Com novos planos, Poliana Okimoto se despede da natação profissional
Emocionada, a maratonista aquática contou que vai se dedicar a uma clínica de natação em São Paulo, organizar a primeira travessia no mar com seu nome e ser mãe
Após 32 anos de carreira, Poliana Okimoto se despediu do esporte profissional nesta segunda-feira, em seu clube, o Unisanta, em Santos (SP). Longe das competições, a medalhista olímpica de maratona aquática está decidida a se dedicar a sua vida pessoal, a clínicas e a projetos sociais, estimulando crianças a se dedicar a maratonas.
- Minha missão está muito está bem cumprida. Não tenho mais o apoio que tinha de meus patrocinadores em São Paulo, onde moro. Não treino em Santos e não consigo ter a estrutura que a Unisanta oferece aqui. Perdi minha equipe multidisciplinar, comecei a treinar mal, a ter maus resultados - explicou Poliana, que completa:
- Se eu ficasse em quarto lugar em uma competição, o que é um bom resultado, seria muito ruim para mim. Como sou perfeccionista, teria que me dedicar em dobro. Prefiro não fazer se for para fazer mal feito.
Após a Rio-2016, Okimoto foi uma dos muitos atletas que sofreram com perda de patrocínios. Sem o apoio dos Correios, a nadadora chegou a precisar tirar dinheiro do próprio bolso para pagar sua equipe.
Além dos motivos profissionais, Poliana quer ser mãe. Ela é casada há dez anos com seu técnico e marido, Ricardo Cintra.
-Se fosse o contrário, eu, a técnica e ele, o nadador, não teríamos problemas - brincou.
Ao assistir um vídeo feito pela Santa Cecília TV, a maratonista foi às lágrimas. Ela aproveitou para agradecer o apoio da Unisanta e a todos os que confiaram nela. Lembrou os treinos, as viagens de madrugada, os desafios, como vencer seu medo do mar, a prova em que nadou com o tímpano perfurado e foi vice-campeã mundial, a maratona em que competiu desidratada, em 2014, quando foi campeã.
- Foram momentos difíceis, mas muito prazerosos. Agradeço a todos os técnicos que me ajudaram desde o começo, a todos os adversários que me ensinaram a me tornar mais forte. Desde os 2 anos não saio da água, vai ser difícil me tirar da água.
A maratonista olímpica faz questão de dizer que está muito feliz com sua decisão e com tudo que viveu no esporte e aprendeu com ele, como a resiliência, a dedicação e a tirar proveito das coisas negativas. Lamentou a situação pela qual o esporte passa no Brasil, dificuldades que começaram antes das Olimpíadas. Mas há fatos positivos, afirmou.
- O Brasil sempre foi o país só do futebol, agora a natação tomou vulto.
Ricardo Cintra, seu técnico, disse que Poliana está saindo no momento certo, embora tenha fisicamente condições de buscar mais uma medalha nas olimpíadas em Tóquio.
- Ela realizou seus sonhos e os meus também. Se ela quiser voltar um dia a competir, terá meu apoio.
O Pró-Reitor da Unisanta, Marcelo Teixeira, sonha com a mudança de ideia da maratonista, para que ela participe do ciclo Tóquio-2020.
- Eu ainda acredito que eu consiga demover a minha campeã e o meu treinador dessa decisão de paralisar suas atividades esportivas. Comecei uma conversa e acho que vou estender um pouco mais para que eu consiga, na minha condição de dirigente e amigo, sensibilizar a consciência e o coração do nosso casal para que eles mantenham o projeto olímpico de Tóquio-2020
Caso o projeto Tóquio-2020 realmente se encerra, será o início de um projeto acadêmico, esportivo e social, visando aproveitar todo o conhecimento de Poliana e de Cintra. O objetivo é descobrir novos talentos e dar a eles oportunidade.
Teixeira aproveitou para anunciar que uma das piscinas no complexo será batizada com o nome da maratonista.
- Nesse instante, gostaria também de informar, algo que para nós é muito importante, que também perpetuará o nome da nossa grande campeã. Nós já temos a piscina olímpica batizada com o nome de Wilson Silva Castro, nosso querido Bagdá, e hoje, anunciamos que a piscina de apoio, a nossa piscina semiolímpica aquecida. levará o nome de Poliana Okimoto.
Poliana tem uma carreira repleta de títulos. Nos Jogos Pan-Americanos Rio-2007, ganhou a primeira medalha do Brasil na competição. Em 2009, Poliana conquistou nove das 11 provas disputadas nas etapas da Copa do Mundo da FINA.
No Mundial de Barcelona (2013), foi a primeira e única brasileira a ser campeã na prova olímpica dos 10km e também foi prata nos 5km e bronze nos 5km por equipe. Além disso, em 2009 e 2013, ela foi eleita, pela Federação Internacional de Esportes Aquáticos (Fina), a Melhor Nadadora de Águas Abertas do Mundo.
Nste ano, o nome de Poliana Okimoto passou a integrar o Hall da Fama das Maratonas Aquáticas, um reconhecimento mundial da International Marathon Swimming Hall of Fame (IMSHOF). Poliana, medalhista de bronze na Rio-2016, é a primeira nadadora brasileira a ser incluída no grupo seleto de notáveis atletas de várias partes do mundo.