para simular provas de salto em altura em sua casa.
"Deus estava me falando que ele iria [partir]. Então é aceitar. É aceitar que ele fez o papel dele de homem. Ele formou pessoas de caráter e cumpriu o papel dele. Ontem eu chorei à noite porque todas as conquistas que eu tinha, eu saia da pista e ligava para o meu pai. Ele era a primeira pessoa que sabia das minhas vitórias, da minha derrota, da minha versão. E quando eu sair de Paris, eu não terei meu pai para poder falar. E ontem eu pensei que não vou ter mais esse momento. Mas aproveitei todos os momentos com ele e agora eu fico com a recordação dele, de um homem de caráter", disse, emocionada.
Valdileia está determinada a superar a lesão e voltar ainda mais forte. “Vou fazer a ressonância para saber a gravidade da lesão, mas estou confiante de que vou me recuperar e voltar a saltar”, disse. Ela também expressou gratidão pelo carinho e apoio recebidos de todo o Brasil. “Recebi inúmeras mensagens de apoio de todo o País, e isso me faz sentir incrível. Sei que sou uma inspiração para muitos, e isso é algo que levarei comigo para sempre”, concluiu.