Beisebol no Canadá tem cambista, muita comida e (pouco) jogo
Terra comparece à última partida dos Blues Jays em casa antes de abertura do Pan de Toronto e relata impressões do confuso esporte
A equipe de reportagem do Terra em Toronto andava pelo centro da cidade e pensava em visitar um aquário local quando se deparou com uma maré azul. Não, não tinha nada a ver com o ponto turístico marinho: eram fãs do Toronto Blue Jays, que se dirigiam em massa para o Rogers Center. O motivo? Acompanhar o último jogo do time no local pela Major League Baseball (MLB) antes do fechamento do estádio para a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2015.
O ambiente ao redor do estádio lembra muito o do futebol brasileiro: comida de rua – no caso canadense, hot dogs, poutines e outros lanches do tipo ao invés do tradicional pernil -, cerveja, fotos e até um pouco de trânsito. Ah, há também aquela praga bem conhecida no Brasil: os cambistas, que abordam todos nas redondezas do palco do jogo. Em conversa com a reportagem, de forma sorrateira, oferecem ingressos a partir de 20 dólares canadenses (R$ 40). Policiais ao redor do estádio confirmam que a ação é ilegal, mas que nada fazem para coibir.
Detalhe: ainda havia venda de tickets nas bilheterias quase sem fila, a partir de 16 dólares canadenses (R$ 40). Sim, ver em cima da hora um jogo da Major League Baseball com o famoso Boston Red Sox envolvido custa menos do que ingressos nas novas arenas do futebol brasileiro. Tudo isso logo ao lado da CN Tower, onde aventureiros se penduravam a uma altura inimaginável no mais conhecido ponto turístico da cidade canadense.
Empolgada com a chance de acompanhar o duelo, a equipe do Terra decide prestigiar o confronto: compra ingressos – os mais baratos, no topo do estádio, claro – e imerge no mundo do entretenimento esportivo americano. Dentro do Rogers Center, o ambiente é totalmente diferente do visto no Brasil, a começar pelos diversos quiosques espalhados pelo lobby antes das cadeiras, com incontáveis opções de comidas, bebidas e de produtos do time da casa.
O caráter de show, contudo, para por aí. O espetáculo antes do jogo não difere em nada do visto nas no Brasil: apenas músicas e interações de fãs com o telão animam os torcedores, ainda em número baixo no estádio para o jogo considerado “premium”. A arena multiuso (realmente, é adaptada para todos os esportes possíveis) com capacidade para 50 mil pessoas sequer lotaria mesmo durante o confronto, apesar do bom público presente. A festa de verdade ocorria nos corredores do estádio e envolvia as mais gordurosas comidas que uma mente da América do Norte pode fabricar.
Mas ok, o jogo começa – não sem antes uma promoção para os Jogos Pan-Americanos com o arremesso de um atleta dos donos da casa que representará o Canadá. Tudo bem, já há atletas arremessando as bolas. Mas espera, não tem nem apito de um juiz? Aparentemente não, do que foi possível ver da altura do ingresso mais barato – com uma boa visibilidade do campo, diga-se de passagem.
Sim, aí os brasileiros no local já começaram a se perder. A partida começou animada, com duas bolas rebatidas para a arquibancada pelo Boston – o famoso “home run”, uma das poucas expressões do beisebol que muitos brasileiros conhecem. Depois disso, contudo.... Tédio, tédio e um pouco mais de tédio. O jogo se tornou arrastado e vários rebatedores deixaram o campo sem sequer um ponto marcado.
Se para os americanos e canadenses a situação já estava chata, você imagina para quem não entende quase nenhuma regra do esporte. Aí o jeito é olhar celular (o wifi para o público geral é melhor até do que os dedicados aos jornalistas no Brasil), tirar foto, postar em redes sociais... Cansou disso tudo? Faça o que os americanos mais fazem durante partidas: coma. Os preços, contudo, são salgados: um hot dog é 5,50 dólares canadenses (R$ 13), uma cerveja (com álcool, claro!) de 473 ml sai por 11,50 dólares canadenses (R$ 29) e uma porção generosa de batata frita não custa menos que 6,25 dólares canadenses (R$ 15).
A impressão dentro do estádio é que nem mesmo os torcedores aguentam o beisebol: o jogo é mais um evento social, com famílias e amigos reunidos. Conversas, risadas e brincadeiras se sobrepõem à tensão e emoção do futebol. Claro que alguns poucos fãs mantêm o olhar atento ao gramado de forma preocupada. Para se ter uma ideia, um jovem casal à frente da reportagem claramente estava no primeiro encontro – e o garoto deixou o estádio sem conseguir sequer investir para dar um beijo na moça.
No beisebol, sequer há os tradicionais gritos de torcidas que até o basquete e o futebol americano usam. O sistema de som tenta empolgar os torcedores uma vez ou outra, mas não embala. Para manter a mente de quem está no estádio ocupada, há uma estratégia excelente: a cada intervalo do jogo, surge o mascote local com alguma brincadeira maluca interativa com os torcedores que culminava em uma distribuição de prêmios.
Eis que na arquibancada surge um cheiro conhecido nas arenas do Brasil: maconha. Ao lado, três jovens davam risada, se achando os maladrões com um cigarro eletrônico com essência da droga. Só essência. Realmente nunca devem ter pisado em um estádio brasileiro. No local, inclusive, boa parte do público, que durante o jogo não parava de se movimentar, foi embora embriagada - talvez só assim aguentaram assistir ao duelo.
Mais uma coisa que você talvez não saiba sobre uma partida de beisebol: ela é longa. Muito longa. Passada uma hora e meia do jogo em andamento, a reportagem não tinha ideia do placar e não entendia os números do telão. O que fazer para não pagar mico? Aplaudir quando todos aplaudem, vaiar quando todos vaiam.
Três horas de beisebol, contudo, foram suficientes. O Terra deixa o local antes do fim da partida (modinhas!). Não sem antes mais uma experiência louca do entretenimento americano assustar os brasileiros: eis que o mascote, uma espécie de passarinho azul, adentra o elevador utilizado para sair. Loucura? Fica maior após o bicho dar de presente uma capa de chuva da equipe local.
Era realmente hora de ir embora. E hora de o Rogers Center fechar para a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, no próximo dia 10 de julho. O próximo jogo em casa dos Blue Jays, em quarto lugar entre cinco de sua divisão, ocorre apenas em 19 de julho. Ah, o placar? A reportagem do Terra só descobre ao voltar para o hotel: 12 a 6 para o Red Sox. Para piorar, pé frios.