Ela tinha tudo para ser traficante, mas levou bronze no Pan
"O esporte mudou minha vida", diz Iris Sing, que sofreu forte resistência da mãe justamente por escolher ser lutadora de taekwondo
Se tem uma coisa que Iris Sing sempre fez, foi acreditar. Sua mãe não queria que ela virasse atleta do taekwondo. A garota não conhecia muito do esporte. Chegou a ser expulsa de casa por causa da modalidade em que está. O apoio de seu treinador Diego Guimarães e sua força de vontade, contudo, levaram a carioca de Itaboraí longe. Tão longe que agora ostenta no peito uma medalha de bronze no Pan, muito melhor do que cair na marginalidade de seu bairro.
“Tinha tudo para ser traficante, bandida, estar cheia de filho igual muitas lá (em Itaboraí) estão. Mas o esporte mudou minha vida. Hoje agradeço a Deus por ter colocado na minha vida o taekwondo e o Diego, que nunca me deixou desistir. Já tinha pensando várias vezes em desistir porque ela (mãe) falava, eu não conhecia ninguém, não sabia o que era taekwondo. Ele (técnico) falava ‘vamos’, e foi”, comentou Iris, após vencer luta contra a canadense Yvette Yong.
Quando fala da mãe, de nome Marli, Iris adota um tom irônico. A matriarca sempre odiou ver a filha no esporte e queria que a garota fosse trabalhar em um mercado, no qual enxergava mais futuro para a menina. A teimosia de Iris fez ela sair de casa, morar com uma amiga até ver a colega se casar e acabar no quintal de seu treinador, onde também funciona uma academia. A medalha, Iris espera, renderá pelo menos um parabéns.
“Ela (mãe) vai me dar os parabéns, vai dizer que sabia. Mas quando eu precisei ela não me apoiou. Quando eu chegava em casa e perdia o campeonato, ela falava ‘bem feito, desiste disso’. Hoje ela vai me dar os parabéns”, falou Iris, com voz recheada de orgulho pela conquista mesmo com a torcida em peso a favor da canadense na decisão do bronze. “Vou encontrar ela, mora perto de casa. Vou lá mostrar a medalha para ela. Aqui (bate no peito com força)!”, adicionou.
Na comemoração enquanto concedia entrevista, Iris só virava as costas por dois motivos: acompanhar o outro brasileiro no dia, Venilton, lutar pelo bronze e para apontar para o técnico na arquibancada e cravar: “essa medalha é dedicada a ele”. Mais do que isso, a medalha é uma resposta para os moradores de seu bairro em Itaboraí, Porto das Caixas.
“Essa medalha vem com muito suor, muito choro, muita lágrima, muito sacrifício de estar aqui. Eu saí de Porto das Caixas, lá da cidade de Itaboraí. Isso representa que de onde eu saí pode sair muito mais. É para mostrar para aquele povo lá que mesmo o lugar sendo pequeno, mesmo sendo interior, dá para conseguir com muita força de vontade e determinação”, exaltou.
A esperança de que seu bairro, que no passado era pacato, mas agora está mais "violento", possa render futuros talentos para o esporte brasileiro não está só nas palavras de Iris. A garota já tem um programa social mesmo aos 24 anos, denominado Projeto Iris. Ensina o esporte para as crianças, mas ainda sofre preconceito de pais que tiram as crianças das aulas. Será que a medalha de bronze no Pan muda o cenário?
“Eu dou aula, tenho o Projeto Iris, sou madrinha. Amo dar aula para crianças carentes, tem 70 crianças. E eu falo para eles: ‘olha onde cheguei’, agora podem olhar a medalha. Tudo para motivar eles. Hoje não faço por dinheiro, dinheiro é consequência. Faço pelas crianças. Os pais tiram as crianças do taekwondo, preferem que fiquem na rua”, relatou.
Se Íris deixa uma lição no Pan de Toronto, é: em alguns casos, acreditar – e treinar duro – pode dar certo. Mesmo que até a mãe reme contra a maré.
Ranking Geral | País | Ouro | Prata | Bronze | TOTAL |
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1 | Estados Unidos | 59 | 53 | 48 | 160 |
2 | Canadá | 54 | 48 | 40 | 142 |
3 | Brasil | 30 | 28 | 41 | 99 |
4 | Colômbia | 24 | 8 | 22 | 54 |
5 | Cuba | 23 | 18 | 26 | 67 |
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