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Lutas

Miguel de Oliveira, campeão mundial de boxe, morre aos 74 anos

Pugilista faleceu nesta sexta-feira vítima de um câncer no pâncreas, em São Paulo. Na carreira, ganhou destaque pela força e inteligência para derrotar os adversários

15 out 2021 - 10h13
(atualizado às 17h56)
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Miguel de Oliveira, campeão mundial dos médios-ligeiros do Conselho Mundial de Boxe em 1975, morreu nesta sexta-feira, em São Paulo. O boxeador estava com 74 anos e sofria de câncer no pâncreas, doença diagnosticada há três meses e que o levou à internação em um hospital da zona sul da capital paulista para tratamento quimioterápico.

Sempre com a voz baixa, simpático e muito acessível, Miguel de Oliveira foi uma das pessoas mais especiais do boxe brasileiro. Como pugilista, se destacava pela força nos punhos e na inteligência para encontrar a melhor tática para enfrentar seus adversários. Era calculista, estudioso e frio nos combates.

Ele parou de lutar ainda jovem, aos 28 anos, por não ter mais "motivação" para encarar os treinos diários com a dedicação que um esporte tão duro como o boxe exige. Retomou a carreira aos 33 anos, sem o mesmo entusiasmo.

Miguel foi campeão dos médios-ligeiros em 1975, ao bater o espanhol Jose Manuel Duran Perez, por pontos, após 15 assaltos, em decisão unânime dos jurados, em Mônaco, para ficar com o cinturão do Conselho Mundial de Boxe.Seu rival era campeão europeu.

Pendurou as luvas com 46 vitórias (28 nocautes), cinco derrotas e apenas um empate. Além de boxeador, Miguel de Oliveira também foi treinador e comandou o peso pesado Adilson Maguila Rodrigues entre os anos de 1986 e 1988, quando o boxeador obteve importantes vitórias sobre Daniel Falconi e Andre Van Den Oetelar.

Fora do boxe profissional, Miguel foi maratonista e instrutor de boxe em uma importante academia de São Paulo por mais de três décadas.

Paulista da cidade de São Manuel, onde nasceu em 30 de setembro de 1947, havia disputado por dois anos consecutivos o título mundial de boxe, em 1973 e 1974, perdendo nas duas vezes que antecederam seu grande triunfo de 1975. Antes, havia sido campeão brasileiro de boxe, em 1970.

Miguel era formado em Educação Física e tinha sorriso fácil e cativante. Era filho de um lenhador. Sua mãe lavava roupas para fora, enquanto ele fazia trabalhos de engraxate. "Nos finais de semana, eu ia com uns amigos assistir filmes no cinema e uma vez vi o filme da conquista do título mundial do Eder sobre o Eloy Sanchez, em 1960'', contou sobre sua opção pelo boxe.

Miguel disse que foi para casa, pegou um saco de estopa, lotou de areia, jabuticaba e passou a socar como um "louco", imitando o ídolo. "Para não machucar a mão, peguei um monte de meias nas gavetas e coloquei dentro do saco", divertia-se.

Mas Miguel só foi ter contato verdadeiro com o boxe aos 14 anos, quando foi morar com a irmã e o cunhado, que o levou para trabalhar na fábrica na qual era motorista. No local, havia uma academia de boxe, onde ocorreram os primeiros treinamentos.

Em seis meses, Miguel conquistou o primeiro título amador, seguido pelo campeonato paulista, brasileiro e o da tradicional Forja dos Campeões. Ele se profissionalizou em 1968, após não ser escalado para a Olimpíada do México.

Personalidades do boxe lamentam a perda de Miguel de Oliveira

Servílio de Oliveira, medalha de bronze naquela Olimpíada, lamentou a morte do campeão. "Conheci o Miguel em 1965, na cidade de Registro, no interior de São Paulo. Viajamos para o pan-americano de Winnipeg e para o latino-americano em Santiago do Chile, em 1967. Em 1968, estivemos em Roma para ver João Henrique desafiar o italiano Bruno Arcari pelo título mundial. Convivi muitos anos com ele e nunca ouvi de sua boca uma palavra de desleixo. Miguel de Oliveira era íntegro. O boxe e o Brasil perdeu um grande cidadão", disse.

Acelino Popó Freitas também ficou consternado. "Lamento profundamente o falecimento do nosso Campeão Mundial de Boxe, meu amigo Miguel de Oliveira. Com um excelente cartel e grandes lutas na carreira, Oliveira fez história ao conquistar o cinturão WBC Super Meio Médio em 1975'', escreveu. "Acima de todas as grandes conquistas, sempre foi um ser humano incrível, extraordinário, inspirador. Um grande campeão dentro e fora dos ringues. Meus sinceros sentimentos à família. Descanse em paz, grande campeão!"

Estadão
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