Ninguém se importa? Canadenses enchem “soccer” no Pan
Hamilton Stadium, a 80 km de Toronto, recebeu grande público para jogo Brasil x Canadá pelo Pan 2015
Quem disse que os canadenses não se importam com os Jogos Pan-Americanos de 2015 ou com o futebol – desculpa, aqui “soccer”? No último domingo, o novíssimo Hamilton Stadium ficou quase lotado para acompanhar o duelo masculino entre Brasil e Canadá, pela primeira rodada do esporte em Toronto 2015. A partida contra a mundialmente conhecida Seleção Brasileira, que conta com nomes bastante alternativos no Pan, era “imperdível” para os locais.
A arena, que ainda tem a alcunha tradicional de multiuso, fica em uma cidade a 80 km de Toronto, onde o Pan é realizado. É praticamente uma “Campinas menor” do Canadá, já que conta com o número até alto de 520 mil habitantes. Boa parte deles – assim como moradores de Toronto no eficiente transporte público local que liga as cidades da região – se dirigiu para o “sunday night soccer”.
O entorno do estádio, que não teve o publico oficial divulgado, mas que contou com no mínimo mais do que 20 mil pessoas, não tem nenhuma agitação: é claramente um daqueles típicos subúrbios canadenses, com casas padrão, jardins e silêncio. A região ao redor do local é bastante arborizada, inclusive com uma montanha próxima, e não há prédios. A paz das redondezas foi trocada pelos jogos do Pan, pelo menos nesta sexta - o duelo feminino entre os dois países promete mais muvuca ainda.
Ao contrário do Brasil, não há vendedores fora do estádio – apenas uma mulher tentava desencalhar bandeiras do Brasil e do Canadá, ao preço de 5 dólares canadenses cada (R$ 12,50). Cambistas? Só um, que tinha muitas dificuldades em fazer negócios. O transporte para o local era de causar inveja: ônibus escolares – sim, daqueles amarelinhos de filmes americanos – buscavam as pessoas em centrais de ônibus e pontos por toda a cidade para deixar na porta. Exatamente, na porta da arena.
O jogo “premium” entre Brasil e Canadá levou um excelente público – muito maior que a maioria das partidas do Campeonato Brasileiro - tanto por parte dos locais quanto dos visitantes. Toronto conta com 50% dos cidadãos nascidos fora do Canadá e, consequentemente, a região é cheia de brasileiros, ainda com muitos intercambistas. Camisas amarelas competiam acirradamente com as vermelhas, e havia até bandeiras mistas entre os dois países. Uniformes de Corinthians – e muitos gritos de “Vai, Corinthians” -, Coritiba, Flamengo, São Paulo, Cruzeiro, Atlético-MG e Grêmio foram avistadas.
Dentro do estádio – de gramado sintético, diga-se de passagem –, o “padrão Fifa” está presente. A área dedicada à imprensa é gigante, até com televisões individuais para jornalistas. O espaço enorme, fechado por vidro e com ar condicionado, é melhor do que qualquer estádio do Brasil, inclusive os da Copa em que a reportagem já esteve presente. Tudo isso apenas para o repórter do Terra e uma jornalista de Toronto.
Da mesma forma, a arena conta com tradicionais elementos americanos. Um repórter no meio da torcida entrevistava espectadores – inclusive com gafes de perguntar se alguém assistiu ao Pan no dia anterior e duas crianças responderem não. Nos corredores do estádio, não faltavam comidas gordurosas e bebida alcoólica. Sim, não só cerveja, como também vodka, gim, rum, uísque, vinho, entre outras.
O chato do espetáculo para um brasileiro, claro, fica por conta da torcida. Apesar do grande número, cânticos são tímidos – assim como jogo da Seleção Brasileira em território nacional, vale lembrar. Os brasileiros ensaiavam seus gritos de “eu sou brasileiro”, enquanto o hino canadense à capela foi o ponto alto dos locais. De resto, parecia um jogo escolar com gritos vez ou outra de “Bra-sil!” ou “Canadá!”. No gol do Canadá, contudo, o estádio tremeu. O curioso é que a educação canadense vaiava até faltas fortes cometidas pelos donos da casa.
A equipe do Canadá pode ter decepcionado em campo, mas ao menos não há raiva fora dele. Para os torcedores, muito mais do que a partida em si, o que vale é o ambiente de entretenimento “fora de casa”. Aí, até mesmo um jogo do nem tão amado soccer no também não muito popular Jogos Pan-Americanos vale.