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Jogos Pan-Americanos

"Menininhas"? Ciclistas não temem homens e fazem bonito

Brasileiras do BMX têm ar angelical, mas jogam duro nas pistas até quando têm competições com homens

13 jul 2015 - 19h36
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Do alto da rampa de largada do circuito de BMX em Toronto, há uma fileira de atletas que exalam tensão e cara feia para assustar a concorrência. Todos de capacete, não é possível identificar o rosto. Após a largada, a situação não é diferente: há jogadas sujas e imposição de força em um esporte radical. A surpresa vem após a linha de chegada. Ainda com exaustão dos 30 segundos intensos, os capacetes são retirados e o que surgem são cabelos longos presos e trançados, que compõem o visual de belas jovens de rosto angelical.

Neste cenário, estão inclusas Priscila Stevaux, 21 anos, e Thaynara Chaves, 20 anos, as duas principais atletas da modalidade, que fizeram bonito no Pan e bateram na trave por medalhas. A vida de ambas não é fácil: como o esporte é pouco difundido no Brasil, muitas vezes são obrigadas a treinar e competir em campeonatos regionais com homens, situação que o Terra já relatou. Sim, com homens. E sem nenhum privilégio.

“Os homens são mais agressivos. Têm umas manhas de curvas muito boas. No começo, tinha preconceito, agora eles já acostumaram. Mas eles vão fazer de tudo para eu não ganhar porque fica feio. Alguns até falam: ‘poxa, maior disputa com a Priscila porque ela fez campeonato mundial, é da Seleção’, dão um valor grande. Mas nenhum homem gosta de perder para mulher”, relatou Stevaux.

A situação insólita é confirmada por Thaynara, que vê até benefícios em ficar lado a lado com os meninos. “Eles (homens) vão para cima sim. Treinar com homens é sempre bom, porque com as meninas vai ser igual, vão jogar para cima. O bom de treinar com homens é isso, a gente já se prepara para o que acontece na corrida”, contou.

 

Marrentinho 😌

Uma foto publicada por Thaynara (@morosinibmx130) em

Como a Seleção Brasileira do esporte, que é olímpico e estará no Rio de Janeiro em 2016, só tem três meninas e o restante é formada por homens, os treinos nacionais também são mistos, sem alívios para as garotas. A tática, ao menos, deu certo: Priscila bateu na trave por uma medalha e ficou em quarto lugar, enquanto Thaynara ficou a uma posição de avançar para as finais do Pan, que conta com as principais competidoras da categoria como a colombiana campeã olímpica Mariana Pajón.

E como essas “menininhas” foram parar no esporte bruto?

A história de como Thaynara e Priscila adotaram o BMX mostram a importância da família na formação do atleta. Enquanto a capixaba que ficou fora das finais nem sabia andar de bicicleta quando adotou o esporte, a paulista de Sorocaba quarta colocada no Pan foi na onda do irmão mais velho, que hoje em dia é seu treinador. 

“Foi tudo espelhado no meu irmão. Tudo o que ele fazia eu queria fazer igual desde pequena, ele era minha inspiração na vida, até meio irritante por isso. Certo dia meu pai passou em frente a uma pista de BMX em Sorocaba, meu irmão gostou e se interessou e eu falei ‘pai, também quero’”, relatou Priscila.

Veja bastidores da montagem de espaço do COB para atletas:

“Eu tinha seis anos de idade, nasci no ES e fui para Minas para meu pai trabalhar. Nisso tinha um velotrolzinho, descia o morro atrás da casa da minha vó a milhão. Aí um amigo do meu pai ficou abismado com o que eu fazia e disse que tinha uma pista de cross perto de onde a gente morava. Tinha uma competição na época e gostei, mas não sabia nem andar de bicicleta“, contou Thaynara.

Ambas mal sabiam o nível que chegariam: o sonho de disputar a Olimpíada de 2016 em casa está logo ali. Mesmo com a aparência de menininha (“só a aparência”, brincou Thaynara), elas são mais gigantes ainda ao se afirmarem na modalidade sem patrocinadores próprios: ambas contam com recursos federais e do COB para buscar vitórias para o Brasil. Pela atitude dentro das pistas e fora delas, podem ir longe. 

Fonte: Terra
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